segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

CUMPRINDO O DOLOROSO DEVER...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


               De repente, não mais que de repente,Iemanjá levou com flores, o meu amor para o mar...
               Hoje é um dia triste...chego do plantão,procuro quem toda hora me esperava no portão:
         o meu bicho de pelo...
fofa,faceira,belíssima...
               Vislumbro do carro o seu vulto branco, parado , inerte,rijo...era chegada a hora temida:perder a minha cachorra de estimação...
é verdade: Cecília morreu...
               O dia mais triste de um homem ,romântico, poeta, é o dia da morte do seu cachorro...
               Quando um humano morre, resta-nos a esperança de um novo encontro, um dia...esta esperança é fundamentada pela fé...porém quando morre o nosso cachorro, o Adeus é eterno...é pra sempre mesmo...uma realidade tão absurda, que até o Papa Francisco questionou este ano: será que existe um céu para os cachorros?
          Na vida se carrega duas maletas: uma ,  a maleta de ferramentas a outra, a maleta de brinquedos...
          Na maleta de ferramentas você carrega o que lhe promove, é o lado interesseiro, de sobrevivencia:
é o estudo, o curso de medicina,a residencia médica, a casa, o carro...
          Na caixa de brinquedos levamos o que nos faz sentir, usufruir, ser feliz de dentro para fora: o amor, a lembrança, a saudade, o bem querer,os detalhes da natureza, a poesia...
               Minha caixa de brinquedos foi sangrada,assaltada,mexida indevidamente...é uma dor extrema...lancinante, pois ninguém mexe na caixa de brinquedos, tira um dom , sem mexer com os outros...
               Vinícius de Moraes comparava o cachorro da gente com o wisKhie:
          O  wiskhie é o cachorro  da gente engarrafado...o poeta tinha uma grande caixa de brinquedos na alma...posssuía esta dimensão...era tão cheio , de poder ficar vazio...
               Feliz do homem que chega na terceira idade usando a sua caixa de brinquedo, necessitando dela para abastecer o seu espírito...este vai morrer criança...é este o segredo dos poetas...
vivem como crianças...
são devotos do seu cachorro...
               Cecília, minha doce Cicil, nasceu em 6 de janeiro de 2006 e morreu em 2 de fevereiro de 2015...
viveu nove anos...
               Entre uma data e outra,todos os seus dias foram meus... não existiu instantes sem a gente.
               CECÍLIA NÃO ME DEIXOU HERANÇA...nem contra cheque, nem poupança, nem fazenda, nem brasão...apenas uma vasilha de água e a de ração, mas para mim ela era tudo...
               Natal hoje, para mim, está bem maior do que Tókio.





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