domingo, 27 de outubro de 2013

GLOSANDO...

O genial cantador repentista paraibano Pinto do Monteiro (1896-1991)
Pinto do Monteiro glosando o mote:
Comi na casa de Pinto
Galinha com rapadura.
Cheguei numa ocasião
Que procurei, mas não tinha
Nem xerém e nem farinha,
Nem arroz nem macarrão,
Fubá, bolacha nem pão,
Nem salada de verdura,
Por não ter outra mistura,
Eu que vinha tão faminto,
Comi na casa de Pinto
Galinha com rapadura.
* * *
Pinto do Monteiro glosando o mote:
Na grandeza do Amazonas
Encontrei meu grande amor.
O pobre do seringueiro
Tem o índio por vigia,
O macaco por espia,
E o tigre por companheiro!
A bem de ganhar dinheiro,
Trabalha seja onde for.
Mas eu fui foi ver a flor
Que habita àquelas zonas!
Na grandeza do Amazonas,
Encontrei meu grande amor.
* * *
Moisés Sesiom glosando o mote:
Dá sapato e dá gibão
Toda obra o couro dá.
Dá manta, bota e silhão,
Dá chapéu, dá bandoleira,
Dá carona e dá perneira,
Dá sapato e dá gibão.
Pra se fazer matulão
O couro é como não há,
Serve até pra caçuá,
Dá peia, da rabichola,
Se prendendo a couro ou sola,
Toda obra o couro dá.
* * *
Ivanildo Vilanova glosando o mote:
Quem maltrata um inocente
Não tem Deus no coração.
Devia ser fuzilado
Quem usa punho ou chibata
Ou qualquer um que maltrata
O menor abandonado
Mesmo sendo batizado
Para mim não é cristão
Quem bate com cinturão
Tem o demônio na mente
Quem maltrata um inocente
Não tem Deus no coração.
* * *
Cícero Moraes e Lima Júnior glosando o mote:
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
Cícero Moraes
Todos nós já nascemos com missão
A cumprir quando em vida aqui na terra
No momento em que a vida se encerra
Nós cumprimos a determinação
E o chamado de Deus para a mansão
Vem às vezes de uma forma singela
Quando a alma se solta e o corpo gela
A viagem ao céu é no instante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
Lima Júnior
O relógio da vida marca a hora
Reservada pra última viagem
Sem comprar um bilhete de passagem
Nem saber o momento de ir embora
Perde a vista quem vai, quem fica chora
Quando a terra nos abre uma janela
O espírito se solta o corpo gela
E o caixão é o transporte mais possante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela
Cícero Moraes
Se perder um amigo faz pesar,
Imagine um filhinho ou um irmão
É capaz de parar o coração,
Não existe quem possa amenizar
Tanta dor e tristeza no olhar
No momento de uma sentinela
E lembrando essa pessoa bela
A saudade se torna agonizante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
Lima Júnior
A matéria cansada não atende
Aos comandos da mente que se cansa
A pressão sobe e desce igual balança
Quando encurta a passada e o corpo pende
Sem a força vital não compreende
Vendo um anjo fazendo sentinela
Vem um sopro da morte apaga a vela
E a Deus manda mais um ser errante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
* * *
Miguel Leonardo glosando o mote:
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.
Ainda sinto bem forte em meu ouvido
O martelo tinindo do ferreiro,
O cantar do rei galo no poleiro
E o jegue rinchando co’alarido.
Foguetório gerando um estampido
Numa noite animada de São João,
Passarinhos fazendo saudação
No horário do dia amanhecer,
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.
* * *
Carlos Severiano Cavalcanti glosando o mote:
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Fui ao silo e tirei toda a semente
que restava guardada há mais de um ano
e saí a plantar em solo plano
na esperança de inverno consistente.
O trovão ribombou e de repente
envolvi-me no som da trovoada.
O riacho rosnando na enxurrada,
o meu milho pouquinho semeado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Trinta dias depois da plantação
eu gostava de ver meu milharal
verdejante, brilhando, colossal,
alegrando meu frágil coração.
Fiz a limpa primeira na intenção
de arrancar todo o mato usando a enxada,
