CANTORIA...

Damísio Mangueira

Fui a Roma falar com o Santo Papa
E contei da miséria no Brasil
Nas favelas tem fome a mais de mil
Os sem leite, os sem pão e os sem garapa
Sem comer, a criança não escapa
Desse jeito Santidade é demais…
Ele disse Damisio vá em paz
Leve agora um milhão do Vaticano
Já o ouro eu busco no fim do ano
E o que é que falta fazer mais?

Fui a Londres falar com a rainha
Lhe pedi pra rever sobre as Malvinas
Disse à ela: são terras argentinas
Lhe pedi pra parar com a picuinha
Ela disse essa ideia é a minha
E a partir de agora terá paz
A escritura tu leva, meu rapaz
À Argentina as Malvinas entreguei
De Cristina um abraço eu ganhei
E o que é que me falta fazer mais?

Em Washington estive por um dia
E por lá eu ganhei a maior fama
Emprestei dez bilhões para Obama
Impedi dele “passar com a bacia”
Entrei nele como faca em melancia
E mandei destruir os arsenais
Guerra fria ou quente lá, jamais
Pois é meu o poder americano
Aluguei a Casa Branca por um ano
E o que é que falta fazer mais?

Fui à França tratar com Sarkozi
Dessa crise que passa o velho mundo
Ele disse: meu povo é vagabundo
E só pensa em praia e jetski
Eu lhe disse: que pare, por aí
Eu já sei quem são os grandes rivais
Vou usar de uma vez o meu cartaz
Com apenas uma simples ligação
Fiz da França colônia do Japão
E o que é que me falta fazer mais?

* * *

Marcos Maia

Eu cheguei pra fazer o Firmamento,
Céu e Terra, a primeira criação!
Em seis dias eu fiz a construção
E nos sete parei, por um momento.
No oitavo eu vi muito movimento
Pelos mares, bacias fluviais!
As florestas repletas de animais,
Com Adão e Eva nus, no Paraíso.
E agora, depois desse improviso,
O que é que me falta fazer mais?

Tendo feito este mundo com minha mão,
Precisei melhorar sua estrutura:
Ensinei ao Pedreiro a Arquitetura
Pra fazer belo Templo a Salomão!
Dei a Kant o Poder da Discussão
E a Platão eu mostrei meus Ideais,
Que trouxeram Reformas Sociais
Nos conformes da Arte de Sofia.
Fiz, da Prática, a melhor Filosofia…
O que é que me falta fazer mais?

Com a riqueza e o poder, veio o pecado,
A injustiça, os vícios e a matança.
Eu mandei renascer a Esperança,
Vir à Terra o Meu Filho Muito Amado,
Que, depois, veio a ser crucificado,
Por criar, nesse mundo, Seus sinais!
Pedi Fé para todos os mortais
Para, em troca, mostrar a Salvação,
Fiz do Amor o caminho do Perdão…
O que é que me falta fazer mais?

Fiz o homem voar qual passarinho:
Foi quando eu projetei o avião!
Criei Rede Virtual de Informação,
Pra ninguém nunca mais ficar sozinho!
No scanner do tempo fiz meu ninho,
A História me dá credenciais!
Um só homem isolado não há mais,
Acabou-se a tal privacidade:
Sei de tudo da tal sociedade…
O que é que me falta fazer mais?

Fiz nascer o Progresso aqui na Terra,
Dando ao homem direito de crescer,
Mas, em vez dele se estabelecer,
Quer bem mais, e com isso veio a guerra!
Sei que errei e, às vezes, a gente erra,
Pois o homem se desviou demais.
E irmãos não são mais, são animais!
Eu tentei, mas não acho a solução,
Pra salvar essa Nova Geração,
O que é que me falta fazer mais?

Eu, poeta, é que encanto as multidões,
Cantador, vagabundo, como queres,
Sou cantor para homens e mulheres,
E saudade sutil, nos corações!
Sou o Amor, transformado em orações,
Sou o mestre dos Poetas Imortais,
Ganhador de diversos festivais,
Oratório da Prece Popular,
Que, pra sempre, este povo vai amar!…
O que é que me falta fazer mais?

Finalmente a peleja chega ao fim,
Com a poesia ganhando seu espaço!
Peço a Deus mil perdões pelo que faço,
Arrotando vantagens, tanto assim!
Cantador como eu, precisa, enfim,
Evitar cometer faltas mortais!
Eu, poeta, nos meios virtuais,
A Poesia jamais eu abandono!
Nesse tema, pergunto e questiono:
O que é que me falta fazer mais?

