quinta-feira, 18 de junho de 2015

SOBRE TOQUE RETAL...





“Tem horas que uma mãozinha se torna um santo remédio”
Jessier Quirino – Poeta e escritor
Vou contar uma história da série: se for mentira, eu “estopore”.
Um médico amigo meu (que não posso nem declinar o nome pelo verdadeiro do causo), sertanejo, sem-vergonhista e risão, estando de plantão na linha de frente dum hospital dessas beiras de rio, aqui na Serra da Borborema, amiudava o tempo para encerrar a sua jornada de um domingo lento… Mas desses domingos compridos e enfadados, feito conversa de crente novo.
No empoleirar das galinhas, por volta das cinco horas da tarde, chega uma família de matutos num Uno Mille sem cano de escape, num zuadeiro do cão, trazendo uma mulher desmaiada (em formato de tábua de bater carne), carregada por um magote de bêbados, que era ver uma alegoria do Proálcool. Eram: o marido da mulher, uma filha e dois sobrinhos, vestidos de bermuda e pés descalços.
A mulher, com vestido inteiriço de alça, magra, taquariça de uns 46 anos, cabelo crespo, tamanho bengala e puxado a pente de cocó, estava que era defunto só.
Auxiliado por Dona Bilinha, enfermeira, lá vai o doutor botar a mulher na maca, e tratar de examinar a paciente, baseando-se no histórico relatado pelo marido encachaçado:
- Ela é minha mulher. Nós tivemos uma discussão de final desmaiado, por conta dum nome (vê se pode?). Um nome pra batizar o menino da gente. Ela quer que seja Aleloídio e eu prefiro Aloídio. No meio do bate-boca, quando eu dei por fé, ela pufo! Caiu assoprando, ainda disse três ai! E desmaiou.
O doutor, esperto que só raposa criada em casa, fez um minucioso exame para ver os reflexos: verificou a pressão, auscultou o coração, respiração, mediu o pulso, conferiu a pupila e apalpou glândulas do pescoço. Depois, alfinetou a planta dos pés com palito, verificou tudo, e a mulher dura, em formato de bronze.
Constatando que se tratava de uma histeria, sem nenhum problema orgânico funcional, ou, popularmente falando, um piti, chilique ou faniquito, tratou de solucionar o problema, pra fechar o seu plantão e ir embora.
Deixou a mulher na maca, foi pra pia lavar as mãos e, de lá, gritou pra enfermeira, que já estava fechando aquele armário branco cheio de curativos e tesouras:
- Ô Dona Bilinha!!! Bote o dedo no cu dessa senhora!!!
A mulher enterrou os pés da maca, que era ver um soldado pra toque de corneteiro, espantou-se toda e disse:
- Ôxe! Esse doutor parece que é doido. Varei-te!!!
Saíu correndo do hospital, e o doutor, varrendo o vento com dedos, dizia:
- Vá, vá, vá, vá, vá simbora! Vá simbora!

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