“O FILHOMA”
Décadas atrás, houve um caso de família em Natal, que deu o que falar. Um casal trouxe do interior do Estado, para morar em sua casa, uma moça de vinte e cinco anos, por nome Maura, irmã da dona da casa.
Muito humilde, a moça dedicou-se aos afazeres domésticos e ajudava a irmã a criar os filhos ainda pequenos.
Nas caladas da noite, surgiu um romance entre o dono da casa e a cunhada, sem que ninguém suspeitasse. Como consequência, apareceram uns enjoos na moça, e a barriga começou a crescer. Antes de se descobrir que era gravidez , Dona Zefinha, a ingênua dona da casa, cismou que a irmã estava com um “fibroma”. Marcou uma consulta, e foi com a moça ao médico mais famoso de Natal.
Muito falante, e torcendo para que sua opinião estivesse certa, Dona Zefinha se apressou a dizer ao médico, que achava que a irmã estava com um “fibroma.”
Muito experiente e espirituoso, o Dr. Aníbal fez um exame superficial na moça, somente para satisfazer a Dona Zefinha. Mas, pelos sintomas apresentados pela paciente, inclusive enjoos, o médico viu logo do que se tratava.
Olhou seriamente para ela e disse:
– Você não está com nenhum “fibroma”. Você está com “FILHOMA”!!! Você está grávida!
A moça ajoelhou-se aos pés da irmã e disse chorando:
– “Zefinha, eu juro pelo sangue de Cristo, que esse filho não é de Geraldo, seu marido!!!”
Diante desse desnecessário juramento de Maura, a intuição de Dona Zefinha levou-a a ter certeza de que o pai da criança era o seu marido.
Dona Zefinha desmaiou, e o médico a fez voltar a si. O pior é que o “filhoma” era mesmo de Geraldo, o dono da casa.
O mundo quase desmoronou sobre Dona Zefinha, que viu ruir a sua suposta felicidade. Ainda por cima a humilhação de ter sido vítima da traição do marido e da própria irmã, dentro da sua casa, e “nas suas barbas”.
A mágoa tomou conta do coração de Dona Zefinha, que nunca conseguiu perdoar o marido. Entretanto, Geraldo jurou, até morrer, não ter nada a ver com aquela gravidez da cunhada.
Nessa época remota, não existia teste para prova de paternidade.
A moça voltou para o interior, grávida, e deu à luz um menino bonito e robusto, “a cara do pai”.
Esse caso foi um verdadeiro escândalo em Natal, pois o casal era muito conhecido e respeitado.
Como era totalmente dependente do marido e tinha quatro filhos ainda pequenos, a vingança de Dona Zefinha limitou-se a não dormir mais com ele e não lhe dirigir mais a palavra. Muito religiosa, refugiava-se nas suas orações e ia à Missa diariamente. Abafou o assunto, e “colocou uma pedra” em cima.
Transformou-se numa espécie de “governanta” da sua própria casa. Administrava tudo, orientava as serviçais, cuidava dos filhos e da roupa do marido. Essa situação fez com que o casamento fosse de água abaixo, completamente. Mas as aparências de um casamento consistente permaneceram até que a morte os separasse, o que demorou muitos anos para acontecer.
Dona Zefinha também não conseguia perdoar a traição da irmã. Entretanto, num certo dia, durante uma forte crise de asma, que nesse tempo era difícil de curar, desesperada, ela fez uma promessa a Santa Rita das Causas Impossíveis, de que, se ficasse curada da asma, perdoaria a tresloucada irmã.
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