segunda-feira, 24 de junho de 2013

O QUE OS MÉDICOS TEMOS PARA DIZER A NOVA PACÍFICA PRESIDENTA DILMA...EX GUERRILHEIRA...

Juliana Mynssen


“O dia em que a Presidenta Dilma 

em 10 minutos cuspiu no rosto de 

370.000 médicos brasileiros.”


Há alguns meses eu fiz um plantão 

que chorei. Não contei à ninguém (é 

nada fácil compartilhar isso numa 

mídia social). Eu, cirurgiã-geral, “do 


trauma”, médica “chatinha”, 

preceptora “bruxa”, que carrego no 

carro o manual da equipe militar 


cirúrgica americana que atendia no 

Afeganistão, chorei.


Na frente da sala da sutura tinha 

um paciente idoso internado. Numa 

cadeira. Com o soro pendurado na 

parede num prego similiar aos que 

prendemos plantas (diga-se: 

samambaias). Ao seu lado, seu 

filho. Bem vestido. Com fala 

pausada, calmo e educado. Como 

eu. Como você. Como nós. 

Perguntava pela possibilidade de 

internação do seu pai numa maca, 

que estava há mais de um dia na 

cadeira. Ia desmaiar. Esperou, 

esperou, e toda vez que abria a 

portinha da sutura ele estava lá. 

Esperando. Como eu. Como você. 

Como nós. Teve um momento que 

ele desmoronou. Se ajoelhou no 

chão, começou a chorar, olhou para 

mim e disse “não é para mim, é 

para o meu pai, uma maca”. Como 

eu faria. Como você. Como nós.


Pensei “meudeusdocéu, com todos 



que passam aqui, justo 


eu…Nãoooo….. Porque se chorar eu 


choro, se falar do seu pai eu choro, 

se me der um desafio vou brigar 

com 5 até tirá-lo daqui”.

E saí, chorei, voltei, briguei e o 


coloquei numa maca retirada da ala 

feminina.

Já levei meu pai para fazer exame 


no meu HU. O endoscopista quando 

soube que era meu pai, disse “por 

que não me falou, levava no 

privado, Juliana!” Não precisamos, 

acredito nas pessoas que trabalham 

comigo. Que me ensinaram e ainda 

ensinam. Confio. Meu irmão 

precisou e o levei lá. Todos os 


nossos médicos são de hospitais 

públicos que conhecemos, e, se não 


os usamos mais, é porque as 

instituições públicas carecem. 


Carecem e padecem de leitos, 


aparelhos, materiais e 


medicamentos.

Uma vez fiz um risco cirúrgico e 

colhi sangue no meu hospital 

universitário. No consultório de um 


professor ele me pergunta: “e você 


confia?”.

“Se confio para os meus pacientes 


tenho que confiar para mim.”


Eu pratico a medicina. Ela pisa em 

mim alguns dias, me machuca, tira 


o sono, dá rugas, lágrimas, mas eu 

ainda acredito na medicina. Me faz 

melhor. Aprendo, cresço, me torna 

humana. Se tenho dívidas, pago-as 


assim. Faço porque acredito.


Nesses últimos dias de protestos 

nas ruas e nas mídias brigamos por 

um país melhor. Menos corrupto. 

Transparente. Menos populista. 

Com mais qualidade. Com mais 

macas. Com hospitais melhores, 

mais equipamentos e que não 

faltem medicamentos. Um SUS 

melhor.

Briguei pelo filho do paciente 

ajoelhado. Por todos os meus 

pacientes. Por mim. Por você. Por 

nós. O SUS é nosso.

Não tenho palavras para descrever 

o que penso da “Presidenta” Dilma. 

(Uma figura que se proclama “a 

presidenta” já não merece minha

 atenção).

Mas hoje, por mim, por você, pelo 



meu paciente na cadeira, eu a ouvi.


A ouvi dizendo que escutou “o povo 


democrático brasileiro”. Que 

escutou que queremos educação, 

saúde e segurança de qualidades. 

“Qualidade”… Ela disse.



E disse que importará médicos para 

melhorar a saúde do Brasil….

Para melhorar a qualidade….?



Sra “presidenta”, eu sou uma 

médica de qualidade. Meus pais são 

médicos de qualidade. Meus 

professores são médicos de 

qualidade. Meus amigos de 

faculdade. Meus colegas de plantão. 

O médico brasileiro é de qualidade.

Os seus hospitais é que não são. O 

seu SUS é que não tem qualidade. O 

seu governo é que não tem 

qualidade.

O dia em que a Sra “presidenta” 

abrir uma ficha numa UPA, for 


internada num Hospital Estadual, 

pegar um remédio na fila do SUS e 


falar que isso é de qualidade, aí 

conversaremos.

Não cuspa na minha cara, não pise 

no meu diploma. Não me culpe da 

sua incompetência.

Somos quase 400mil, não nos 

ofenda. Estou amanhã de plantão, 

abra uma ficha, eu te atendo. Não 

demora, não. Não faltam médicos, 

mas não garanto que tenha onde 

sentar. Afinal, a cadeira é 

prioridade dos internados.

Hoje, eu chorei de novo..

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