quarta-feira, 16 de outubro de 2013

LITERATURA DE CORDEL...

A PRÓXIMA VIAGEM – Diniz Vitorino


Aonde irei? Qual será o novo porto

Que terei para minhas aventuras?

Os abismos profundos do mar morto

Ou as rubras galáxias das alturas?

O meu destino eu não sei, sei que, absorto

Rogo a Deus que perdoe minhas loucuras

E, com os dedos em riste, indique o horto

Para minhas passadas inseguras

Seja ele como for subi-lo-ei

Se garranchos houver, os pisarei

Mesmo abrindo nos pés profundas chagas

Vendo o sangue cair das faces lívidas

Me proponho a quitar todas as dívidas

Que na terra por mim não foram pagas.

* * *
O PEIXE – Patativa do Assaré


Tendo por berço o lago cristalino,

Folga o peixe, a nadar todo inocente,

Medo ou receio do porvir não sente,

Pois vive incauto do fatal destino.

Se na ponta de um fio longo e fino

A isca avista, ferra-a inconsciente,

Ficando o pobre peixe de repente,

Preso ao anzol do pescador ladino.

O camponês, também, do nosso Estado,

Ante a campanha eleitoral, coitado!

Daquele peixe tem a mesma sorte.

Antes do pleito, festa, riso e gosto,

Depois do pleito, imposto e mais imposto.

Pobre matuto do sertão do Norte!

* * *


MORRIA O SOL NO OCASO – Otacílio de 

Azevedo

Morria o sol no ocaso e o olhar de minha 

amada

qual rubro sol distante, a rutilar, morria…

Gemia o seu soluço errando pela estrada

e errando pela estrada eu, mísero, gemia!

Perdia o sol tombando, a clara luz doirada

e o vulto dela, ao longe, aos poucos, se 

perdia.

Fugia o meu olhar no curso da jornada

e o seu magoado olhar tristíssimo fugia…

O sol tombou no poente em nuvens de 

oiro 

e arminho,

e Cleonice, chorando, à curva do meu 

caminho,

entre as sombras da noite, exânime 

tombou…

Entanto, o mesmo sol que desmaiara 

outrora,

vem todas as manhãs ao despontar da 

aurora,

só ela, nunca mais, oh! nunca mais voltou!

* * *

MEU AMIGO POETA – Noé de Job Patriota


Meu amigo poeta meu irmão

Companheiro de farra em toda mesa

Nossa alma poética vive acessa

Com a luz da divina inspiração

Faça um verso repleto de ilusão

Que a ilusão do poema é mensageira

Que um poeta que canta a vida inteira

Guarda dádivas de amor no coração

Numa mesa de bar fica bebendo

E assim sempre o passado revivendo

Se embriaga com goles de emoção

Peregrino das noites inquietas

Andarilho das sendas incompletas

Navegante dos mares da paixão.

* * *
DIVERGÊNCIA – Manoel Filó


Seja grosseira, me responda aos gritos

Encha de mágoa o meu interior

Seus seios virgens, quentes e bonitos

Também tiveram culpa em minha dor.

Sem machucar os corações aflitos

Deve ser muito bom morrer de amor

Seus olhos mostram dois aerólitos

Enfeitando o espaço ao sol se pôr.

Já que não posso merecer seu porte

Fico parado condenado a sorte


Que não nos trouxe condições iguais.

Eu não sou cofre de guardar segredo



Ou tive culpa de nascer mais cedo

Ou foi você que demorou demais.

* * *

DESARMAI VOSSOS FILHOS – Pompílio Diniz


Desarmai vossos filhos pequeninos

Para depois não vê-los transformados

Em párias marginais e celerados

Cruéis e perigosos assassinos!

Lembrai-vos de que foram tais meninos

Tão cedo, seus instintos despertados

Por armas e brinquedos simulados

De “mocinhos”, “bandidos” e traquinos!

Desarmai vossos filhos, desarmai-os

Para depois não tê-los nos ensaios

Da delinquência e do ódio prematuro!

Não dei aos vossos filhos tais presentes

Esses brinquedos de armas são sementes

De crimes que plantais para o futuro!


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