quinta-feira, 31 de outubro de 2013

OS NETOS TEM GOSTO DE AÇUCAR...DIX-UIT-ROSADO...

Carta ao neto - Flávio Cavalcante

Carta ao neto

Meu neto,
Pelo o que você já me disse com o seu sotaque de anjo, percebo que você me considera uma criança grandona e desajeitada, e me acha, mesmo assim, seu melhor companheiro de brinquedos.
Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro.

E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança.

Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência do meu genro, ou quem sabe até uma lágrima de minha filha, quero lhe dizer meu neto, que vale a pena.

Vale a pena crescer e estudar.

Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções, e a despeito de tudo isso, foi por causa de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade essencial da criatura humana, e o seu deslumbramento diante da vida.
Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar; que se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante.

Vale a pena casar e ter filhos.

Filhos, que nos escravizaram com o seu amor.

Vale a pena viver nesses assombrosos tempos modernos, em que milagres acontecem ao virar de um botão; em que se pode telefonar da Terra para a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes à fronteira de outros mundos, e descobrir na humildade que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo sequer a chegada da primavera.

Vale a pena meu neto, mesmo quando você descobrir que tudo isso que estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere, e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.
Vale a pena, até mesmo, envelhecer como eu e ter um neto como você, que me devolveu a infância.
Vale a pena, ainda que eu parta cedo e a sua lembrança de mim se torne vaga.

Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero que você diga de mim simplesmente isso:
"Meu avô foi aquele que me disse que valia a pena.
E não é que ele tinha razão!"
**Flávio Cavalcante**

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A MORTE DO MÉDICO PEDIATRA DR. ANCHIETA...



          DIVULGO COM TRISTEZA O FALECIMENTO DO MEU AMIGO MÉDICO, PEDIATRA, DR. ANCHIETA...MORREU  COM 62 ANOS...
          FOI UM AMIGO QUE ME PRESTIGIOU MUITO, QUANDO EU ERA DIRETOR DO HOSPITAL WALFREDO GURGEL...MANDO O MEU ABRAÇO DE SENTIMENTOS PARA A VIÚVA, A ASSISTENTE SOCIAL ANA PEREIRA PINTO, QUE TAMBÉM ME AJUDOU MUITO, A DIRIGIR O CITADO HOSPITAL...
          SEMPRE NOS ENCONTRAVÁMOS NAS FESTAS, NO DANCE...PÁRAVAMOS DE DANÇAR PARA CONVERSAR...SAUDADES...

terça-feira, 29 de outubro de 2013

INCOMPATIBILIDADE DE GENIOS...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...

O motivo de muita separação é a incompatibildade de genios...se é verdade eu nào sei, mas é uma boa desculpa...
Conhecí uma jovem senhora que fez tudo para segurar o marido...um dos seus falidos cuidados, foi coar a aguá do marido ,na calcinha... é uma simpatia para prender homem...tem mulher, que passa até o café na calcinha, para segurar o seu homem...pensei que isto fosse somente em Nova Cruz, mas escuto uma canção de João Bosco, que fala nas mesmas práticas...Não sei qual é o princípio ativo ou farmacológico do suco de Xibiu...
as cariocas também conhecem a simpatia...escutem, um homem se consultando a um psiquiatra, dizendo da sua angústia, e da necessidade de se separar...
Só um psiquiatra como Aldir Blanc, poderia fazer uma música desta, que não deixa de ser uma consulta a um psiquiatra...

Incompatibilidade de Gênios

João Bosco
Composição: João Bosco/Aldir Blanc


Dotô,
jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou,
Mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais,
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
Sem dó falou,
sem dó falou ,que por ela eu podia cegar.
Se eu dou,
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
Bastou,
Durante dez noites me faz jejuar
Levou,
As minhas cuecas pro bruxo rezar.
Coou,
Meu café na calça prá me segurar
Se eu tô
Devendo dinheiro e vem um me cobrar
Dotô,
A peste abre a porta e ainda manda sentar
Depois,
Se eu mudo de emprego que é prá melhorar
Vê só,
Convida a mãe dela prá ir morar lá
Dotô,
Se eu peço feijão ela deixa salgar
Calor,
Mas veste o casaco veste casaco prá me atazanar
E ontem,
Sonhando comigo mandou eu jogar
No burro,
E deu na cabeça a centena e o milhar
Ai, quero me separar

PELO AVESSO...

