domingo, 9 de junho de 2013

ZÉ DA LUZ...

zzll
Severino de Andrade Silva, mais conhecido como 
Zé da Luz, nasceu na cidade paraibana de 
Itabaiana em 1904, foi um alfaiate de profissão e 
poeta popular brasileiro; morreu no Rio de Janeiro em 1965
* * *
A CACIMBA

Tá vendo aquela cacimba Lá na bêra do 
riacho,

Im riba da ribancêra,


Qui fica, assim, pru dibaxo


De um pé de tamarinêra?

Pois, um magote de môça


Quage toda menhanzinha,


Foima, assim, aquela tuia,


Na bêra da cacimbinha


Tomando banho de cuia!

Eu não sei pru quê razão,


As águas dessa nacente,


As águas qui alí se vê,


Tem um gosto deferente


Das cacimba de bêbê…

As águas da cacimbinha


Tem um gôsto mais mió.


Nem sargada, nem insôça…


Tem um gostim do suó


Dos suvaco déssas môça…

Quando eu vejo essa cacimba,


Qui inspio a minha cara


E a cara torno a inspiá,


Naquelas águas quilara,


Pego logo a desejá…

…Desejo, pra que negá?


Desejo ser um caçote,


Cum dois óio desse tamanho!


Pra vê, aquele magóte


De môça tumando banho!

* * *
BRASI CABOCO
O qui é Brasí Caboco?


É um Brasi diferente


do Brasí das capitá.


É um Brasi brasilêro,


sem mistura de instrangero,


um Brasi nacioná!

É o Brasi qui não veste


liforme de gazimira,


camisa de peito duro,


com butuadura de ouro…


Brasi caboco só veste,


camisa grossa de lista,


carça de brim da “polista”


gibão e chapéu de coro!

Brasi caboco num come


assentado nos banquete,


misturado cum os home


de casaca e anelão…


Brasi caboco só come


o bode seco, o feijão,


e as veiz uma panelada,


um pirão de carne verde,


nos dias da inleição


quando vai servi de iscada


prus home de posição.

Brasi caboco num sabe



falá ingrês nem francês,


munto meno o português


qui os outros fala imprestado…


Brasi caboco num inscreve;


munto má assina o nome


pra votar pru mode os home


Sê gunverno e diputado


Mas porém. Brasi caboco,


é um Brasi brasileiro,


sem mistura de instrangero


Um Brasi nacioná!

É o Brasi sertanejo


dos coco, das imbolada,


dos samba, dos vialejo,


zabumba e caracaxá!


É o Brasi das vaquejada,


do aboio dos vaquero,


do arranco das boiada


nos fechado ou tabulero!


É o Brasi das caboca


qui tem os óio feiticero,


qui tem a boca incarnada,


como fruta de cardoro


quando ela nasce alejada!

É o Brasi das promessa


nas noite de São João!


dos carro de boi cantano


pela boca dos cocão.

É o Brasi das caboca


qui cum sabença gunverna,



vinte e cinco pá-de-birro


cum a munfada entre as perna!


Brasi das briga de galo!


do jogo de “sôco-tôco”!


É o Brasi dos caboco



amansadô de cavalo!


É o Brasi dos cantadô,


desses caboco afamado,


qui nos verso improvisado,


sirrindo, cantáro o amô;


cantando choraro as mágua:


Brasi de Pelino Guedes,


de Inácio da Catingueira,


de Umbelino do Texera


e Romano de Mãe-d’água!

É o Brasi das caboca,


qui de noite se dibruça,


machucando o peito virge


no batente das jinela…


Vendo, os caboco pachola


qui geme, chora e soluça


nas cordas de uma viola,


ruendo paxão pru ela!

É esse o Brasi caboco.


Um Brasi bem brasilero,


sem mistura de instrangêro


Um Brasi nacioná!


Brasi, qui foi, eu tô certo


argum dia discuberto,


pru Pêdo Arves Cabrá.

* * *

SERTÃO EM CARNE E OSSO

No romper das alvorada,


Quando alegre a passarada


Se desmancha em cantoria,


Anunciando ao sertão


A sua ressurreição


No despontar de outro dia!

Nos galho das baraúna


Os magote de graúna


Quando o seu canto desata,


Parece uns vigário véio


Cantando o santo evangéio


Na igreja verde da mata!

Canta nas tarde morena


Quando o sol vai descambando,


Se despedindo da terra,


Beijando a crista da serra,


Deixando o céu tão bonito,


Que o sol redondo e vermêio


Parece, mal comparando,


Um grande chapéu de couro


Na cabeça do infinito!

* * *

A TERRA CAIU NO CHÃO

Visitando o meu sertão



Que tanta grandeza encerra,


Trouxe um punhado de terra


Com a maior satisfação.


Fiz isso na intenção,


Como fez Pedro Segundo,


De quando eu deixasse o mundo


Levá-lo no meu caixão.

Chegando ao Rio, pensei


Guardá-lo só para mim


E num saquinho de brim


Essa relíquia encerrei!


Com carinho e com cuidado


Numa ripa do telhado,


O saquinho pendurei…

Uma doença apanhei


E vendo bem próxima a morte


Lembrando as terras do norte


Do saquinho me lembrei.


Que cruel desilusão!


As traças, sem coração


Meterem os dentes no saco,


Fizeram um grande buraco


E a terra caiu no chão.

* * *

IMAGE DE CAMPINA

Ante o RETRATO DE CAMPINA GRANDE, 

de Eudes Barros

Campina Grande, Campina


Vou dizê sem pabuláge


O qui tu tem de belêza,


O qui piçúes de grandeza.


Im redó da tua imáge.

Sois a porta de entrada


Dos sertanejo de riba,


Sois a “Cidade argudão”,


A rainha dos sertão,


Orgúio da Parahiba.

Sois a cidade feitiço


Dos fio das outras terra,


Qui aqui vem fazê morada,


Levando a vida forgada,


Na vida qui tu inserra.

Sois a cidade “faloprada”


Sois a cidade sustança!


Riúna dez cidadinha,



Qui tu Campina, sosinha


Pesa mais numa balança.

Campina Grande, Campina,


Sais a cidade “Pae D’égua”


Dos sobrado dos ricaço,


Dos “Bangalbu”, dos palaço


Das rua de meia legua!

Campina Grande, Campina


O teu comerço famôso


Faz a gente se alembrá


Das coisa discumuná


Das istora de trancôso.


Sois a cidade ingraçada


Das briga de fim de fêra,


Mode um cachimbo de fumo


Um bêbo fora de prumo


Barre mão da “lambedêra.

E lá vai faca pra riba!


Arreda pra lá mundiça


Qui eu hoje tou é danado!


Dipressa chega o sordado


Leva o bêbo pra puliça.


Sois a cidade infeitada


Na festa da Cunceição,


Na festa da Padruêra


Onde se vê “beradêra”


Bunita qui só o cão!

Sois branca cumo a Sodade


Irmã da rescordação,


Quando a rua das Areia


Tá intupida, tá cheia,


Só de saca de argudão

Sois verde cumo a Isperança


Essa grande arcuvitêra


Quando o verde das verdura


Enche as ruas cum fartura


Nos banco das verdurêra!

Duvido, Campina Grande,


Tê cidade qui se afôite


A tê noite cumo as tua


Quando o arfange da lua


Corta a mantía da noite!

Purisso, Campina Grande,


Tu sois a grande cidade,


Sois a cidade maluca


Onde armei minha arapuca


Prá pegá Filicidade!..






Nenhum comentário:

Postar um comentário