quinta-feira, 10 de outubro de 2013

VATES POPULARES...

O Doutor e a Roceira
1 – DC
Peguei lápis e papel
Pra botar neste cordel
Dois modos de se viver:
O morador da cidade,
E quem deu prioridade
No campo permanecer.
2 – DC
E para exemplificar
Num debate vou mostrar
Este mundo diferente
Onde cada habitante
De modo interessante
Defende seu ambiente.
3 – DC
Sem futrica e muito fardo
Vou ver Carlos Eduardo
Conversando com Maria
Eu não vou interferir
Apenas quero ouvir
O papo que se inicia.
4 – MC
Sou Maria Campesina
Nesta terra alencarina
Sou poeta popular
Nunca frequentei escola
Mas carrego na cachola
O gosto por versejar.
5 – CE
Eu sou Carlos Eduardo
Sou sujeito estudado,
Aprendi bem a lição
Também me tornei poeta
E seguindo esta meta
Sou mestre na criação.
6 – MC
Eu nasci num lugarejo
E nunca foi meu desejo
Da minha estância sair
Gosto da vida na roça
Lá tem mais do que palhoça
Nem esquento com porvir.
7 – CE
Já eu sou um citadino
Com a capital me afino
Pois lá tenho condições
De fazer bonita história
Crescer e alcançar glória
Ter boas colocações.
8 – MC
Eu canto a natureza
Me encanto com a beleza
Deste meu rude sertão
Eu canto matas e rios
E encaro os desafios
Só usando inspiração.
9 – CE
Eu canto os verdes mares,
Praias, vagas singulares
Um canto da capital.
Canto com facilidade
Canto a modernidade
De uma vida sem igual.
10 – MC
Quando chega o fim do dia
Vejo a lua que alumia
O meu querido torrão
E curto a boca da noite
O vento vem como açoite
E afaga meu coração.
11 – CE
Já eu, abro meu terno,
Na verdade é um inferno…
O tal engarrafamento.
Pego o meu automóvel
Sigo para meu imóvel
Nesta hora eu lamento.
12 – MC
Aqui monto meu jumento
E sem aborrecimento
Eu vou a qualquer lugar
E ninguém para meu trote
Às vezes vou a galope
Pra mais ligeiro chegar.
13 – CE
Para não me aborrecer
Eu resolvo me entreter,
Ligando meu som potente.
Também uso o celular
Pois o trânsito é devagar
Tenho que ser paciente.
14 – MC
Pois eu armo minha rede
Taco meu pé na parede
Começo a me balançar
Se alguém toca um violão
Sendo bonita a canção,
Também me dano a cantar.
15 – CE
Chego em casa estressado
Ligo o ar condicionado,
Computador, televisão.
Navego na internet,
Esta rede que promete,
Ao mundo nova visão.
16 – MC
Eu moro numa casinha,
De reboco, mas é minha
Sem grade pra me prender
Eu corro pelas campinas
Nestas terras nordestinas
Terra que me viu nascer.
17 – CE
Meu prédio é todo cercado
Tem grade de todo lado.
A segurança é total.
Eu subo de elevador
Com ar de grande senhor
E tenho até serviçal.
18 – MC
No meu rancho singelo
O amanhecer é tão belo
Com a passarada a cantar.
Galo canta outro responde
Vejo o sol que não se esconde,
Resplandecente a brilhar.
19 – CE
Acordo com um rumor
Do hábil despertador
Barulhento a me acordar.
E corro para a labuta,
Pois a vida é uma luta,
A qual tenho que enfrentar.
20 – MC
Eu bem sei que sou roceira
Não estou pra brincadeira
Meu senhor, não leve a mal
Vou confessar a verdade
Adoro a simplicidade
Da minha vida rural.
21 – CE
Eu na cidade nasci,
De tudo aqui aprendi
Rezo mesmo neste altar.
Gosto de morar no alto
De pisar no negro asfalto,
Onde prefiro habitar.
22 – MC
É melhor viver numa oca
Dando tapa em muriçoca,
E peteleco em mutuca.
Do que viver agastada
Levando vida agitada
Que nem vida de maluca.
23 – CE
Já eu penso diferente
Não viveria contente
Se eu residisse no campo
Vivo em outra conjuntura
É outra minha cultura
É na cidade meu trampo
24 – MC
Quando o dia principia
Vejo em cores a magia
Tingindo o meu sertão.
A natureza acordando
O rei sol se espreguiçando
É um poema meu chão!
25 – CE
Do alto de minha janela
Vejo uma paisagem bela
E transbordo de alegria
Mirando o raiar do sol
Entrevejo no arrebol
Indícios de poesia!
26 – MC
Quando vejo um passarinho
Cantando, fazendo ninho,
Eu agradeço ao Senhor
E bendigo a natureza
Isto sim chamo riqueza!
Acredite seu Doutor.
27 – CE
Minha cara camponesa
Um pouco desta beleza
Só vejo em parque e jardim
Quando vou me exercitar,
Espairecer ou relaxar
Cuidar um pouco de mim.
28 – MC
Eu fiz minha louvação
Ao meu amado rincão
Ao meu solo querido
E escutei com emoção
A sua declaração
Ao seu lugar preferido.
29 – CE
Respeito sua opinião,
Quero como cidadão,
Também ser bem respeitado.
Acatar a diferença,
É marcar boa presença
E num combate elevado
30 – MC
Sou Maria Campesina
Eu falei da minha sina
Da minha vida roceira
Desta vida que me agrada
Não troco ela por nada
Adoro minha ribeira.
31 – CE
Eu sou Carlos Eduardo
Também falei sem resguardo
D’onde gosto de morar
Vivo na cidade grande
Onde o progresso brande
Onde finquei o meu lar.
32 – DC
Assim termina a contenda
Sem rasura sem emenda
Com extensa explanação
Para meu contentamento
Valeu, sim, cada argumento,
Exposto na preleção.
Fim

Nenhum comentário:

Postar um comentário