martelando
Avesso de frevo é valsa
E o de galope é trote
De cachimbo é currimboque
Avesso de samba é salsa
O de verdadeira é falsa
O de tango é uma balada
De amarga é açucarada
De Exu é Pomba-gira
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
O avesso de tapera
É mansão de cabra lorde
Avesso de carro Ford
É fubica rastaqüera
O avesso de quimera
É uma dura cutilada
Avesso do fado é vira
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
Avesso de ouro é prata
Avesso de prata é ouro
De lagartixa é besouro
De borboleta é barata
Fui caçar no mei’ da mata
Achei um camaleão
O bicho de supetão
Fugiu feito o Curupira
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
Avesso de rico é pobre
E de ladrão é honesto
Da fartura o avesso é resto
Do plebeu o avesso é nobre
O de esconde é descobre
Avesso de põe é tira
Quem quiser dance a catira
Que é dança bem balançada
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
Agora eu quero saber
Se você sabe me diga
Não venha fazer intriga
Para não me aborrecer
Pois eu fico a remoer
De uma forma acentuada
Que o avesso de invernada
É seca, que a vida tira
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
Se tudo tem o seu preço
(E nessa vida é assim)
Quem quiser que ache ruim
Qual é o avesso do avesso?
Vou penar, mas não mereço
Calar a boca por nada
Sem jogar minha cartada
Emudecer minha lira
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
Mesmo amarrado de embira
Sou poeta curioso
Vou procurar, sou teimoso
O avesso da mentira
Se uma coisa me admira
É a verdade filtrada
Branca que nem a coalhada
Servida de manhã cedo
Se um fato não mete medo
É a verdade escancarada
Uma coisa que me inspira
É a paz na consciência
Eu busco, por consequência
O avesso da mentira
Nessa rota ninguém tira
Minha decisão cerrada
Se a verdade for falada
E em alguém doer, que doa
Pois se tem uma coisa boa
É a verdade escancarada
O avesso da mentira
Incomoda a muita gente
Se o cabra fica doente
A sua cabeça gira
Pensa na morte e retira
Qualquer idéia malvada
E feito um’ alma penada
Começa a se arrepender
Reza pra não conhecer
A verdade escancarada
Um político nojento
Candidato a deputado
Um cabra bem relaxado
Ficha-suja e lazarento
Foi roubar no orçamento
De uma obra avacalhada
E feito cobra criada
Mostrou que era um traíra
O avesso da mentira
É a verdade escancarada
O avesso da mentira
É a verdade impoluta
Deve ser a nossa luta
Cuidar que ninguém lhe fira
E enquanto a roda gira
Na vida sacrificada
Pelo honesto estimada
O farsante não responde:
– Aonde se esconde, aonde,
A verdade escancarada?
Assim termino essa história
Filosofando às avessas
Eu espero que não meças
Mentiras que eu tenha dito
E que não me passes pito
Por alguma coisa errada
Ou aqui mal colocada
Se fugi à minha mira
Pois o avesso da mentira
É a verdade escancarada

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

KING E A BOCA CHEIA DE CABELO...

KING ERA UM CACHORRO VIRA LATA, DE PORTE MÉDIO...PARA ser vira lata e viver solto, foi um cachorro muito brabo... nunca consegui vacina l0.morava em santo António, era o diretor do Hospital do Crutac, e quando ia á casa de minha irmã, tinha pena de King, que do ponto de vistas das vacinas, era criado como Deus criou batata...tentei muitas vezes, filantropicamente, vacina lo...ele nunca deixou, e me avançava...
A minha mãe tinha loucura por perucas... era vaidosa... era peruca as vinte e quatro horas do dia...mas houve um deslize... ela deu bobeira com a peruca...
A calçada esta cheia de gente, quando chega marquinhos, meu sobrinho neto de quatro anos, correndo, pálido, cansado, com toda a responsabilidade do mundo sobre os ombros, e gritou: ACUDAM ,ACUDAM, KING ESTÁ COM A BOCETA DE VOVÓ NA BOCA...

SE BOTAR MAIS UM BICHO, O RABO FICA DE FORA...PINTO DO ACORDEON...

A POESIA DE MÁRIO QUINTANA...



O Laço e o Abraço
Mário Quintana

Meu Deus!!! Como é engraçado!...
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
Uma fita dando voltas? Se enrosca...
Mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o abraço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando devagarinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E na fita que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento?
Como um pedaço de fita?
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz - romperam-se os laços.-
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor é isso...
Não prende, não escraviza, não aperta, não sufoca.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.

SOBRE CASAMENTO...



