sexta-feira, 23 de outubro de 2015

MILLÔR FERNANDES...





PEQUENOS POEMAS DO GRANDE MILLÔR FERNANDES

POESIS COM LAMENTAÇÃO DO LOCAL DE NASCIMENTO
Tudo que eu digo, acreditem,
Teria mais solidez
Se, em vez de carioquinha,
Eu fosse um velho chinês.
CÍRCULO
E no final, a verdade, irmão,
É que as mulheres,
A cada dia que passa
Mais e mais estão
Presas a libertação.
AS NECESSÁRIAS REAÇÕES PARADOXAIS NA
SOCIEDADE HODIERNA
Na conversa sofisticada
A debutante, nervosa,
Tem um problema só seu:
Fingir que entendeu tudo
Ou fingir que não entendeu.
VIÚVO
Poesia com Sentidos Pêsames
Pensando bem
Não está tão
Amargurado
Está até
Ligeiramente
Aliviado.
ODE (OU ELEGIA?) A UM QUASE CALVO
Ontem hoje
E amanhã
O homem o cabelo parte
Parte o cabelo com arte
Até que o cabelo parte.
NUPCIAL
A linda noivinha
No altar se casará
Com o rapaz que fez tudo
Pra não ir até lá.
TRABALHO
Chego sempre à hora certa,
Contam comigo, não falho,
Pois adoro o meu emprego:
O que detesto é o trabalho.
ESSA CARA NÃO ME É ESTRANHA
Vi meu amigo ao longe
E ele também me reconheceu
Nos aproximamos alegremente
E cada um arrefeceu:
Eu vi que não era ele
Ele viu que não era eu.
POEMINHA COM SAUDADE DE MIM MESMO
Quando eu morrer
Vão lamentar minha ausência
Bagatela
Pra compensar o presente
Em que ninguém dá por ela.
millor-fernandes-entrevista
Millôr Fernandes (Ago/1923 – Mar/2012)

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