quinta-feira, 26 de abril de 2012

RIMAS DE OURO...


 Dimas Batista
João de Barro bem alto faz seu ninho
Preparando de argila uma argamassa
Com as asas e os pés o barro amassa
E a colher de pedreiro é seu biquinho.
Quem teria ensinado ao passarinho
Construção de tão sólida firmeza
Que lhe serve de abrigo e de defesa
Contra o sol, contra a chuva e contra tudo?
Pequenino arquiteto sem estudo
Quanto é grande e formosa a natureza!
* * *
Cego Aderaldo
É belo ver, no sertão
Quando vai descendo a tarde
Os horizontes se enfeitam
A terra em calores arde…
Não há quem de lá se ausente
Que esta saudade não guarde.
Quando por lá desce a tarde
Canta alegre o tico-tico
A jaçanã bate as asas
Corre alegre o maçarico
De todos estes encantos
Meu sertão é sempre rico.
* * *
Rogério Menezes
Na região nordestina
Que muitos chamam de norte
Eu sei que a cara da seca
Tem aspecto muito forte
Tem o sorriso da fome
E a gargalhada da morte.
* * *
Carlos Magnata Cordeiro
Se eu tivesse poder seria justo,
Espichava pra sempre a mocidade,
Espalhava no chão tanta bondade,
Que a maldade morria só de susto.
Para o trabalhador que sofre o custo,
-boi de canga-da humana produção,
Repartia trabalho, terra e pão
Cada qual como irmão trabalharia,
Essas são as mudanças que eu faria
Se tivesse o poder em minha mão.
* * *
Wellson Souza Amorim

Passarinho fica alegre na gaiola
Galo canta no tereiro ao amanhecer,
Quando sabe que mais tarde vai chover
A formiga sai na porta aonde mora,
Chama toda sua família vai embora
Procura folhas verdes pelo chão,
Asa branca canta em cima do mourão
Dando adeus para a seca assassina,
Quando chove Deus monta a oficina
Que concerta os problemas do sertão

* * *
Zé Adalberto

Vim do ventre materno e me criei
Nesse Ventre Imortal da Poesia
Sou poeta e matuto, disso eu eu sei
Mas estar hoje, aqui, eu não sabia
Doutra terra, se eu fosse, amava enfim
Mas Jesus escolheu esta pra mim
E só o fato de eu ser de Itapetim
Já recebo homenagem todo dia!!!!!!
* * *
Damião Metamorfose

Eu sou a face da terra
que se move no arado
pedaço de chão molhado
com o sangue sujo da guerra
sou o bezerro que berra
sentindo a falta do leite
sou a gota de azeite
que põe sabor na salada
um pouco de tudo e nada
alegórico e sem enfeite.