Foto: kkkkkkkkk

domingo, 27 de outubro de 2013

É PROIBIDO ENVELHECER NA NOSSA CASA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


É PROIBIDO SE ENVELHECER NA CASA NOSSA.
É PROIBIDO SE ENVELHECER NA CASA DA GENTE...quando o cidadão vai ficando mais velho, recebe a visita do filho dizendo que aquela casa é muito grande para ele e a esposa...que a violência está muito grande...que ele deve se mudar para um apartamento...na casa eles ficam muito sós... é muito grande.
semanas depois, o filho já chega com a proposta da construtora:a casa será transformada em edifício, e o cidadão terá direito á quatro apartamentos...
enfim, o casal é colocado no apartamento, e apenas nas primeiras semanas , recebe a visita frequente dos filhos..
com o tempo, as visitas vão ficando mais espassadas, e no fim, se passa na casa dos pais na sexta, e se diz até segunda...
com o passar do tempo aquele casal se afunda em tristeza e depressão... se tornam um casal de galinha de granja...limpinhos,com os antidepressivos na mesa de cabeceira,o plano de saúde em dia, e qualquer coisa chame a ambulancia..é impresionante a solidão neste estágio...
tempos depois, o idoso começa a ter fugas na memória, vai ficando parado, e se contrata uma babá... é a doença de Alzheimer...
agora, o velho vai ser perpetuado até quando se puder, ele tem um bom contra cheque...
nesta época vai precisar de uma gastrostomia, pois está engolindo com dificuldade... a seguir, precisará de uma traqueostomia, pois está retendo muita secreção...
agora, já está pelo home care, tem oxigénio do lado, aspirador, um estranho tomando conta, e os filhos administrando o dinheiro, até que a morte os puna.
chega um tempo que as escaras e as infecções vem e fazem justiça. NEM que seja, depois de seis meses em coma, na UTI.

Acho que ninguém está tão velho que não possa viver na sua casa, onde sempre morou,dando osso ao seu cachorro, leite pro seu gato, alpiste pro seu passarinho... aguando o seu jardim... beijando as suas flores, contemplando a sua rua, curtindo o seu destino...
a retirada do idoso da casa para o apartamento, é destina-lo á um campo de concentração... a maioria dos idosos, morre é de solidão.

Nunca tratei a vida como um eterno NEGÓCIO...

QUANDO A DOR ESTÁ NA LÍNGUA DO POVO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


Trabalhei com um auxiliar de enfermagem excelente... competente, dedicado e que gostava do que fazia... as vezes, me levantava de madrugada, e o surpreendia fazendo curativos,limpando os ferimentos dos atropelados,limpando secreções, com amor, com dedicação... estes atos me levavam a reflexão... o dever de também o imita-lo, na arte de curar. de tratar bem, de ser profissional...fazia os curativos como se fosse muito bem remunerado... demonstrava prazer, nos seus gestos e palavras.
O outro lado do profissional era o de ser muito sério e engraçado... tudo o que, seriamente falava, era Hilariante ...
Saía de casa um HOMEM, onde era um bom pai, um bom esposo,um machão...PORÉM, com o balanço do coletivo, apresentava uma folga na direção, e já chegava no trabalho efeminado... Frescura somente na rua, discretamente...
Certa vez surpeendí o seguinte colóquio... duas colegas de trabalho estava lhe interrogando sobre a prática sodômica.... e perguntaram-lhe, se a Sodomia doía...ele de imediato respondeu:de jeito algum... O que Dói é a Língua do povo...

FLORBELA ESPANCA...




Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
O BAÚ
BAÚ II
Ermelindo Souto era um homem bom, amigo de todos, e de boa conversa. Era Vereador numa cidade do interior do Rio Grande do Norte, e já planejava se candidatar a um novo mandato nas próximas eleições. Era inteligente, eloquente, e tinha o dom da oratória. Só tinha um defeito: Não sabia guardar segredo…
Com a maior facilidade, ele passava para frente qualquer história que alguém lhe contasse, principalmente se lhe fosse pedido sigilo. Era o chamado bocão. Falava demais, mas não fazia isso por maldade. Era o seu jeito de ser. Quando lhe reclamavam da sua indiscrição, respondia em cima da bucha: “Quem tiver seus segredos não me conte!…” Dizia abertamente que a sua língua coçava, se alguém lhe contasse alguma coisa e ele guardasse somente para si. Não achava nada demais passar para frente um segredo que o próprio dono não conseguira guardar.
Num certo dia, um eleitor seu, que levava mais chifres do que pano de toureiro, encheu a cara de cachaça e foi procurá-lo, para lhe confidenciar o drama que estava vivendo em casa, diante da traição da esposa. Queria ouvir sua opinião sobre a atitude que pretendia tomar. Na verdade, o homem estava precisando desabafar as suas mágoas. E foi logo dizendo:
- Dr. Ermelindo, eu tenho um segredo para contar ao senhor, mas quero que fique somente entre nós dois. Tenho que resolver minha vida, e quero lhe pedir um conselho… Tenho dez anos de casado com Maria, mas descobri agora que estou levando chifres. Quero que o senhor não conte isso a ninguém…
Ermelindo, sentindo-se ferido com a recomendação, reagiu irritado:
- Não precisava me pedir segredo!!! Minha boca é um túmulo…Mas se você é o dono do segredo, quem tem de guardar esse segredo é você. Se você não é capaz de guardá-lo, quanto mais eu!!! E quer saber de uma coisa? E não sou baú!…
E a história se espalhou…

