quarta-feira, 1 de abril de 2015

A INTELIGENCIA DO POETA...

O POETA BOÊMIO


POR ARISTEU BEZERRA

Emídio de Miranda
O poeta pernambucano Emídio de Miranda (1897-1933), boêmio por excelência, declamava seus versos a qualquer hora, pois a poesia corria em suas veias. Certa vez, estava com vondade de tomar uma dose de bebida, dirigiu-se ao bodegueiro, que era gordo (barrigudo mesmo!), da cidadezinha do interior e expôs o seu desejo, adiantando que não tinha a quantia correspondente à bebida.
O comerciante vaidoso, que há muito tempo desejava um elogio em versos do poeta, disse-lhe: “Faça um soneto dedicado a mim e não pagará nada”. Emídio, não hesitou, e, imediatamente, declamou:
“Tu ventrudo burguês analfabeto,
Escultura rotunda da irrisão,
Para quem o viver mais limpo e reto
Consiste em ser avaro e ter balcão;
Tu que resumes o teu afeto
No dinheiro – o metal da sedução -
Pelo qual negociarás abjeto
Tua esposa, teu lar, teu coração,
Escutas, ó ignorantaço, o que te digo:
Esse ouro, protetor, que é teu amigo,
Que te deu o conforto de um paxá,
Pode comprar qualquer burguês cretino;
Mas a lira de um vate peregrino
Não compra, não comprou, nem comprará.”

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