Alegórico e sem enfeite
sou urubu que tem fome
fareja a carniça e come
resto pra mim é deleite
eu sou assim me aceite
humilde até na riqueza
sou sujeira,sou limpeza
sou o vento poluido
pedaço de pão dormido
sou parte da natureza.
Sou  parte da natureza
eco do seu sistema
a solução do problema
comida que falta à mesa
da serpente eu sou a presa
da águia sou a visão
sou ave de arribação
que migrou para o nordeste
um sonhador que investe
na cultura do sertão.
Na cultura do sertão
eu sou a roça perdida
o pé de planta sem vida
falta de chuva no chão
também sou a escravidão
de um caboclo sonhador
que nunca guarda rancor
da mão que já te feriu
sou a árvore que caiu
no corte do lenhador.
Por isso eu peço um favor
me respeitem eu sou a vida
não usem inseticida
me tratem com mais amor
usem melhor o trator
a mata é o meu pulmão
porque tanta ingratidão
começem a me proteger
se eu morrer quem vai morrer
são os filhos de Adão.
* * *
Um folheto de Leandro Gomes de Barros
AS PROEZAS DE UM NAMORADO MOFINO
Sempre adotei a doutrina
Ditada pelo rifão,
De ver-se a cara do homem
Mas não ver-se o coração,
Entre a palavra e a obra
Há enorme distinção.
Zé-pitada era um rapaz
Que em tempos idos havia
Amava muito uma moça
O pai dela não queria…
O desastre é um diabo
Que persegue a simpatia.
Vivia o rapaz sofrendo
Grande contrariedade
Chorava ao romper da aurora
Gemia ao virar da tarde
A moça era como um pássaro
Privado da liberdade.
Porque João-mole, o pai dela
era um velho perigoso,
Embora que Zé-pitada
Dizia ser revoltoso,
Adiante o leitor verá
Qual era o mais valoroso.
Marocas vivia triste
Pitada vivia em ânsia,
Ele como rapaz moço
No vigo de sua infância,
Falar depende de fôlego
Porém obrar é sustância.
Disse pitada a Marocas,
Eu preciso lhe falar
Já tenho toda certeza,
Que é necessário a raptar,
À noite espere por mim
Que havemos de contratar.
Disse Marocas a Zezinho:
Papai não é de brincadeira,
Diz Zé-pitada, ora esta!
Você pode ver-me as tripas,
Porém não verá carreira.
Diga a que hora hei de ir,
Eu dou conta do recado
Inda seu pai sendo fogo,
Por mim será apagado,
Eu juro contra minh’alma
Que seu pai corre assombrado.
Disse Marocas, meu pai
Tem tanta disposição
Que uma vez tomou um preso
Do poder de um batalhão,
Balas choviam nos ares,
O sangue ensopava o chão.
Disse ele, eu uma vez
Fui de encontro a mil guerreiros,
Entrei pela retaguarda,
Matei logo os artilheiros,
Em menos de dez minutos
O sangue encheu os barreiros.
Disse Marocas, pois bem
Eu espero e pode ir,
Porém encare a desgraça,
Se acaso meu pai nos vir,
Meu pai é de ferro e fogo,
É duro de resistir.
Marocas não confiando
Querendo experimentar,
Olhou para Zé-pitada
Fingindo querer chorar,
Disse meu pai acordou,
E nos ouviu conversar.
Valha-me Nossa Senhora!
Respondeu ele gemendo,
Que diabo eu faço agora?!…
E caiu no chão tremendo,
Oh! Minha Nossa Senhora!
A vós eu me recomendo
Nisso um gato derrubou
Uma lata na dispensa,
Ele pensou que era o velho,
Gritou, oh!, que dor imensa!.
Parece qu’stou ouvindo
Jesus lavrar-me a sentença.
A febre já me atacou,
Sinto frio horrivelmente.
Com muita dor de cabeça,
Uma enorme dor de dente,
Esta me dando a erisipela,
Já sinto o corpo dormente.
Antes eu hoje estivesse
Encerrado na cadeia,
De que morrer na desgraça,
E d’uma morte tão feia,
Veja se pode arrastar-me,
Que minha calça está cheia.
Por alma de sua mãe,
E pela sagrada paixão,
Me arraste por uma perna
E me bote no portão,
A moça quis arrastá-lo,
Não teve onde pôr a mão.
Ela tirou-lhe a botina,
Para ver se o arrastava,
Mas era uma fedentina,
Que a moça não suportava,
Aquela matéria fina
Já todo o chão alagava.
Disse a moça: quer um beijo?
Para ver se tem melhora?
Ele com cara de choro,
Respondeu-lhe, não, senhora,
Beijo não me salva a vida,
Eu só desejo ir-me embora.
Então lhe disse Marocas,
Desgraçado!… eu bem sabia,
Que um ente de teu calibre,
Não pode ter serventia.
Creio que fostes nascido
Em fundo de padaria.
Meu pai ainda não veio
Eu hoje estou sozinha,
Zé-pitada aí se ergueu,
E disse, oh minha santinha!
A moça meteu-lhe o pé,
Dizendo: vai-te murrinha!
E deu-lhe ali uma lata,
Dizendo: está aí o poço,
Você ou lava o quintal
Ou come um cachorro insosso,
Se não eu meto-lhe os pés
Não lhe deixo inteiro um osso.
Disse ele, oh! meu amor!
O corpo todo me treme,
Minha cabecinha está,
Que só um barco sem leme,
Parece-me faltar o pulso,
O Anjo da Guarda geme.
Então a moça lhe disse:
O senhor lava o quintal
Olhe uma tabica aqui!…
Lava por bem ou por mal,
Covardia para mim,
É crime descomunal.
E lá foi nosso rapaz
Se arrastando com a lata,
A moça ali ao pé dele,
Lhe ameaçando a chibata,
Ele exclama chorando
Por amor de Deus não bata.
Vai miserável de porta
Quero já limpo isso tudo,
Um homem de sua marca
Pequeno, feio e pançudo,
Só tendo sido criado
Onde se vende miudo.
Disse o Zé quando saiu:
Eu juro por Deus agora,
Ainda uma moça sendo
Filha de Nossa Senhora,
E olhar para mim, eu digo:
Degraçada, vá embora.

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