GLOSANDO...

O genial cantador repentista paraibano Pinto do Monteiro (1896-1991)
Pinto do Monteiro glosando o mote:
Comi na casa de Pinto
Galinha com rapadura.
Cheguei numa ocasião
Que procurei, mas não tinha
Nem xerém e nem farinha,
Nem arroz nem macarrão,
Fubá, bolacha nem pão,
Nem salada de verdura,
Por não ter outra mistura,
Eu que vinha tão faminto,
Comi na casa de Pinto
Galinha com rapadura.
* * *
Pinto do Monteiro glosando o mote:
Na grandeza do Amazonas
Encontrei meu grande amor.
O pobre do seringueiro
Tem o índio por vigia,
O macaco por espia,
E o tigre por companheiro!
A bem de ganhar dinheiro,
Trabalha seja onde for.
Mas eu fui foi ver a flor
Que habita àquelas zonas!
Na grandeza do Amazonas,
Encontrei meu grande amor.
* * *
Moisés Sesiom glosando o mote:
Dá sapato e dá gibão
Toda obra o couro dá.
Dá manta, bota e silhão,
Dá chapéu, dá bandoleira,
Dá carona e dá perneira,
Dá sapato e dá gibão.
Pra se fazer matulão
O couro é como não há,
Serve até pra caçuá,
Dá peia, da rabichola,
Se prendendo a couro ou sola,
Toda obra o couro dá.
* * *
Ivanildo Vilanova glosando o mote:
Quem maltrata um inocente
Não tem Deus no coração.
Devia ser fuzilado
Quem usa punho ou chibata
Ou qualquer um que maltrata
O menor abandonado
Mesmo sendo batizado
Para mim não é cristão
Quem bate com cinturão
Tem o demônio na mente
Quem maltrata um inocente
Não tem Deus no coração.
* * *
Cícero Moraes e Lima Júnior glosando o mote:
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
Cícero Moraes
Todos nós já nascemos com missão
A cumprir quando em vida aqui na terra
No momento em que a vida se encerra
Nós cumprimos a determinação
E o chamado de Deus para a mansão
Vem às vezes de uma forma singela
Quando a alma se solta e o corpo gela
A viagem ao céu é no instante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
Lima Júnior
O relógio da vida marca a hora
Reservada pra última viagem
Sem comprar um bilhete de passagem
Nem saber o momento de ir embora
Perde a vista quem vai, quem fica chora
Quando a terra nos abre uma janela
O espírito se solta o corpo gela
E o caixão é o transporte mais possante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela
Cícero Moraes
Se perder um amigo faz pesar,
Imagine um filhinho ou um irmão
É capaz de parar o coração,
Não existe quem possa amenizar
Tanta dor e tristeza no olhar
No momento de uma sentinela
E lembrando essa pessoa bela
A saudade se torna agonizante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
Lima Júnior
A matéria cansada não atende
Aos comandos da mente que se cansa
A pressão sobe e desce igual balança
Quando encurta a passada e o corpo pende
Sem a força vital não compreende
Vendo um anjo fazendo sentinela
Vem um sopro da morte apaga a vela
E a Deus manda mais um ser errante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra chegar nela.
* * *
Miguel Leonardo glosando o mote:
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.
Ainda sinto bem forte em meu ouvido
O martelo tinindo do ferreiro,
O cantar do rei galo no poleiro
E o jegue rinchando co’alarido.
Foguetório gerando um estampido
Numa noite animada de São João,
Passarinhos fazendo saudação
No horário do dia amanhecer,
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.
* * *
Carlos Severiano Cavalcanti glosando o mote:
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Fui ao silo e tirei toda a semente
que restava guardada há mais de um ano
e saí a plantar em solo plano
na esperança de inverno consistente.
O trovão ribombou e de repente
envolvi-me no som da trovoada.
O riacho rosnando na enxurrada,
o meu milho pouquinho semeado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Trinta dias depois da plantação
eu gostava de ver meu milharal
verdejante, brilhando, colossal,
alegrando meu frágil coração.
Fiz a limpa primeira na intenção
de arrancar todo o mato usando a enxada,
começava a limpar de madrugada
sem contudo sentir-me mais cansado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
O pendão começou a tremular,
quando o sol assumiu a dianteira,
a trocar chão molhado por poeira,
a neblina deixou de borrifar,
a lavoura teimava em não murchar,
mas a haste do milho, já envergada
pendurava a boneca atrofiada
enquanto eu contemplava amargurado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Perdi tudo o que tinha de semente,
não deixei transformá-la no cuscuz,
carreguei cabisbaixo a minha cruz,
enfrentei a dureza do sol quente,
vejo agora o sofrer da minha gente
sem destino na terra desolada,
transeunte nas margens de uma estrada
indo à toa, sem rumo, em qualquer lado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Vejo a barra ao quebrar e fico atento,
para ver se a invernada inda retorna,
entretanto, a manhã já nasce morna,
o que traz para mim um desalento,
desespero ante a dor desse momento,
minha casa sem luz, vive apagada,
o sertão vendo a flora incinerada,
o seu povo sem rumo e flagelado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
Já não ouço o cantar dos rouxinóis,
não escuto o arrulhar das juritis,
raramente ouço poucos bem-te-vis,
saltitantes nos galhos do cipós.
No horizonte tem mais pores de sóis
inundando de luz toda a chapada,
a paisagem cinérea iluminada
quando a lua esparrama o seu dourado.
Eu plantei em janeiro o meu roçado,
mas a chuva faltou, fiquei sem nada.
* * *
Alfrânio Gomes de Brito glosando o mote:
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode insistir que eu não mereço
Ser o seu “João Batista” ou seu poeta,
Você pode pedir, bem mais discreta,
Que eu esqueça de vez seu endereço.
Esquecer seu pedido eu não esqueço,
Só não posso de pronto lhe atender ,
E o motivo só posso lhe dizer
Quando um dia, talvez, me procurar…
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode querer ficar distante
E tentar me varrer da sua história,
Mas vou sempre habitar sua memória
Como amor, como amigo ou como amante.
Garantir de uma vez ninguém garante
Que essa história não volte a acontecer!
Mas a vida é um moinho e por moer
Faz o rio de novo retornar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode pedir que eu lhe esqueça
Que me ausente e que deixe a sua vida
Mas é coisa demais pra ser pedida
É querer decepar minha cabeça.
É querer me pedir que eu amanheça
Sem sequer um motivo pra viver,
Pois querer me impedir de lhe querer
É querer morto-vivo me enterrar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode fugir dos meus anseios,
Não querer meus carinhos novamente,
Você pode mostra-se indiferente,
Pode até nem ler mais os meus e-mails.
Mas meu beijo e os meus toques nos seus seios
Lhe fazer todo corpo estremecer
E a maneira que tenho de lhe ter
Isto é coisa demais pra se apagar!
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode evitar-me a companhia
Não lembrar quantas vezes nos meus braços
Já saltou, e o vigor dos meus abraços
Lhe apertar com ternura e energia.
Meu calor sobre o seu na noite fria
Lhe fazer todo o corpo se acender,
O meu jeito impulsivo de querer,
Seu jeitinho dengoso de aceitar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode ausentar-se e conseguir
Se esquivar dos abraços e meus beijos,
Mas não pode esquivar-se dos desejos
Que te guardo nas horas de dormir.
Me restando a proposta de fingir
Possuindo o teu corpo e o teu ser
Me concentro e me deixo acontecer
Nesta sede incessante de te amar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
Você pode implorar todos os dias
Que eu esqueça os momentos que passamos,
Dos distintos locais que nos amamos,
Nossos gostos e as nossas fantasias.
Você pode esquecer as agonias
Dos momentos sofridos sem lhe ver,
Se não possa o amor reconhecer
Nunca mais se conjugue o verbo amar
Você pode pedir pra eu me afastar
Só não pode obrigar-me a lhe esquecer.
* * *

sábado, 26 de outubro de 2013

A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA PERDE PAULINHO TAPAJÓS....POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

              ADMIRO PAULINHO TAPAJÓS DESDE RAPAZ...
          FICAVA MARAVILHADO, QUANDO , O CONJUNTO DE CAMPINA GRANDE, O CONJUNTO DE OGÍRIO CAVALCANTE, TOCAVA NO COMERCIAL ATLÉTICO CLUBE ,EM NOVA CRUZ...

          OGÍRIO ERA CEGO E TOCAVA ORGÃO,FAZIA UMA INTRODUÇÃO BELÍSSIMA, E SUA NOIVA, UMA MOÇA LINDA, COMEÇAVA A CANTAR A CANTIGA PARA LUCIANA...O IRMÃO DE OGÍRIO TAMBÉM ERA CEGO, E TOCAVA BAIXO...

UMA DAS GRANDES MÚSICAS BRASILEIRA...IMORTALIZADA POR EVINHA, A VOZ MAIS AGUDA DO BRASIL, QUE HOJE MORA NA FRANÇA,E COMPUNHA , COM AS  IRMÃS, O TRIO ESPERANÇA, E ERAM IRMÃS DOS GOLDEN BOYS...UMA FAMÍLIA COM SETE BONS CANTORES...

LUCIANA,SORRISO DE MENINA COM OS OLHOS DE MAR...
ABRACE ESTA CANTIGA POR ONDE PASSAR...ERA ASSIM QUE PAULINHO TAPAJÓS COMPUNHA...
          A SUA PARCERIA MAIS FAMOSA FOI ANDANÇA, MAS EU  CONHEÇO COISA MELHOR, DELE...

É, TALVEZ EU SEJA, SIMPLESMENTE COMO UM SAPATO VELHO...MAS, AINDA POSSO , SE VOCÊ QUISER, AQUECER O FRIO DOS SEUS PÉS...
A SUA PARCERIA QUE DÁ DE CAPOTE NAS TRÊS, FOI QUANDO ELE COMPÔS COM SIVUCA...A MÚSICA DE SIVUCA MAXIMINIZA QUALQUER LETRA...DOIS HOMENS INSUBSTITUÍVEIS, ASSIM COMO O DOMINGUINHOS...
          PAULINHO TAPAJÓS TINHA 68 ANOS E MORREU DE CÂNCER DE PRÓSTATA...ERA SEU FÃ...VAMOS ESCUTAR AS SUAS PÉROLAS... 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

QUEM FOI SANTO AGOSTINHO...


Agostinho, Santo
Nasceu em 13 de novembro do 354 em Tagaste, ao norte da África. O pai de Agostinho. Patrócio, era um pagão de temperamento violento; mas, graças ao exemplo da Mônica, sua esposa, batizou-se pouco antes de morrer. Embora Agostinho tenha ingressado ao catecumenato desde a infância, não recebeu o batismo, de acordo com os costumes da época. Em sua juventude se deixou arrastar pelos maus exemplos e, até os 32 anos, levou uma vida licenciosa, obstinado à heresia maniqueísta. Disso fala em seus "Confissões", que compreendem a descrição de sua conversão e a morte de Mônica, sua mâe. Dita obra foi escrita para mostrar a misericórdia de Deus para um grande pecador, que por esta graça, chegou a ser também, e em maior medida, um grande santo. Mônica tinha ensinado a orar a seu filho desde menino, e lhe tinha instruído na fé, de modo que o próprio Agostinho que caiu gravemente doente, pediu que fosse conferido o batismo e Mônica fez todos os preparativos para que os recebesse; mas a saúde do jovem melhorou e o batismo foi diferido. O santo condenou mais tarde, com muita razão, o costume de diferir o batismo por medo de pecar depois de havê-lo recebido. Com o saque de Roma pelo Alarico, no ano 410, os pagâos renovaram seus ataques contra o cristianismo, lhe atribuindo todas as calamidades do Império. Para responder a esses ataques, Santo Agostinho escreveu seu grande obra "A Cidade de Deus". Esta obra, é depois de "As Confissões", a obra mais conhecida do santo. Ela é não só uma resposta aos pagãos, mas também trata toda uma filosofia da história providencial do mundo. Logo depois de "As Confissões" escreveu também "As Retratações", onde expôs com a mesma sinceridade os enganos que tinha cometido em seus julgamentos. Morreu em 28 de agosto de 430, aos 72 anos de idade, dos quais tinha passado quase 40 consagrado ao serviço de Deus.

ESCUTANDO SANTO AGOSTINHO...

Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo
(Ep. 130,14,25-26: CSEL 44,68-71)
(Séc. V)
Não sabemos pedir o que nos convém
Talvez ainda indagues por que o Apóstolo disse: Não sabemos pedir o que nos convém (Rm 8,26) . Pois de modo algum se pode crer que ele ou aqueles a quem dizia isto ignorassem a oração dominical.
O Apóstolo não se excluiu desta ignorância. Talvez não tivesse conhecido como convinha orar, quando pela grandeza das revelações lhe foi dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofeteá-lo. Por este motivo rogou por três vezes ao Senhor que o livrasse e, na verdade, não sabia orar o que convinha. Por fim ouviu a resposta de Deus por que não atendia ao que lhe pedia tão grande homem e por que não lhe era conveniente: Basta-te a minha graça, porque a força se perfaz na fraqueza (2Cor 12,9).
Portanto, nas tribulações que tanto podem ser proveitosas quanto prejudiciais, não sabemos o que pedir como convém. No entanto, por serem duras, desagradáveis, contrárias ao modo de sentir de nossa fraqueza, pelo anseio humano universal, rogamos que sejam afastadas de nós. Contudo temos de ter confiança no Senhor, nosso Deus, e, se não as retira, não pensemos logo que nos abandona, mas antes que, por suportar generosamente os males, podemos esperar maiores bens. Assim a força se perfaz na fraqueza.
Estas coisas foram escritas para que não aconteça que alguém se tenha em alta conta, se for atendido quando pede com impaciência algo que lhe seria mais proveitoso não alcançar. Ou desanime e desespere da divina misericórdia, se não for atendido, quando talvez peça aquilo que lhe será causa de mais atrozes aflições ou o corromperá pela prosperidade e o fará perder-se inteiramente. Em todas estas coisas não sabemos orar como convém.
Por este motivo, se nos acontece o contrário do que pedimos, não há que duvidar ser muito melhor suportar com paciência e, dando graças por tudo, porque foi a vontade de Deus que se fez e não a nossa. Pois o próprio Mediador nos deu exemplo ao dizer: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice, mas logo, mudando em si a vontade humana assumida pela encarnação, acrescentou: Porém não o que eu quero, mas o que tu queres, Pai (Mt 26,39). Por isto, com toda a razão, pela obediência de um, muitos foram constituídos justos (cf. Rm 5,19).

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O BEIJO DE JUDAS... A LITERATURA DE BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.



          Bem cedinho,me encontro com um filósofo popular, agricultor,homem feito no trabalho, mas que trás na cabeça, a sabedoria de Salomão...é Zeca priquitim,que vive encastelado na Serra da Micaela, perto de onde a onça pulou de uma pedra pra outra...
          Conversavam, Zeca e Seu Pomboso,agricultor menos inteligente, mas um sabido...
          Perguntou extemporãneamente o Seu Pomboso:
 Zeca, é com um beijo que trais o filho do homem ?
          Zeca pensou, olhou de soslaio, riscou o chão com um graveto, sentado debaixo do 
umbuzeiro, e começou a falar:
          Um  beijo, pode ser a primeira tábua de salvação que o náufrago agarra,quando esta no mar, á deriva,sem terras á vista...é resultante do medo...

          E a retórica ? a oposição ? o discurso anti corrupção ?
          que nada, pomboso...os homens são movidos a querosene de avião...é isto que fazem eles decolarem, como também provoca lipotímias e depressões...

          E o morango do agreste ? pergunta Pomboso...
          Foi  uma planta que não pegou...não vingou...respondeu Zeca,de cabeça baixa, riscando o chão com um graveto,desenhando as indescencias da sua mente...e continuou: chegaram  até a nascer umas plantas filhotes, mas tinham um lado verde de ser...e o morango é sempre vermelho...e complementou:burro que nasce pra cangalha, não pega sela...

          A moça feia continua pensando que a banda  está tocando para ela...vive debruçada na janela...mas Pomboso, estão morrendo as flores, é o que se escuta nos caminhos, até na feira do peixe...


          Apareceu na TV um personagem de Chico Anísio, da escolinha do Professor Raimundo,que em horário nobre demonstra inépcia,abulia,inapetencia,fala sem ênfase, sem convicção...se palpa a distancia entre intenção e gestos...


          Continuei a caminhar, ví flores, e ví três rosas reclamando: a mão que afaga é a mesma que apedreja...repetem Augusto dos Anjos...


          Uma das rosas já está mais resignada e retrucou: canário para acompanhar morcego tem que aprender a dormir de cabeça pra baixo...e, relógio que atrasa não adianta...


