sábado, 27 de junho de 2015

UMA LUZ QUE ILUMINAVA O MEU JARDIM...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

    




           Acordei hoje com um desejo estranho:comprar uma Lamparina...com medo de um apagão...

               fui a feira de santo Antônio, aí começou a chover e eu voltei no escuro....tenho lanternas de pilhas,mas queria uma lamparina, que tivesse asa para eu segurar,queimasse gás, fizesse um fogo,e fizesse tisna...tenho ficado até tarde lendo ou escrevendo, no terraço,a 100 metros do meu quarto...se faltar luz,será problemático...a vela é difícil de encontrar e o vento apaga...vento não apaga lamparina,esta só fica apagada se derramarem o gás...não é uma crise maníaca, é um reliquat de um menino criado em Nova Cruz sem luz , onde os antigos não deixavam de ficar sem um candeeiro na mão... é uma nostalgia, coisas da criança que nunca saiu de dentro da gente...

               A minha avó, no escuro, caminhava com o alumiar da lamparina,Lica Mousinho, outra velha da minha infância, reputava o seu candeeiro como o bem mais precioso da sua vida, pois tinha pavor do escuro...e isso era tão verdadeiro, que a compositora, Dona Ivone Lara, compôs, o candeeiro da vovó, que fala da tristeza da velha negra, quando roubaram o seu bem precioso, que ela havia trazido da África, de Angola.


               Eu sou um homem que Não acredito em almas,mas tenho um medo terrível delas...e no meu jardim piorou...

               Trabalhava, cuidando dele, um velho muito duro, macho, de oitenta anos, chamado BIRÓ...Biró só gostava de tratar o meu jardim, de mascar fumo e de mulher...as vezes,perguntávamos se ele transava...o seu sorriso amarelo,convencia-nos, que era uma AVE TREPADORA...
               Biró era aposentado, era casado com Edite,aposentada por loucura, e Não tinha juízo para temperar um cuscus,que só leva água e sal...estourava o dinheiro das duas aposentadorias,era estroina,pródiga,Biró só comentava rindo,mas acho que ele gostava muito da companheira, do umbigo pra baixo...

               Todo ano nascia um Birozinho, sem ser filho do vizinho.Edite fazia contas volumosas na bodega, que instantaneamente diluia o dinheiro das duas aposentadorias, no instante recebido...Biró escapava, comendo os meus pirões...dava expediente integral, no meu jardim...
             EU parava para ver o seu delírio, varrendo e mascando fumo...nunca me perguntou nada, e só respondia o que eu perguntava, com sorrisos, e eu entendia perfeitamente as respostas, pois na vida, aprendí a ouvir estrelas...

               as vezes, se dizia, amanhã é feriado,Não precisa você vir,poupando-o...ele retrucava: eu venho tratar do jardim por prazer, por que eu gosto...

               e certa vez me disse:gosto tanto daqui, que quando eu morrer,vou viver neste jardim...eu não sairei dele, viverei aguando as plantas...
               Relembrando o velho octogenário Biró, na sua humildade e na sua felicidade,eu revejo Cervantes duas vezes, quando escreveu: O PRAZER ESTÁ NA ESTRADA...

               TRISTE DE QUEM SÓ TEM PRAZER NA HOSPEDARIA.
               EU NÃO ACREDITO EM BRUXARIAS NÃO,MAS QUE ELAS EXISTEM,EXISTEM.






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