quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A POESIA DE UMA VINGANÇA...


A doida de Albano
— Vem cá, escuta meu filho,
És amigo de tua mãe?
— Oh! Minha mãe que pergunta?
— Basta meu filho, pois bem;
Vai ver a velha Vicência
O amor que um filho lhe tem.


Fazem hoje vinte anos,
(Dizendo mostra um punhal!)
Que teu pai morreu a golpes
Deste ferro por meu mal;
E que eu deveria vingá-lo
Fiz uma jura fatal.
— Uma jura?! Mãe Santíssima!
Oh! Minha mãe, que jurou?
— Eu jurei por este sangue,
Que em ferrugem se tornou,
Que tu, filho matarias
Esse que a teu pai matou.


E matas? — Mato, aqui o juro:
— E matas seja quem for?
Ainda que essa vingança
Te roube ao seio um amor?
— Ainda assim. — Toma o ferro,
É Ricardo o matador.
— Ricardo o pai de Maria!
— Sim esse. — Oh! Mãe perdoai!

Pela amante o pai esqueces!
— Filho ingrato... parte... vai,
Cumpre a jura ou sê maldio
Se tu não vingas teu pai.
Nessa noite tinto em sangue,
Com os cabelos no ar,
O assassino de Ricardo
Foi aos pés da mãe lançar
O punhal, em que jurara 
Do pai a morte vingar.


Sorriu-se a velha, e contente
Abraçava o vingador,
Quando eis súbito aparece
Qual bela estátua de dor,
Junto do grupo chorando
De Albano a cândida flor.
— Paulo, meu Paulo, vingança;
Perdi meu pai... não o vês...
Nestas lágrimas sentidas,
Que aqui derramo a teus pés?!
Paulo, meu Paulo, vingança;
Vinga-me tu por quem és...


Eu o vi banhado em sangue
Assisti-lhe ao triste fim,
Quis falar-me, já não pode
Com os olhos fitos em mim,
Expirou... vingança eterna!
Tu vingas-me, Paulo... sim?
Vingo, Maria, sossega:
Eu sei quem teu pai matou;
Vai morrer com o mesmo ferro
Que ainda há pouco o transpassou.
Isto disto, as punhaladas
O próprio seio cravou.


Foge triste espavorida,
Deixa Albano, e sem parar,
Entra em Roma no outro dia,
Por toda a gente a gritar:
— Quem me mata por piedade,
Quem me vem também matar?
Assim vagueou três dias,
Até que ao quarto endoideceu!
Ainda hoje o caminhante,
Quando passa o Coliseu,
Vê a pobre às gargalhadas
Vingança pedindo ao céu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário