sábado, 28 de fevereiro de 2015

OZI DOS PALMARES E CHICO BEZERRA: MUSICAS NORDESTINAS DE PRIMEIRA




FILOSOFIA...

"Se você estiver escutando com toda sorte de preconceitos, essa é a maneira errada de escutar; esse é realmente o modo de não escutar. Você parece estar escutando, mas você está só ouvindo, não escutando. Escutar corretamente significa que você deixou de lado sua mente. Isso não quer dizer que você tornou-se ingênuo, que você começou a acreditar em tudo que é dito a você. Isso não tem nada a ver com crença ou descrença. Escutar corretamente significa, “Eu não estou agora mesmo preocupado se acredito ou não acredito. Não existe a questão de concordar ou discordar nesse momento. Estou simplesmente tentando escutar seja lá o que for. Mais tarde posso decidir o que está certo ou o que está errado. Depois posso decidir se devo seguir ou não seguir.
E a beleza do escutar corretamente é essa: que a verdade tem sua própria música. Se você puder ouvir sem preconceito, seu coração irá dizer que isso é verdade. Se isso for verdadeiro, um sino começa a tocar em seu coração. Se não for verdadeiro, você permanece separado, despreocupado, indiferente; nenhum sino toca em seu coração, nenhuma sincronicidade ocorre. Essa é a qualidade da verdade: que se você escutá-la com um coração aberto, ela imediatamente gera uma resposta em seu ser – seu próprio centro é elevado. Asas começam a crescer em você; subitamente o céu inteiro é aberto.
Não é uma questão de decidir logicamente se o que está sendo dito é verdadeiro ou inverídico. Pelo contrário, é uma questão de amor, não de lógica. Verdade imediatamente cria um amor em seu coração; alguma coisa dispara em você de uma maneira bem misteriosa.
Mas se você escutar erradamente – isto é, cheio de sua mente, cheio de seu lixo, repleto de seu conhecimento – assim você não irá permitir seu coração responder a verdade. Você irá perder a tremenda possibilidade, você perderá a sincronicidade. Seu coração estava preparado para responder a verdade… ele só responde a verdade, lembre-se, ele nunca responde ao falso. Com o inverídico ele permanece inteiramente silencioso, impassível, indiferente, quieto. Com a verdade ele começa a dançar, começa a cantar e os lótus se abrem, e a terra inteira é despertada."
( Osho )

POESIA POPULAR...

Poeta paraibano Manoel Xudu Sobrinho (1932 – 1985)
Numa meia construção
Eu fui trabalhar de meia
Com meia lata de areia
Meio metro alto do chão
O dono meio enrolão
E eu também meio tolo
Ele me deu meio tijolo
Com meio metro de linha
E na construção só tinha
Meia pedra e meio tijolo.
* * *
Nessa vida atribulada
O camponês se flagela
Chega em casa meia noite
Tira a tampa da panela
Vê o poema da fome
Escrito no fundo dela.
* * *
Deus querendo, todos comem
Que um dia Ele pregando
Mais de cinco mil pessoas
Que estavam lhe observando
Com cinco pães e dois peixes
Comeram e ficou sobrando.
* * *
Eu admiro muito o padre
Que seu conselho tem luz
Toda sua pregação
Nasce nos braços da cruz
Massa de trigo em mãos dele
Vira corpo de Jesus.
* * *
Uma galinha pequena
Faz coisa que eu me comovo:
Fica na ponta das asas
Para beliscar o ovo,
Quando vê que vem sem força
O bico do pinto novo.
* * *
Quanto é bonito a vaca
Se destacar do rebanho,
Dando de mamar ao filho
Quase do mesmo tamanho,
Lambendo as costas do bicho
Porque não sabe dar banho.
* * *
Sou igualmente a pião
saindo de uma ponteira
que quando bate no chão
chega levanta a poeira
com tanta velocidade
que muda a cor da madeira.
* * *
Voei célere aos campos da certeza
E com os fluidos da paz banhei a mente
Pra falar do Senhor Onipotente
Criador da Suprema Natureza
Fez do céu reino vasto, onde a beleza
Edifica seu magno pedestal
Infinita mansão celestial
Onde Deus empunhou saber profundo
Pra sabermos nas curvas deste mundo
Que Ele impera no trono divinal.
* * *
O homem que bem pensar
Não tira a vida de um grilo
A mata fica calada
O bosque fica intranqüilo
A lua fica chorosa
Por não poder mais ouvi-lo.
* * *
Sou vulcão, pela cratera,
Suas lavas vomitando,
Sou um trovão estrondando
E corisco na atmosfera.
Meu bigode é de pantera,
Meu rosto não é bonito,
Mas tentação do maldito
Não desmantela o que eu faço.
Eu sou martelo de aço
E você pedra de granito.
* * *
Poesia tão linda e soberana
E tão pura, tão branca igual a um véu…
Está na terra, no mar, está no céu
E no pelo que tem a jitirana.
Ela está em quem vive a cortar cana
Quando volta pra casa ao meio dia…
Está num bolo de fava insossa e fria
Que um pobre mastiga com lingüiça.
Está na paz, no amor e na justiça
O mistério da doce poesia.
* * *
O mar se orgulha por ser vigoroso
Forte e gigantesco que nada lhe imita
Se ergue, se abaixa, se move se agita
Parece um dragão feroz e raivoso
É verde, azulado, sereno, espumoso
Se espalha na terra, quer subir pra o ar
Se sacode todo querendo voar
Retumba, ribomba, peneira e balança
Não sangra, não seca, não para e nem cansa
São esses os fenômenos da beira do mar.
O próprio coqueiro se sente orgulhoso
Porque nasce e cresce na beira da praia
No tronco a areia da cor de cambraia
Seu caule enrugado, nervudo e fibroso
Se o vento não sopra é silencioso
Nem sequer a fronde se ver balançar
Porém se o vento com força soprar
A fronde estremece perde toda calma
As folhas se agitam, tremem e batem palma
Pedindo silêncio na beira do mar
Não há tempestades e nem furacões
Chuvadas de pedras num bosque esquisito
Quedas coriscos ou aerólito
Tiros de granadas de obuses canhões
Juntando os ribombos de muitos trovões
Que tem pipocado na massa do ar
Cascata rugindo serra a desabar
Nuvens mareantes, tremores de terra
Estrondo de bombas, rumores de guerra
Que imite a zoada das águas do mar.

A MÚSICA MAIS BONITA DO MUNDO , PARA CHICO BUARQUE




Every Time We Say Goodbye
Cole Porter
Composição : Cole Porter


Every time we say goodbye
I die a little
Every time we say goodbye
I wonder why a little
Why the Gods above me
Who must be in the know
Think so little of me
They allow you to go

When you're near
there's such an air
of Spring about it
I can hear a lark somewhere
begin to sing about it
Theres no love song finer
But how strange the change
From major to minor
Every time we say goodbye

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O PAI DE GUIMARÃES ROSA...



A Terceira Margem do Rio

Guimarães Rosa


Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

AS TIRADAS DA NOSSA MÃE : LIA PIMENTEL...

O CAIXEIRO-VIAJANTE
Chico Brito era um comerciante de Natal (RN), do ramo de tecidos, cuja esposa era muito amiga de Dona Lia Pimentel. Sua loja, que tinha o nome de “Casa Pérola” , era localizada no Bairro da Ribeira, onde, nessa época, o comércio de Natal se concentrava. Dentro da loja, o comerciante mantinha seu escritório comercial, não lhe faltando clientes para atender. Todos os dias, Chico Brito estava na sua loja, pela manhã e à tarde. Era a menina dos seus olhos e a sua segunda família.
Nesse tempo remoto, bem aquém da modernidade da Internet, sempre chegavam a Natal, os caixeiros-viajantes, que eram representantes comerciais dos fornecedores, e traziam amostras de variados tecidos que estavam na moda, para que os comerciantes fizessem suas escolhas e pedidos.CAIXEIRO-VIAJANTE III
Esses caixeiros-viajantes, geralmente, tinham um sotaque diferente do “nordestino”. Falavam com a língua enrolada, passando-se por sulistas ou por gringos, o que, de certa forma, influenciava nas transações. Sempre tinham boa aparência, eram educados, e muito bem treinados para vender sua mercadoria.
Numa certa tarde, por volta de catorze horas, Dona Lia Pimentel encontrava-se na residência de Chico Brito, conversando amenidades com a grande amiga Nazinha, esposa do comerciante. De repente, alguém tocou a campainha. A dona da casa foi atender e percebeu que se tratava de um caixeiro-viajante. O homem trazia duas grandes bolsas nas mãos, e tinha jeito de estrangeiro. Muito educado, dirigiu-se, gentilmente, à dona da casa, e falou, misturando francês com português:
- Bonsoir, madame! Monsieur Britô” está?
Dona Nazinha, semi-analfabeta, mas muito falante, pensou um pouco e respondeu “em cima da bucha”:
- Non, monsier! Meu maridô Britô almoçou, tomou bondê e foi Ribeirar. Se monsier quiser com ele falar, monsier vai ter que ir Ribeirar!!! Ele está na lojá”…
O caixeiro-viajante compreendeu que Chico Brito almoçou, tomou o bonde e foi para a Ribeira, precisamente para a sua loja.
O homem disse “Merci…Vou até lá …au revoir” e saiu.
Dona Nazinha olhou para a amiga Lia Pimentel, que tinha estudo e conhecia bem o idioma Francês, e teve a ousadia de explicar:
- Lia, eu falei com esse caixeiro-viajante em francês!!! Eu disse a ele que Brito almoçou, tomou o bonde e foi pra Ribeira. Se ele quiser falar com meu “maridô”, deve ir Ribeirar…
Dona Lia não conteve as gargalhadas, e disse à amiga:
- Você não é besta não, Nazinha? Você falou francês?!!!

CATINGA DE FALCATRUAS...


OS DONOS DO PETRÓLEO
sandro vaia
Há alguma coisa sobrevoando a Operação Lava Jato e não são aviões de carreira, como se dizia antigamente.
Desde que o ministro da Justiça resolveu receber advogados de empreiteiras acusadas em audiência fora da agenda e que começou a tricotar estranhamente com o procurador geral da República, Rodrigo Janot, cuja integridade física estaria ameaçada às vésperas da divulgação de uma supostamente “bombástica” lista de políticos envolvidos na operação, há uma forte suspeita de “abafa” no ar.
O fato de que alguns empreiteiros importantes tenham desistido de recorrer à delação premiada depois da conversa com Cardozo é um indício de que alguma porca pode estar torcendo o rabo. O fato de Cardozo não parar de defender o seu encontro “extra-agenda” como se fosse uma prerrogativa dos ministros da Justiça ignorar o dever da transparência no trato com a coisa pública, reforça mais ainda a suspeita de que alguma trama esteja sendo urdida por baixo dos panos.
O juiz Sergio Moro criticou o encontro do ministro com as empreiteiras e o MP se manifestou contra um eventual acordo de leniência entre governo e as empresas envolvidas na apuração dos crimes na Petrobras.
Este porém não é o único imbróglio que envolve a Petrobras, embora nada seja mais letal para a empresa do que a sua transformação num balcão de negócios de sustentação de esquemas políticos.
Ela perdeu o grau de investimento da agência de avaliação de risco Moody’s não só pelos prejuízos causados pelo esquema de desvio de dinheiro, mas acima de tudo pela perda de controle de governança da empresa, que não conseguiu sequer divulgar um balanço devidamente auditado.
A presidente Dilma comentou a perda de grau de investimento com mais uma das platitudes que tem pronunciado com preocupante insistência, coisa que ela faz com a solenidade de quem anuncia ter descoberto o sentido da vida. Ela disse que a agência de risco não tem informações suficientes sobre a situação da Petrobras – como se agências de risco não fossem capazes de identificar riscos – ainda que tardiamente.
De resto, quem tinha “informações suficientes”? Ela? Gabrielli? Graça Foster?
Mesmo sendo responsável por uma administração que conseguiu a façanha inimaginável de transformar as ações da Petrobras em “junkie bonds”, o PT, como é de hábito, inverteu o foco da narrativa e voltou a atirar em seus fantasmas prediletos: a mídia, a reação, a direita, a cobiça internacional, os especuladores, os de sempre.
Todos são culpados pela desgraça da Petrobras, menos os que a provocaram. O discurso já é conhecido e só os fiéis da seita acreditam nele e o repetem como se fosse a Ave Maria. Mas desta vez o discurso veio acompanhado de uma ferocidade inédita.
Ao colocar na rua uma tropa de bate-paus mal encarados e de camisetas vermelhas para conter os protestos anti-governistas e a favor da impeachment da presidente, o PT criou um cinturão de segurança em torno do prédio da ABI, onde o líder supremo fazia a sua arenga “em defesa da Petrobras” (contra quem, além dele mesmo?)
Com a habitual serenidade e equilíbrio, Lula disse:
“Quero paz e democracia. Mas eles não querem. E nós sabemos brigar também, sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele na rua”.
Ficamos sabendo, então, que há uma tropa de choque de prontidão para entrar em campo e ajudar a enriquecer o debate político e quem sabe melhorar a nota da Petrobras com paus e pedras.
marginais

O TALENTO DE SIVUCA : O SEVERINO DE ITABAIANA...PB

O TALENTO DE CHICO CESAR...

O PRAZER DO MÚSICO...O PRAZER DO ARTISTA: CHEGAR ONDE O POVO ESTÁ...



quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

JESSIER QUIRINO...




UM VARAL EMPESTADO DE CALCINHA
Um varal empestado de calcinha
Aviventa o respiro da paixão
Quando ela me faz uma cosquinha
Dou risada que afrouxo a suspensão
Amolengo o espinhaço e o coração
E navego num beijo apaixonado
Faço um verso jeitoso e afinado
Mais bonito que letra de baião
Vendo a roupa estendida num cordão
Silhueta de minha malandrinha
Um varal empestado de calcinha
Aviventa o respiro da paixão.
Aviventa o respiro e o doidejo
Catuaba pra alma estimular
Mandacaru eclipsando o luar
Nas barrancas profundas do desejo
Estradando nas molas do molejo
Baticum ritimando o coração
E as bandeiras que voam em branquidão
São enxágües  que  brilham na festinha
Um varal empestado de calcinha
Aviventa o respiro da paixão.
É uma peça rendosa e refinada
Modelada pros traços da viola
Não é calça, calção e nem caçola
Camisola, anágua ou “baby-dó”
Este traje é dos trajes o menor
Provoqueiro, faceiro e brincalhão
Cobre o ímã-do-mundo com razão
Mas com ela é melhor do que nuinha
Um varal empestado de calcinha
Aviventa o respiro da paixão.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA DA MINHA GAVETA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.



FILOSOFIA DE MINHA GAVETA...

               Tenho vistos homens deixarem casamentos de trinta anos, pela euforia de possuir uma mulher com vinte e cinco anos...as vezes, da idade das sua filhas... a juventude... a coisa nova...o grande motivador do sexo forte.

               Os homens gostam de garotas... dizem as más línguas que é um grande vasodilatador coronariano...o buraco é mais embaixo...
                O problema tem um substrato filosófico:

                A mulher, faz até sexo, para conseguir amor...
               O Homem, dá até amor, para obter sexo...o homem e a mulher são duas retas paralelas, que não se encontram nem no Infinito... o resto é conversa de comadre... dialética.

               Quando tudo vai bem, o homem cheira a mulher, a mulher beija o menino, e o menino coloca leite pro gato...
               Quando tudo vai mal, o homem grita a mulher, a mulher da uma tapa no menino, e o menino chuta o cachorro.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

PARA QUEM CHEGOU ALÉM DO BOJADOR... A PROSA POÉTICA DE BERNARDO CELESTINO PIMENTEL



               De repente,a súbita impressão de que morro vivo, o que é pior do que morrer depois de morto...
               Acordo no meio da noite e rebobino o meu próprio filme, com certeza, já morri...
               Na certa já sou outra pessoa...
               Com certeza  já sou outro Pessoa...
               Agora sou de éter, gasoso, fluido...estou abaixo dos umbrais, onde não mora ninguém...
               Sinto que já atravessei o Bojador, o cabo das tormentas, o cabo da Boa Esperança...
               Se morre vivo todo dia, quando se olha a linha do horizonte e se vê apenas o que passou,o que é de pedra, o que não flui, o que não pulsa, o que não cintila...
               Bons tempos quando eu olhava o horizonte e só via amanhã,
só via um sol nascente,quando eu entendia as estrelas, e lavava a minha angústia na solidão do mar...
              Agora o amanhã já passou,o sol escureceu em pleno meu verão, e as estrelas me traduzem um sentimento vago, frio,longe da grande noite e da grande festa...
               No horizonte, a vida descrevendo um arco, e aportando no passado, na mesmice, sem dúvida, aporto no mesmo cais...
               Entre eu e mim, uma distância de séculos...
               Entre eu e mim, o tédio,o cinza,o sol é pouco e a noite muito longa, de longe escuto somente ais...
               são os ais do que fui querendo me ressuscitar, eu que só sou o vácuo,o fátuo,a mística,o vapor, o abismo...
               Entre eu e  mim,a imensidão do que passou,toda a solidão do mundo, da infância, da adolescencia,um membro  fantasma,uma saudade profunda,a  foto do meu eu voando...
sozinho,prenho de todas as certezas e vazio de todas as lutas...
               Me faltou ir a guerra, cortar-se, sangrar,nunca morrer...
               Fui mais sensitivo do que motor...
               Perdi o meu tempo pensando...e pensei demais, quando dei por mim, não tinha mais chão nem céu, na minha boca, a lembrança do fel...
               Agora,a certeza de nada, a certeza de tudo, e este nada é tudo...
               Somente a morte ressuscita quem atravessou o Bojador.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

EU, UM FUGITIVO DE MIM MESMO...A POESIA DE BERNARDO CELESTINO PIMENTEL



         ABDIQUEI DE TUDO,
abdiquei do mundo,
sempre me escondi de mim...
sou dono do meu próprio exílio,
nunca fui hoje,
vivo de quando,
só penso se...
eu, um fugitivo de mim mesmo.

            Sempre tangenciei a vida,
minha luta foi com a mente,
não obstante o coração que sente,
nunca deu forças as minhas asas...
pensei em tudo,
sempre ví demais,
mas fugí de mim...
quis ser só,
optei em ser sozinho,
vi futuros e passados, 
mas optei por nunca...

               Na música,preferí ás  harmonias,
não fiz carreira solo,
fugí da orquestra que sou,
para cantarolar em beira de abismos,
cãnticos dúbios,
estressantes,
frios e sombrios,
transbordo como rios.
seco nas minhas fontes...


               Sempre quis mas não fiz...
sou um pássaro de tudo,
quando tentei a colheita,
o meu eu era mudo.
              eu , o pensador de mim mesmo,
eu, o meu investigador,
eu, o meu próprio suplício,
eu o meu prazer...
perdí os barcos, 
perdi os trens,
mas eu vou, 
com ou  sem...
voando nas asas dos meus próprios pássaros,
eu, sobrando,
eu escasso...
               Sempre evitei colocar os pés no chão,
flutuei como uma paixão,
vida aérea,
de sonhos e pão:
nunca coube dentro de mim mesmo,
as minhas salas sempre me asfixiaram,
continuei despido de tudo,
o tempo escorreu pelos dedos,
com a lentidão de quem passa um rosário entre os dedos
comprendí tudo, 
fui claro?

               Eu, a minha propria flor,
colhi as minhas longas manhãs,
degustei meus proprios venenos,
na minha alma,
um som ameno.

A POESIA DE ANA LIMA PIMENTEL...


PAGINA INTIMA – Anna Lima
A’ Elima Souto
Não penses, minha flor, que o triste pranto
Que ora desprende o meu olhar sentido,
Vá maguar o affecto estremecido
Que me inspirou teu virginal encanto.
Si agora eu fujo ao teu olhar querido,
Cheio de luz, ele intemino quebranto,
Eu sinto d’alma, n’um pequeno canto,
Meu doce amor ao teu amor unido.
Quebrou-se o fio meus sonhos bellos
E cahiram no manto setinoso
Dos anneis aromaes dos teus cabellos…
Guarda em teu seio o meu gentil desejo:
Faze do canto um madrigal formoso,
E, em cada verso, deposita um beijo.
Açú – Julho de 1899.

ESCUTANDO ARNALDO JABOR...

domingo, 22 de fevereiro de 2015

DUETO...CHICO BUARQUE DE HOLANDA.




PARA RELAXAR...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.



               NINGUÉM ESCREVEU COMO VINICIUS DE MORAES...qualitativamente,nem Chico Buarque...
               sou capaz de reconhecer Vinicius, pela beleza do texto...na intimidade,quando se perguntava a ele,se morresse e voltasse outra vez,o que desejava ser, ele dizia:Voltaria o mesmo, queira apenas voltar com um PÉNIS maior...este é o desejo de muito homem, e de todas as mulheres...O                INTERESSANTE é que a gente se refere a Vinicius, chamando-o de velho...ele morreu com 67 anos,mais novo do que Roberto Carlos e Chico Buarque, hoje.

               Diz Juca Chaves, que o saudoso maestro GUERRA PEIXE, pedia diariamente ao seu anjo da guarda, desde criança, que lhe desse um PÉNIS GRANDE...
o anjo nunca escutou direito a fala do maestro...e por confusão na escuta, lhe deu pro resto da vida um TÉNIS BRANCO...

MAS, PAULO BEZERRA, meu tio, e o FILÓSOFO NOVACRUZENSE, resumiu bem esta vantagem...Certa vez, a bodega de DONA LINDALVA, a sua esposa, estava cheia de pinguços, tomando UMA, para almoçar...entra Paulo bezerra, conduzindo o seu metro e cinquenta e cinco de altura,um despudorado se sai com esta indiscrição:SEU PAULO, COMO É QUE O SENHOR TÃO BAIXINHO, TÃO PEQUENO, CONSEGUIU FAZER CINCO FILHOS? TIO PAULO,sem se chatear ou aprovar,respondeu:
               QUE BESTEIRA VOCÊ ESTÁ ME PERGUNTANDO...
               AQUILO É UMA FECHADURA, QUE QUALQUER CHAVE ABRE...




               CERTA VEZ, UMA MULHER, querendo atiçar o marido, tomou banho se perfumou, e diante da frieza do esposo, falou:VOCÊ ACREDITA QUE ONTEM EU SONHEI COM UM SACO DE 60 QUILOS, CHEIO DE ROLAS DURAS...?O MARIDO PERGUNTOU: E A MINHA ESTAVA NO MEIO? ELA RESPONDEU:
               ERA A IMBIRA QUE AMARRAVA A BOCA DO SACO.

A POESIA DE MANUEL BANDEIRA



SONHO DE UMA TERÇA- FEIRA GORDA

Manuel Bandeira


Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros e negras
eram as nossas máscaras.
Íamos, por entre a turba, com solenidade,
bem conscientes do nosso ar lúgubre
tão contrastado pelo sentimento de felicidade
que nos penetrava. Um lento, suave júbilo
que nos penetrava...Que nos penetrava como uma espada de fogo...
Coimo a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas!
E impressão em meu sonho era que se estávamos
assim de negro, assim por fora inteiramente de negro,
__ Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro e luminoso!
Era terça-feira gorda. A multidão inumerável
burburinhava. Entre clangores da fanfarra
passavam préstitos apoteóticos.
Eram alegorias ingênuas ao gosto popular, em cores cruas.
Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida,
peitos enormes __Vênus para caixeiros.
Figuravam deusas __deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas.
A turba, ávida de promiscuidade,
acotovelava-se com algazarra,
aclamava-as com alarido
e, aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores.
Nós caminhávamos de mãos dadas com solenidade,
o ar lúgubre, negros, negros...
Mas dentro de nós era tudo claro e luminoso!
Nem a alegria estava ali, fora de mós.
A alegria estava em nós.
Era dentro de nós que estava a alegria,
a profunda, a silenciosa alegria...

