Augusto Nunes
Brasileiro tem memória curta, logo esquece gatunagens protagonizadas por larápios influentes, concluíram os quadrilheiros do mensalão desde que Lula sobreviveu ao escândalo descoberto em 2005 e reelegeu-se no ano seguinte.
Brasileiro vive engolindo sem engasgos caciques da tribo que rouba mas faz, acreditaram nos últimos sete anos os sócios do grande clube dos cafajestes disfarçado de Congresso e financiado pelo Planalto.
A pátria de Macunaíma celebra heróis sem caráter desde a chegada das primeiras caravelas, provaram ensaios mambembes paridos por sociólogos com mais livros que neurônios na cabeça.
No país do jeitinho, só otários de nascença agem honestamente, ensina desde o primeiro assalto aos cofres públicos o hino da Frente Nacional dos Ladrões, Vigaristas e Canalhas em Geral.
A menos que a economia sofra algum enfarte, delinquentes de todos os partidos serão absolvidos pelas urnas mesmo se furtarem a poupança da avó ou o cofrinho da igreja da Candelária, garantiram analistas de pesquisas tão confiáveis quanto um parecer do consultor Palocci.
Candidato que denuncia bandalheiras alheias fica com imagem de briguento e despenca nas pesquisas, descobriram marqueteiros que erram até na combinação terno-e-gravata.
Combater a roubalheira nunca rendeu voto, o que decide eleição é programa de governo, endossou a oposição que não se opõe desde 2002. Melhor compor que lutar, vêm balbuciando poltrões promovidos a líderes oposicionistas por falta de coisa melhor: na Era da Mediocridade, os melhores e mais brilhantes são perseguidos como as ratazanas grávidas de Nelson Rodrigues.
A Ópera dos Embusteiros seguiria seu curso se um juiz de verdade não atravessasse a partitura com a protofonia da Constituição e os acordes do Código Penal.
Designado relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa limitou-se a cumprir seu dever. Analisou provas, evidências e depoimentos, examinou os argumentos das partes envolvidas, enxergou as coisas como as coisas são, contou o caso como o caso foi, eviscerou o esquema criminoso e, amparado na lei, deixou claro que corrupção dá cadeia.
Tanto bastou para virar celebridade nacional, atesta o segundo vídeo estrelado pelo relator do mensalão, que está logo a seguir. A reação de milhões de brasileiros demonstra que o que parecia desinteresse era descrença. Muito mais que a carência de heróis, é a fartura de ladrões impunes que transformou Joaquim Barbosa em ídolo da imensidão de indignados.
Sem ter feito mais que a obrigação, um ministro sem medo tornou-se campeão de popularidade. E o julgamento de José Dirceu nem começou.
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