segunda-feira, 7 de outubro de 2013

BEBENDO CULTURA...

MERCÚCIO – SOLILÓQUIO

William Shakespeare, in Romeu e Julieta.

Sonhei que Mab, a rainha, o visitou.
É a parteira das fadas e ela vinha
Como uma ágata pequenininha
No dedo indicador de um conselheiro.
Puxada por um par de vermezinhos
A correr no nariz do adormecido.
Uma casca de noz é sua carruagem,
Feita por um esquilo carpinteiro;
Que sempre foi das fadas carreteiro.
As varas são perninhas de uma aranha,
Asas de gafanhoto sua cobertura;
As rédeas vêm de teias pequeninas,
E a canga, de réstias de luar.
O seu chicote é um ossinho de grilo,
Seu cocheiro, uma mosca varejeira cinza
Que não é nem metade de uma larva
Que uma donzela tira do dedinho;
Assim cavalga ela pela noite
E, atravessando o cérebro do amante,
Faz nascerem ali sonhos de amor;
Nos joelhos dos nobres, cortesias,
No dedo do advogado, grandes ganhos;
Os lábios das donzelas sonham beijos,
Mas Mab, zangada, faz nascerem bolhas
Nos que encontra borrados por bombons.
Se pesa no nariz de um cortesão,
Ela sonha com o cheiro de favores;
Às vezes passa o rabo de um leitão
Pelo nariz de um cura adormecido,
E o faz sonhar com mais uma prebenda.
Se passa no pescoço de um soldado,
Seu sonho é com a degola do inimigo,
Ou com assaltos, aço e emboscadas,
Ou mares de bebida; e, logo após,
Toca o tambor no ouvido, ele desperta
Assustado, e, depois de uma oração ou duas,
Dorme de novo. É essa aquela Mab
Que embaraça a crina dos cavalos
E assa as carapinhas dos capetas
Que, penteadas, trazem grandes males.
É essa a velha que, se uma donzela
Adormece de costas, deita em cima
E a ensina a arcar com um peso vivo,
Pra aprender a pesar com outras cargas.

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