quarta-feira, 16 de setembro de 2015

UM PEQUENO SONHO IMPOSSÍVEL...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL



               Acordei as cinco horas da matina...Cecília, a minha pastora Suíça,sugeriu que deveríamos percorrer todos os cômodos da casa...como sempre...ela na frente, farejando, em alerta máximo e eu atrás,procurando inimigos ,que a cachorra finge que estão a nos espreitar...não encontramos nem gatos...
              Ao chegarmos na garagem,a manhã era de chuva, olhei o meu carro, e fiz uma viagem á quarenta e cinco anos atráz...me lembrei do carro de seu Geraldo.

               SEU GERALDO PRETINHO,era um ferroviário de Nova Cruz, morava na rua do grupo,era casado com EDITE, uma mulher gorda, e sempre que podia comprava um carro velho, para consertar e passear...noventa por cento do seu salário de ferroviário era gasto com peças para consertar o carro.Sempre, Seu Geraldo tinha comprado um carro de segunda mão, que no dizer de Seu Geraldo estava novíssimo, e que após um conserto, seria o melhor carro do mundo....Esta lenda, se repetiu inúmeras vezes, na minha infância, mas, NUNCA um carro de seu Geraldo andou mais do que um minuto.
               Amanhecia o dia, e lá estava seu Geraldo com o carro debaixo do Pé de Fícus benjamim,pronto para abrir o motor...de lado os curiosos, e toda a molecada da rua...era uma jóia....geralmente era um LINCOLN ou um Prefect, não sei por que, todos azuis.
               Após uma semana de exaustivo trabalho,chegava o dia de fazer a máquina voar....o carro era levado até o início da ladeira, no inicio da rua do grupo, em frente ao colégio das freiras....lá estava eu, fazendo força, de calças curtas e sandálias japonesas,alimentando a esperança de um dia, com a graça de Deus, dar uma volta no carro de Seu Geraldo... eu só andava de ônibus, quando vinha para Natal.
Empurrávamos o carro ladeira abaixo ,para que ele pegasse no arranco...o carro fingia que tinha pegado, duas ou tres vezes,até que já estávamos na boeira, no fim da ladeira, em frente a casa de Paulo Bezerra...era uma tristeza, que era vencida pelo comando firme e esperançoso do Seu Geraldo:está faltando só um empurrãozinho...e o carro era levado novamente para o topo da ladeira...com todo esforço do mundo...ah carro pesado...
Após umas dez tentativas, já se palpava a tristeza em todos, e sobretudo no fácies do dono, que sentenciava: é o Motor...eu vou mandar buscar uma peça em Guarabira, e ele vai ficar novinho...renasciam as esperanças...
               Depois de algumas semanas, chegava a notícia,chegou a peça do carro de Seu Geraldo,pela manhã, em frente a árvore, estava Seu Geraldo com a s Mão sujas de óleo queimado e graxa, e se repetia toda a saga...Depois de anos eu vim embora pra Natal estudar, mas posso lhe garantir:NUNCA um carro de seu Geraldo andou mais que um minuto,o sonho de seu Geraldo era dar uma volta com a família nas ruas de Nova Cruz,de preferência no domingo, após a missa das dez, guiando elegantemente, usando o seu quepe de general...desperdicei muita força e muita esperança, e nunca passeei no carro de Seu Geraldo. 

               A SAGA de seu Geraldo me ensinou que Há pequenos sonhos, que a gente nunca realiza.

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