A REPUTAÇÃO DE MACHADO DE ASSIS
A reputação de Machado de Assis refere-se ao prestígio de sua pessoa e de sua obra desde seu tempo de vida até os dias atuais. Sabe-se que Machado usufruiu de grande prestígio em vida, fato raro para um escritor na época. Desde cedo ganhou reconhecimento de Antônio de Almeida e José de Alencar, que liam-no através de suas crônicas e contos nas revistas e jornais cariocas. Em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas..., Urbano Duarte escreveu que sua obra era "falsa, deficiente, sem nitidez, e sem colorido." Com o impacto inovador do volume, Capistrano de Abreu questionava se o livro era mesmo um romance, ao passo que um outro comentarista chamava-lhe "sem correspondência nas literaturas de ambos os países de língua portuguesa".
Em 1908, a publicação de História da Literatura Brasileira, de José Veríssimo, intensificou esta última perspectiva crítica posicionando Machado de Assis como o cume da literatura nacional. Veríssimo entrou em conflito intelectual com Sílvio Romero, que também atribuía a Machado o título de maior escritor brasileiro, embora não notasse em seu trabalho uma maior expressividade. O Brasil do fim do século XIX e o Brasil no início do século XX eram precários nos meios gráficos e de difusão, todavia a obra machadiana alcançou distantes regiões do país: na primeira metade do século XX, intelectuais e escritores do Mato Grosso já liam Machado e apoiavam-se em seu estilo como grande influência estética. Os modernistas de 22, contudo, consideravam-no "artificioso, sem vida e fora da realidade cotidiana". Mário de Andrade escreveu que, embora tenha produzido apaixonante obra e "do mais alto valor artístico", detestaria tê-lo por perto. Enquanto Astrojildo Pereira preconizava o "nacionalismo" em Machado, Octávio Brandão desprezava a suposta ignorância que o escritor teria do socialismo científico de Marx e Engels. Desta época, destaca-se também a crítica de Augusto Meyer, para quem o uso do homem subterrâneo na obra machadiana é um meio em que ele encontrou para relativizar todas as certezas, e de Barreto Filho, que nota "o espírito trágico que enformaria a obra inteira de Machado, guiando os destinos para a loucura, o absurdo e, no melhor dos casos, a velhice solitária."
A revolução modernista durante o começo e o meio do século vinte aproveitou a obra de Machado em objetivos da vanguarda. Ela foi alvo de feministas da década de 1970, como Helen Caldwell, que enxergou a personagem feminina Capitu de Dom Casmurro como vítima das palavras do narrador-homem, mudando completamente a perspectiva que se tinha até então deste romance. Antonio Candido escreveu que a erudição, a elegância e o estilo vazada numa linguagem castiça contribuíram para a popularidade de Machado de Assis. Com estudos da sexualidade e a psique humana, bem como com o surgimento do existencialismo, atribuiu-se um certo psicologismo às suas obras, especialmente "O Alienista", muitas vezes comparando-as com as de Freud e Sartre. A partir dos anos 80 e seguinte, a obra machadiana ficou amplamente aberta para movimentos co mo a psicanálise, filosofia, relativismo e teoria literária, comprovando que é aberta a diversas interpretações e que nos últimos tempos tem crescido um grande interesse em sua obra.
Chegando aos dias de hoje, com recentes traduções para outras línguas, nos últimos tempos ele tem sido considerado, por críticos e artistas do mundo inteiro, como um "gênio injustamente relegado à negligência mundial". Harold Bloom o posicionou entre os 100 maiores gênios da literatura universal e "o maior literato negro surgido até o presente". Sua obra tem sido estudada hoje em dia por críticos do mundo inteiro.
Gregory Rabassa analisa suas possíveis influências, acredita que Machado é um autor que "traduz a si mesmo" e que é sábio, e concorda com Bloom quando este posiciona Machado ao lado dos grandes da literatura universal, mas não concorda quando ele diz que Machado é um escritor negro: Rabassa acredita que Machado seja, acima disso, um escritor brasileiro. Outros o enxergam como o maior narrador da psicologia do escravismo, em obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas. John Gledson, por exemplo, o considera um autor preocupado com as questões grandes e pequenas de sua época. Críticos recentes, como João Cézar de Castro Rocha, notam que o gênio de Machado constitui-se de severo estudo, trabalho, e de uma dedicação que "vai na contramão da cultura do fácil, do espontâneo, do improviso, que ainda predomina no Brasil.