segunda-feira, 3 de junho de 2013

UM TEXTO DE PEDRO NAVA...

               Uma das fortes impressões  guardadas da minha infância era a de quando eu acordava e ficava calado, de minha cama,assistindo a meu pai em luta  com sua asma.

              Ele se punha sentado na beira do leito, braços fortemente esticados para poder levantar os ombros,cobertos de suor,olhos arregalados, boca aberta,querendo beber um ar que não entrava...
Minha mãe providenciando os sinapismos de Rigolot que,destacados, deixavam um quadrado escarlate no peito branco;

uns cigarros pardos e de cheiro nauseante; os pós de Legra, que eram postos num pires, como montículos, e que acesos, desprendiam a fumaça acre posta na direção da boca azulada pela sufocação...
 As fricções, os cataplasmas,os agasalhos, os escalda- pés, as injeções...
Afinal a crise  ia cedendo e a cabeça exausta caía num travesseiro amarrado nas costas de uma cadeira.Para que esta não fugisse,nela sentava minha mãe cochilando.
Uma vela tremeluzindo fazia grandes sombras de asas nas paredes ...
Todos se enterravam no silencio...
Desde cedo acordei para este ambiente de doença e prestei atenção nos vidros dos remédios, nas coberturas do papel plissado e  amarrado em torno ás rolhas, nas empolas transparentes, brancas, amareladas, esfumaçadas ou azuis.

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