* * *

Menino Poeta

Eu cantei o Amor ao meu irmão,
Tão fraterno, sincero e infinito,
Com José, Otacílio e Expedito,
Fui Profeta, ensinei Religião!
E pregava amizade e compaixão,
E dizia que nós somos iguais!
Espalhei, por diversos festivais,
Boa Nova em bonita cantoria,
Rezei terços de pura poesia!…
O que é que me falta fazer mais?

Chega, então, o momento de encerrar
Mais um passo, no nosso Festival!
Se fui bem, ou, talvez, me saí mal,
Os senhores do Júri vão julgar!
Ao meu grande parceiro, vou falar,
Agradeço ao poeta e digo mais:
Marcos Maia nós não somos rivais,
Mas amantes de uma mesma verdade!
Se cantamos respeito e amizade,
O que é que nos falta fazer mais?

Cantei viola com Pinto do Monteiro,
João Batista foi um dos meus algozes,
Enfrentei os poetas mais ferozes,
Patativa me ouviu um mês inteiro!
Velho Mestre foi quem parou primeiro,
Disse que nessa vida nunca mais
Acharia parceiros ou rivais
Com a viola afinada, do meu jeito!
Fui-me embora, contente e satisfeito…
O que é que me falta fazer mais?

Com o som da viola que te encanta,
Fiz a ponte entre o Céu e nossa Terra,
Matei fome e acabei com toda guerra,
Fosse ela profana ou Guerra Santa!
Com o sopro feroz dessa garganta,
Fiz erguer as mais lindas Catedrais,
Desenhei violeiros nos vitrais,
Pra louvar essa Arte tão Divina!
Desse jeito, abrandei a minha sina…
O que é que me falta fazer mais?

Eu fiz da cantoria minha lida
E essa vida merece ser cantada!
Minha história é poesia declamada,
Cada rima uma fase já vencida!
Sou poeta! E é assim que tenho vida,
Como foram, também, meus ancestrais!
Eu nasci de um poema que meus pais
Escreveram, no ninho do seu leito!
Sendo fruto de tal amor perfeito,
O que é que me falta fazer mais?

Encontrei a melhor das soluções
Pros problemas que afligem nosso mundo!
Quem diria! Um poeta vagabundo
Poderia encantar as multidões!
Pra mostrar que, nos nossos corações,
Temos tudo e ainda um pouco mais,
Precisamos amar nossos iguais,
Ser tementes a Deus Nosso Senhor,
Dedilhar a viola com amor…
O que é que me falta fazer mais?

Botei duas estrelas na viola,
Pra cantar com o Cego Aderaldo!
Na História, busquei o meu respaldo,
No repente cursei a minha escola!
Nunca fui homem de pedir esmola,
Segui sempre os melhores ideais,
Do Sertão, eu migrei pras capitais
E, assim, fui escrevendo minha história!
Na viola encontrei a minha glória,
O que é que me falta fazer mais?

* * *
Damísio Mangueira

Fiz a máquina do tempo mais moderna
e saí pra conhecer as outras eras
encontrei, viajando as quimeras
nessa máquina do tempo bati perna.
conheci desde o homem da caverna,
os antigos e os povos atuais.
conheci muito bem os marechais
e também os pobres escravizados,
eu voltei a muitos anos passados,
e o que é que me falta fazer mais?

Vi o mar se abrir para Moisés,
vi seu povo do Egito escorraçado.
perseguido por um rei fracassado,
mas a fé lhes tirou desse revés.
os artigos do seu código são dez
e foi Deus quem mandou estes sinais
para um dia poder viver em paz,
Deus mandou-lhes à terra prometida.
de Moisés vi a força garantida,
e o que é que me falta fazer mais?

Eu vi quando Nabucodonosor
teve um sonho ficando perturbado
vi ali ao seu quarto ser chamado
os profetas pra ouvirem o seu clamor,
Babilônia viveu dias de horror
pois o sonho era difícil demais
revelado por um pobre rapaz
Daniel, o profeta e me contou
como foi que seu deus lhe revelou
e o que é que me falta fazer mais?

Trabalhei de ajudante pra Cabral
pelos mares em busca de riquezas,
desfrutei, contemplando as belezas,
em Açores enfrentei vendaval.
eu lhe disse, mude a rota, tá mal,
pois nas Índias agora não dá mais
à oeste tem terras magistrais
e ele logo, atendendo me seguiu
e foi assim que chegamos ao Brasil
e o que é que me falta fazer mais?