começava a limpar de madrugada
sem contudo sentir-me mais cansado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
O pendão começou a tremular,
quando o sol assumiu a dianteira,
a trocar chão molhado por poeira,
a neblina deixou de borrifar,
a lavoura teimava em não murchar,
mas a haste do milho, já envergada
pendurava a boneca atrofiada
enquanto eu contemplava amargurado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Perdi tudo o que tinha de semente,
não deixei transformá-la no cuscuz,
carreguei cabisbaixo a minha cruz,
enfrentei a dureza do sol quente,
vejo agora o sofrer da minha gente
sem destino na terra desolada,
transeunte nas margens de uma estrada
indo à toa, sem rumo, em qualquer lado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Vejo a barra ao quebrar e fico atento,
para ver se a invernada inda retorna,
entretanto, a manhã já nasce morna,
o que traz para mim um desalento,
desespero ante a dor desse momento,
minha casa sem luz, vive apagada,
o sertão vendo a flora incinerada,
o seu povo sem rumo e flagelado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Já não ouço o cantar dos rouxinóis,
não escuto o arrulhar das juritis,
raramente ouço poucos bem-te-vis,
saltitantes nos galhos do cipós.
No horizonte tem mais pores de sóis
inundando de luz toda a chapada,
a paisagem cinérea iluminada
quando a lua esparrama o seu dourado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
* * *
Alfrânio Gomes de Brito glosando o mote:
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode insistir que eu não mereço
Ser o seu “João Batista” ou seu poeta,
Você pode pedir, bem mais discreta,
Que eu esqueça de vez seu endereço.
Esquecer seu pedido eu não esqueço,
Só não posso de pronto lhe atender ,
E o motivo só posso lhe dizer
Quando um dia, talvez, me procurar…
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode querer ficar distante
E tentar me varrer da sua história,
Mas vou sempre habitar sua memória
Como amor, como amigo ou como amante.
Garantir de uma vez ninguém garante
Que essa história não volte a acontecer!
Mas a vida é um moinho e por moer
Faz o rio de novo retornar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode pedir que eu lhe esqueça
Que me ausente e que deixe a sua vida
Mas é coisa demais pra ser pedida
É querer decepar minha cabeça.
É querer me pedir que eu amanheça
Sem sequer um motivo pra viver,
Pois querer me impedir de lhe querer
É querer morto-vivo me enterrar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode fugir dos meus anseios,
Não querer meus carinhos novamente,
Você pode mostra-se indiferente,
Pode até nem ler mais os meus e-mails.
Mas meu beijo e os meus toques nos seus seios
Lhe fazer todo corpo estremecer
E a maneira que tenho de lhe ter
Isto é coisa demais pra se apagar!
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode evitar-me a companhia
Não lembrar quantas vezes nos meus braços
Já saltou, e o vigor dos meus abraços
Lhe apertar com ternura e energia.
Meu calor sobre o seu na noite fria
Lhe fazer todo o corpo se acender,
O meu jeito impulsivo de querer,
Seu jeitinho dengoso de aceitar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode ausentar-se e conseguir
Se esquivar dos abraços e meus beijos,
Mas não pode esquivar-se dos desejos
Que te guardo nas horas de dormir.
Me restando a proposta de fingir
Possuindo o teu corpo e o teu ser
Me concentro e me deixo acontecer
Nesta sede incessante de te amar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode implorar todos os dias
Que eu esqueça os momentos que passamos,
Dos distintos locais que nos amamos,
Nossos gostos e as nossas fantasias.
Você pode esquecer as agonias
Dos momentos sofridos sem lhe ver,
Se não possa o amor reconhecer
Nunca mais se conjugue o verbo amar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
* * *

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