          Seu pomposo perguntou ainda pelo verde...Zeca respondeu: o verde amareleceu...já não há esperanças...


 o maior perigo é quando o verde amarelece, e não acontece nada...o tempo já mostrou isto...só não ver quem não quer...

é triste...mas estamos sem um messias...estamos sem um líder...

não existe uma intligencia á serviço do povo...


          Nisto, Zeca pergunta a Seu Pomboso por Cotinha,uma balzaquiana, viúva, que trepa com a mão na cabeça, para não perder o juízo...

          Pomboso respondeu:Cotinha foi acidentada...foi olhar as obras de mobilidade urbana, ao atravessar a rua, caiu sobre o ovo do guarda, e fraturou a sínfise da púbis...simplesmente, quebrou o xibiu...

Valha-me Nossa Senhora,gritou  espantado o Zeca:não sabia que se quebrava o xibiu...


tenho 82 anos...é vivendo e aprendendo...o que eu já ví de peleja entre as minhas éguas e os meus cavalos,faz não acreditar numa história desta...eu não sabia que quebrava...achava que o material era tão resistente, como couro de botina preta.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

UM SONETO DE VINICIUS DE MORAES...


SONETO DE UM DOMINGO – Vinicius de Moraes
Em casa há muita paz por um domingo assim.
A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai…
Esqueço de quem sou para sentir-me pai
E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim,
Um relógio bater, e outro dentro de mim…
Olho o jardim úmido e agreste: isso distrai
Vê-lo, feroz, florir mesmo onde o sol não vai
A despeito do vento e da terra que é ruim.
Na verdade é o infinito essa casa pequena
Que me amortalha o sonho e abriga a desventura
E a mão de uma mulher fez simples, pura e amena.
Deus que és pai como eu e a estimas, porventura:
Quando for minha vez, dá-me que eu vá sem pena
Levando apenas esse pouco que não dura.
Rio, setembro de 1944

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

SE EU MORRER PRIMEIRO...

A LITERATURA DO DR. SEBASTIÃO PAULINO...


UMA CRONICA DO DR. SEBASTIÃO PAULINO: MÉDICO E ADVOGADO...MEU AMIGO.






Hoje amanheci menino... Criança descalça e 

sem compromisso com a vida, disposto apenas e 

tão somente a versejar com meus sonhos e 

vontades. Em meio às adversidades de uma 

vida de turbulências, senti saudade de uma 

época em que tudo parecia tão inocente... Tão 

puro... Bastava correr em busca da praia e 

sentir o vento fo

rte dos meses de agosto e setembro, 

arremessando a areia esbranquiçada por sobre 

o asfalto e transeuntes, que a alegria já tomava 

assento.





A felicidade era acolhida em todos os instantes, 

independente de tudo. Nem precisava de 

"moeda", nem de roupas alinhadas... Não 

precisava nem mesmo ser percebido ou 

bajulado pelos elogios de um mundo fantasioso 



e alavancado por interesses.

Naquele tempo, ainda no século passado, tudo 

era motivo de prazer... O cheiro da terra 

molhada... O orvalho da manhã... A neblina 

que se antecipava à chuva... Era só felicidade. 

Contemplar o céu enevoado e ver o clarão dos 



relâmpagos, sempre acompanhado pelo ruflar 

dos trovões, enchia o peito de uma sensação 

indescritível.


Jogar bola no terreiro de casa, assim como 

correr em busca de passarinhos com um 

estilingue em punho, ajudava a passar as horas 

de um mundo inteiramente pueril e sem dor.



A Escola era tudo de bom. O cheiro exalado 

pelas páginas do caderno, assim como as 

travessuras com os colegas de sala... Tudo era 

motivo para desejar o retorno no dia seguinte. 

Até as paixões inocentes pelas menininhas, 

mesmo sem tocar nem o cabelo delas (Quanta 

diferença de hoje!), já robustecia o sentimento 

e a curiosidade da molecada. Não bastasse 

tanto, ainda tinha as paixões platônicas pelas 

professoras... (rsrsrs).

Quando anoitecia, chegava a hora do jantar, 


sempre muito simples, regado a café e pão, 

para adormecer e em seguida e recomeçar tudo 

no dia seguinte.



A moeda era escassa... Mesmo assim, com 



tantas dificuldades, a vida era somente alegria 

e prazer. Faltava a televisão... Nem existia o tal 

computador... E, no entanto, ninguém deixava 

de ser feliz. Naquele mundo não existia a droga. 

Aquele mundinho de Meu Deus já não existe 

mais. Quanta saudade!



Sebastião Paulino da Costa.