A PRÓXIMA VIAGEM – Diniz Vitorino
Aonde irei? Qual será o novo porto
Que terei para minhas aventuras?
Os abismos profundos do mar morto
Ou as rubras galáxias das alturas?
O meu destino eu não sei, sei que, absorto
Rogo a Deus que perdoe minhas loucuras
E, com os dedos em riste, indique o horto
Para minhas passadas inseguras
Seja ele como for subi-lo-ei
Se garranchos houver, os pisarei
Mesmo abrindo nos pés profundas chagas
Vendo o sangue cair das faces lívidas
Me proponho a quitar todas as dívidas
Que na terra por mim não foram pagas.
* * *
O PEIXE – Patativa do Assaré
Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.
Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a inconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.
O camponês, também, do nosso Estado,
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.
Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!
* * *
MORRIA O SOL NO OCASO – Otacílio de
Azevedo
Morria o sol no ocaso e o olhar de minha
amada
qual rubro sol distante, a rutilar, morria…
Gemia o seu soluço errando pela estrada
e errando pela estrada eu, mísero, gemia!
Perdia o sol tombando, a clara luz doirada
e o vulto dela, ao longe, aos poucos, se
perdia.
Fugia o meu olhar no curso da jornada
e o seu magoado olhar tristíssimo fugia…
O sol tombou no poente em nuvens de
oiro
e arminho,
e Cleonice, chorando, à curva do meu
caminho,
entre as sombras da noite, exânime
tombou…
Entanto, o mesmo sol que desmaiara
outrora,
vem todas as manhãs ao despontar da
aurora,
só ela, nunca mais, oh! nunca mais voltou!
* * *
MEU AMIGO POETA – Noé de Job Patriota
Meu amigo poeta meu irmão
Companheiro de farra em toda mesa
Nossa alma poética vive acessa
Com a luz da divina inspiração
Faça um verso repleto de ilusão
Que a ilusão do poema é mensageira
Que um poeta que canta a vida inteira
Guarda dádivas de amor no coração
Numa mesa de bar fica bebendo
E assim sempre o passado revivendo
Se embriaga com goles de emoção
Peregrino das noites inquietas
Andarilho das sendas incompletas
Navegante dos mares da paixão.
* * *
DIVERGÊNCIA – Manoel Filó
Seja grosseira, me responda aos gritos
Encha de mágoa o meu interior
Seus seios virgens, quentes e bonitos
Também tiveram culpa em minha dor.
Sem machucar os corações aflitos
Deve ser muito bom morrer de amor
Seus olhos mostram dois aerólitos
Enfeitando o espaço ao sol se pôr.
Já que não posso merecer seu porte
Fico parado condenado a sorte
Que não nos trouxe condições iguais.
Eu não sou cofre de guardar segredo
Ou tive culpa de nascer mais cedo
Ou foi você que demorou demais.
* * *
DESARMAI VOSSOS FILHOS – Pompílio Diniz
Desarmai vossos filhos pequeninos
Para depois não vê-los transformados
Em párias marginais e celerados
Cruéis e perigosos assassinos!
Lembrai-vos de que foram tais meninos
Tão cedo, seus instintos despertados
Por armas e brinquedos simulados
De “mocinhos”, “bandidos” e traquinos!
Desarmai vossos filhos, desarmai-os
Para depois não tê-los nos ensaios
Da delinquência e do ódio prematuro!
Não dei aos vossos filhos tais presentes
Esses brinquedos de armas são sementes
De crimes que plantais para o futuro!
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