sábado, 21 de fevereiro de 2015

FRAGMENTOS DO MEU TODO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL



               Eu também fui criança, também tive Nova cruz, também tinha uma igreja matriz,tinha uma Nossa senhora,e tinha um vizinho pobre, que me recebia como se eu fosse um Rei...

               Eu tinha um rio, tinha amigos e tinha esperança...eu era um menino inteligente e feliz, na minha cidade de interior...eu tinha a casa de seu Sebastião Menezes, funcionário público municipal, que colocava na prateleira da cozinha, vidros cheios de UVAS e JABUTICABAS,pra me ver chupa-las com prazer...o velho esboçava no semblante, na face , o riso e a satisfação, que o doce das frutas, e o prazer,confortavam a minha alma... alimentavam a minha infância...

               A Casa de Dona Júlia Meneses era humilde,mas era alegre, tinha a amizade, tinha o respeito e a consideração, que nem sempre se encontra, nos vizinhos de hoje.Um dia eu vou perguntar ao adivinhão, na rua do adivinhão, aonde está aquele povo bom da minha infância?...infância de menino rico criado no meio de cabeceiros, ferroviários, mendigos, admirando-os e amando-os...aprendendo com eles, o que nem a faculdade me ensinou...palpar a essência boa das pessoas, a simplicidade...compreender e respeitar a vida de cada um...ser solidário...não pensar somente em mim...

              Vou procurar na rua da matriz, na rua do grupo,uma parte dos meus sonhos,que eu deixei cair na minha trajetória...provavelmente um neto ou um sobrinho neto, colherá estas sementes de sonhos e a transformarão em realidades, e surgirão outros jardins,que reproduzirão na margem direita do Rio Curimataú, outra porção dos desejos da criança que eu fui e sou.

               Nesta sagrada terra dormem os meus pais e os meus avós,dos quais eu já colhi na infância alguns sonhos, e estou vivendo-os...é assim...é a vida...feliz do homem, que ao chegar na idade a adulta, tem saudade e se lembra do cheiro das sua fraldas,se lembra da criança que foi, da sua igreja, dos seus anjos e santos.

               Realmente,fui apresentado a Deus e as coisas boas, em casa,por meu pai e minha mãe, mas o colégio nossa senhora do Carmo, na pessoa de Irmã Luísa, foi muito importante na manutenção eterna desta vida de fé...
               aos quatro anos, me ajoelhei na Igreja Matriz de Nova Cruz,e pedí a Deus para ser um instrumento da sua paz, como mandara irmã Luiza...pedido que ainda faço diariamente,e até aqui, DEUS NUNCA NOS FALTOU:EBENÉZER...


Ebenézer, é uma palavra em Aramaico,o idioma de jesus, que quer dizer:ATÉ AQUI O SENHOR NOS TEM AJUDADO...OU , O SENHOR NUNCA NOS FALTOU...eu estou com Deus e não abro.Quem quiser que vá de qualquer jeito...eu só vou com Deus.
          EBENÉZER...EBENÉZER...EBENÉZER.


               Salve as emoções,que impedem que a mente apodreça num coração sem alma... salve o prazer que ajuda a limpar-nos da angústia que suja o mundo...
               Ratifico:quem tiver coração de ferro, que dele faça bom proveito...
o MEU é de Carne,e SANGRA TODO DIA...
o meu é de saudades e toda dia escuta gente...
o meu é de solidariedade e toca de leve, para não ferir tocando. 
O meu é Humano e todo dia estende a mão e suplica,compreende e abraça....
e quando pode, chora.


