O BAÚ
Ermelindo Souto era um homem bom, amigo de todos, e de boa conversa. Era Vereador numa cidade do interior do Rio Grande do Norte, e já planejava se candidatar a um novo mandato nas próximas eleições. Era inteligente, eloquente, e tinha o dom da oratória. Só tinha um defeito: Não sabia guardar segredo…
Com a maior facilidade, ele passava para frente qualquer história que alguém lhe contasse, principalmente se lhe fosse pedido sigilo. Era o chamado bocão. Falava demais, mas não fazia isso por maldade. Era o seu jeito de ser. Quando lhe reclamavam da sua indiscrição, respondia em cima da bucha: “Quem tiver seus segredos não me conte!…” Dizia abertamente que a sua língua coçava, se alguém lhe contasse alguma coisa e ele guardasse somente para si. Não achava nada demais passar para frente um segredo que o próprio dono não conseguira guardar.
Num certo dia, um eleitor seu, que levava mais chifres do que pano de toureiro, encheu a cara de cachaça e foi procurá-lo, para lhe confidenciar o drama que estava vivendo em casa, diante da traição da esposa. Queria ouvir sua opinião sobre a atitude que pretendia tomar. Na verdade, o homem estava precisando desabafar as suas mágoas. E foi logo dizendo:
- Dr. Ermelindo, eu tenho um segredo para contar ao senhor, mas quero que fique somente entre nós dois. Tenho que resolver minha vida, e quero lhe pedir um conselho… Tenho dez anos de casado com Maria, mas descobri agora que estou levando chifres. Quero que o senhor não conte isso a ninguém…
Ermelindo, sentindo-se ferido com a recomendação, reagiu irritado:
- Não precisava me pedir segredo!!! Minha boca é um túmulo…Mas se você é o dono do segredo, quem tem de guardar esse segredo é você. Se você não é capaz de guardá-lo, quanto mais eu!!! E quer saber de uma coisa? E não sou baú!…
E a história se espalhou…
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