sábado, 21 de abril de 2012

RIMAS POPULARES...

Verônica Sobral glosando o mote:

Quem oferta uma flor não se liberta
Do perfume da rosa que ofertou.

Um pedinte, sentado, com a mão
Estirada, pedindo caridade
É uma cena que mexe, na verdade
Com o homem que tem bom coração.
Vendo a fome no olho do cristão
Se comove, pedindo ao Criador
Que transforme essa fome e essa dor
Numa forma de vida mais correta
Quem oferta uma flor não se liberta
Do perfume da rosa que ofertou.

* * *

Gonzaga Vieira glosando o mote:

Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

Segue rumo ao madeiro
O Divino Nazareno,
No seu semblante sereno
Ao instante derradeiro!
Na cruz, esse pregoeiro,
Áspero vinho consumia;
À hora da agonia
Aos algozes perdoava:
Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

Os arcanjos, querubins
E toda a corte celeste,
Ante o amor que reveste
Os personagens afins;
Até mesmo os serafins
No canto que diluía
Em augusta algaravia
O que no céu se ditava:
Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

Quão acerba foi a dor
Do início, ao calvário,
Desse homem solitário
Pra redimir o amor.
Mesmo seu perseguidor,
Sem emoção, percebia
Toda essa santa agonia
Que a sua mãe imitava:
Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

A concórdia nos convém:
“Nasce o novo, morre o velho”.
Na lição do Evangelho
Essa mensagem contém.
Àquele que amor tem,
Nova aurora se irradia;
Até a raça judia
Nesse tema meditava:
Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

Acolher ao seu irmão
É pleno ato de fé.
A cobiça sempre é
O oposto da união…
Puro, é o coração
Que só no amor confia;
Esse roteiro se via
Quando o Cristo meditava:
Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

A bendita oração
É consolo para o crente,
A obra também, presente,
É vasto plano de ação.
Ore e sirva, meu irmão,
Era o que o Mestre dizia.
A multidão comprimia
No recinto em que faltava:
Quem era que não chorava
Quando Jesus padecia?

* * *

Sebastião Dias glosando o mote:

Canta o galo anunciando
O raiar do novo dia.

A lua branca se esconde
Nasce um sol da cor de ouro
E duas casacas de couro
Começam cantar na fronde
Uma grita outra responde
Como nós na cantoria
Só não tem mais poesia
Porque não cantam rimando
Canta o galo anunciando
O raiar do novo dia.

* * *

Aluisio Lopes glosando o mote:

Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

Um pequeno vivente exilado
Canta o solo agrural da orfandade
No pequeno calabouço da saudade
Uma lágrima, no canto afinado
Lembra o laço que o tornou destronado
Do seu reino, velho angico altaneiro
Dos filhotes, não sabe o paradeiro
Um covarde caçador desfez seu ninho
Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

Vá na mata , sinta o cheiro da ramagem
O olor das flores, seu verdume
As abelhas doidivanas, no costume
Um regato cristalino, bela imagem
Borboletas multicores em passagem
Pergunte lá; se está tudo prazenteiro
Se, sem musica, sem cantor, isto é certeiro
Fauna e flora lhe responde: é só espinho
Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

Sob o visgo da covarde armadilha
De um covarde que não teve coração
Mente má que semeia escuridão
Mão cruel que apaga a luz que brilha
Que descarta a liberdade da cartilha
Que despreza o que disse o conselheiro
Ainda há tempo se arrependa companheiro
Deixe o menestrel voltar pro seu cantinho
Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

Quem não fez nenhum crime, o que merece?
Sem juízo, viver posto na prisão?
Pegar pena perpétua, sem razão?
Então, o que quer que ele confesse?
Se o homem é o rei, por que se esquece?
Que liberdade, só presta por inteiro
Que esse bicho pequenino é o curandeiro
Dos que sofrem na mata sem carinho
Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

O pentagrama natural da mãe natura
Sente a falta das notas do cantor
Quando em solo delirante, o torpor
Invadia tudo em sua tablatura
O compasso da pequena criatura
Fez-se pausa no tempo, em tempo inteiro
Em exílio eternal do seu terreiro
Melancólico, canta então pobre bichinho
Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

Um corista está faltando no coral
A sinfônica sente a falta do cantor
Sente a flora, o gorjeio que faltou
A cantata de então não é igual
Sua falta faz falta no festival
Se perturbe, se comova carcereiro
Quebre as talas, abra a porta do viveiro
Deixe a mata ter de volta o cantorzinho
Toda vez que se prende um passarinho
Diminui na floresta um seresteiro.

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