segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

EVALDO LISBOA...O EREMITA.


Na minha infância, eu sabia da existência de um homem, educado e fino, que resolveu se trancar para não ver o mundo... morava numa casa antiga, com uma irmã e um irmão...

todos tinhámos muita curiosidade de vê lo e sabe lo...


Verinha, a minha companheira de brincadeiras, me dava notícia do eremita... o que aumentava a minha curiosidade ... e me dizia: bernardo ele é uma pessoa tão boa, tão agradável, tão fina, ele só aparece, ou só sai do quarto para se alimentar...conversa com a irmã e comigo... mas diz que ficou com abuso do mundo, excepcionalmente bota a cabeça na janela, para VER A PASSAGEM DO TREM...


aos vinte anos, tinha uma loja de tecidos, era um bom vendedor, paquerado, dançador, namorador... saía de casa para a loja, cumprindo um mesmo caminho, que era chamado: o zê de evaldo.. pois a trilha percorrida tinha a forma da letra z.


Saí da minha rua, sem nunca ter visto este homem solitário e que não fazia a barba nem o cabelo, apesar da minha curiosidade de plantão.


Anos depois, já era médico residente, e se interna na minha enfermaria, um setentão, magro,hipocrático, alto, risonho e educado... era o homem que não queria ver o mundo...


Me tornei seu amigo e conversávamos muito... um celeiro de informações, muito simpático, lamentando por que nunca tinha me visto... eu respondí: eu morei na sua rua, até 15 anos, e tinha muita curiosidade de saber,por que se briga com o mundo... que estado é este que torna um homem inteligente recluso, apático, e agora estou mais curioso ainda, por que vejo que você não é um louco... ele ria e dizia: deixei de sair por que quis... me sentia bem na minha solidão.Só gostava de sair quando era rapaz, com o meu terno de linho inglês,depois dos trinta anos perdi o gosto.


Nunca conseguí explicar o fenómeno... mas, como se dizia em nova cruz, acho que foi uma PAIXÃO RECOLHIDA. Esta patologia,fez meu amigo eremita,passar 45 anos sem ver a luz do sol. vou repetir Shakespeare:ENTRE O CÉU E A TERRA TEM MAIS MISTÉRIOS, DO QUE SUPÕE A NOSSA VÃ FILOSOFIA...

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