               Quer saber de uma coisa?                   Eu sou de todo mundo, e todo mundo é meu também.

A POESIA DE FLORBELA ESPANCA...



HORAS RUBRAS –
 Florbela Espanca







Horas profundas, 
lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas …
Oiço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas…
Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…
Sou chama e neve branca e misteriosa…
e sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

A LITERATURA DE FERNANDO SABINO...


O trecho a seguir é de crônica sua intitulada Dez Minutos de Idade:
“A enfermeira surgida de uma porta me impôs silêncio com o dedo junto aos lábios e mandou-me entrar. Estava nascendo ! Era um menino. Nem bonito nem feio; tem boca, orelhas, sexo e nariz no seu devido lugar, cinco dedos em cada mão e em cada pé. Realizou a grande temeridade de nascer e saiu-se bem da empreitada. Já enfrentou dez minutos de vida. Ainda traz consigo, nos olhinhos esgazeados, um resto de eternidade.
(…).
Nada te posso dar senão um nome. Nada posso te dar. No teu primeiro instante de vida minha estrela não se apagou. Partiu-se em duas e lá do alto uma delas te espera, será tua. Nada te posso dar senão um nome e uma estrela. Se acreditares em estrela, vai buscá-la”.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A LITERATURA DE VIOLANTE PIMENTEL...

Há várias décadas, roubaram todas as imagens que compunham o oratório de Dona Clarinha Medeiros, uma senhora muito católica, que ia à Missa diariamente e fazia parte da irmandade das “Filhas de Maria”, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, antiga Catedral de Natal (RN).
Muito compadecido, o vigário da paróquia, Padre Antônio Moreira, no sermão da Missa das nove horas do domingo, lançou uma campanha para ajudar à referida senhora, que, aliás, tinha uma boa situação financeira. O padre fez um apelo aos fiéis ali presentes, para que todos contribuíssem com uma imagem de um santo ou santa, para que Dona Clarinha Medeiros pudesse reconstituir o seu oratório.SANTOS EM RESINA - CENAS DO CAMINHO  - A CAMPANHA
A velha senhora chorou na Igreja, ao contar ao padre o ocorrido, e disse-lhe que não tinha dinheiro suficiente para comprar novamente as imagens de sua devoção.
A história se espalhou, e algumas pessoas acharam um absurdo o padre fazer essa inusitada campanha, para ajudar uma pessoa de classe média, que pertencia a uma tradicional família da cidade.
Mesmo assim, as mulheres que frequentavam a Igreja se empenharam em ajudar Dona Clarinha, arrecadando, em comissão, as doações de imagens, nas casas das pessoas que quisessem colaborar.
Aos domingos, depois da Missa das nove horas, a casa de Carmen Pimentel, que ficava atrás da antiga catedral, era sempre frequentada por algumas tias carolas e algumas amigas. Ficavam todas conversando na sala de visitas, até a hora do almoço. Numa dessas conversas, surgiu o assunto da campanha em prol do oratório de Dona Clarinha, lançada pelo padre Antônio Moreira.
Entre opiniões contrárias e a favor, Dona Idyla Lima, uma tia de Carmen, solteirona e muito religiosa, confessou que já havia contribuído para a campanha, doando a Dona Clarinha Medeiros um dos seus santos, que, inclusive, era bento.
Carmen Pimentel, que era contra a campanha, por saber que a mulher tinha boa situação financeira, disse para a tia, em tom de censura:
- Mas tia Idyla, a senhora teve coragem de dar um dos seus santinhos a Dona Clarinha Medeiros, uma mulher rica, que nem precisa disso?!!! Pois eu jamais daria a alguém um dos meus santos!!! Tenho devoção a todos!!!
A tia Idyla Lima, que era muito inteligente e tinha um senso de humor acurado, querendo se justificar perante a sua querida sobrinha Carmen Pimentel, respondeu:
- Mas Cacá, o santo que eu dei a Dona Clarinha é um santinho vira-lata!!!
A gargalhada foi geral…