MANHÃ NATALENSE ESPECIAL
Um acontecimento ultra-secreto aconteceu em Natal, no Rio Grande do Norte, em 28 de janeiro de 1943, então uma pacatíssima cidade nordestina com 40 mil habitantes, nascida às margens do Rio Potengi e do Forte dos Reis Magos, conhecida como a Cidade do Sol, também Esquina do Continente, tida e havida como a cidade detentora do maior número de dias de sol do Brasil. A cidade é também conhecida como Capital Espacial do Brasil, lá acontecendo as operações da primeira base de foguetes da América do Sul, o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno. Segundo a NASA, Natal foi classificada como a detentora do ar mais puro e renovável do continente sul-americano.
Pouco antes das oito horas da manhã, dona Maria Luiza já tendo tomado café com o seu marido Antônio na rua Felipe Camarão, ele convocado para guerra e ela com sete meses de gravidez, um gigantesco avião Boeing B-314, de 40 toneladas, nunca visto pela população potiguar, amerissa sem aviso prévio no rio Potengi, dele sendo retirado o presidente Franklin Delano Roosevelt, vindo diretamente de Casablanca, no Marrocos, para um encontro com o presidente Getúlio Vargas, que chegara na véspera, também secretamente, somente anunciando sua presença ao então comandante da Segunda Zona Aérea, brigadeiro Eduardo Gomes, candidato derrotado à presidência do Brasil pelo próprio Getúlio Vargas sete anos depois.
O encontro acontecido naquele dia foi amplamente analisado pelo jornalista Roberto Muylaert no seu livro1943 – Roosevelt e Vargas em Natal, SP, editora Bússola, 2012, que elucidou, entre outras, duas questões: “Que razões levaram Roosevelt, o presidente da maior democracia do mundo, a sair de Casablanca, Marrocos, em plena Segunda Guerra Mundial, sobrevoar um oceano infestado de submarinos alemães para falar pessoalmente com o presidente da maior ditadura da América Latina, em seu próprio país?”; e “Que razões levaram Getúlio Vargas a abandonar o filho caçula à beira da morte, o governo com ministros e militares pró-nazistas, para uma reunião secreta com Roosevelt no Rio Grande do Norte, reunião esta que nem mesmo sua mulher, dona Darcy Vargas, tinha conhecimento?”.
Não era a primeira vez que o presidente Roosevelt tocava em solo brasileiro. Já havia visitado o Rio de Janeiro, em 1936, quando assim se referiu ao presidente Vargas: “Não me lembro de ter me impressionado de forma tão profunda com um estadista, como aconteceu com meu encontro com Vargas, pela força da sua personalidade, o charme da sua presença, e a precisão com que expressa seus pensamentos”. Na ocasião, Getúlio Vargas, um charuteiro contumaz, presenteou o presidente norte-americano com charutos da Bahia, classificados por ele, um também charuteiro inveterado, como “bons e suaves”.
Na conversa que mantiveram, revelada agora em detalhes pelo livro, destaca-se a cordialidade estabelecida entre os dois talentos políticos, um brasileiro de 1,60m e um americano de 1,91m, ambos calejados e realistas. Um só exemplo: Getúlio percebendo que o encontro aconteceria sob um baita aparato militar norte-americano, havia planejado chegar na véspera, assumindo o papel de anfitrão à espera de um importante convidado.
O interessante do encontro histórico foi o que aconteceu com um natalense chamado Tupinambá, que morava em frente ao local do encontro. Ele conta que viu, menino curioso de então, muitos soldados rodeando um jipe. Só mais tarde soube que havia sido testemunha de um estupendo encontro de dois presidentes. E danou-se a contar mil e uma pitorescas histórias.
Enquanto tudo isso se desenrolava, a dona Luiza, 23 anos e grávida de sete meses, ignorava o que se passava. E o convocado seu marido, o Antônio, somente chegado à noite, também desconhecia o que tinha acontecido na cidade. Em março seguinte, nascia de parto complicado um menino chamado Fernando Antônio, hoje recifensizado e pernambucanizado, com muito orgulho em ser também Leão do Norte.
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