sábado, 26 de setembro de 2015

A VENUS DE MILO...




VÊNUS DE MILO

Violante Pimentel

               A Vênus de Milo é uma estátua que pertence ao acervo do Museu do Louvre, em Paris, França. Segundo os estudiosos, é a segunda mais famosa obra de arte de todo o mundo, perdendo somente para a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. É uma obra polêmica, cuja autoria não se sabe ao certo.
A obra, de 2,02 m de altura, é composta, basicamente, de dois grandes segmentos de mármore de Paros, com várias outras partes menores trabalhadas em separado e ligadas, entre si, por grampos de ferro, uma técnica comum entre os gregos antigos. A deusa usava joias de metal - braçadeira, brincos e tiara - presumidas pela existência de orifícios de fixação. Pode ter tido outros adereços, e sua superfície pode ter recebido pintura, que entretanto não deixou traços. A figura está ereta e permanece nua até o quadril, enquanto os membros inferiores se ocultam sob um manto ricamente pregueado, que explora efeitos de luz e sombra. Tem sua perna esquerda elevada, levemente fletida e projetada à frente, enquanto o seu peso descansa sobre a perna direita, provocando uma leve curvatura no torso. Seus cabelos, longos e ondulados, são divididos ao meio e recolhidos por trás para formar um coque. Sua face, cuja suavidade de feições tem sido muito admirada, esboça um leve sorriso. Faltam-lhe ambos os braços e o pé esquerdo. Seu acabamento é desigual, sendo mais refinado na frente do que na parte traseira, uma prática comum, quando as estátuas deveriam ser instaladas em nichos, como ela foi.
A história da sua descoberta e aquisição não é clara. Segundo Marianne Hamiaux, a escultura foi desenterrada em 8 de abril de 1820, pelo camponês Yorgos Kentrotas, perto da cidade antiga da ilha de Milo (também conhecida como Milos ou Melos), no mar Egeu, então parte do Império Otomano. Kentrotas estava procurando pedras para construir um muro em torno do seu campo. De repente, conseguiu desenterrar a parte superior de uma estátua em muito boas condições. Por acaso, um cadete naval francês, Olivier Voutier, estava com ele. Aficcionado pela arqueologia, Voutier incentivou Kentrotas a continuar a cavar, no que foi atendido. Em seguida, o camponês encontrou a parte inferior da estátua, mas não encaixava na outra peça. Depois de buscar com mais cuidado, ele encontrou a peça central. Essa descoberta em 1820, e a forma como a estátua perdeu os braços, foram narradas por fontes primitivas, em versões contraditórias.
Consta na história que Louis Brest, vice-cônsul da França em Milo, alertado sobre o achado, fez com que as escavações prosseguissem, surgindo mais fragmentos, entre eles uma mão segurando uma maçã, três blocos com inscrições e dois pilares de hermas. Entretanto, Brest referiu a descoberta a dois outros oficiais visitantes, Jules Dumont d’Urville e o tenente Matterer, que também viram a estátua in situ.
O governo francês foi pressionado a comprar a estátua, mas como as negociações se demoravam, Kentrotas a ofereceu a um padre do local, que por sua vez pretendeu presentear com ela um potentado turco. D'Urville informou Charles François de Riffardeau, marquês de Rivière e embaixador da França junto à Sublime Porta, que enviou para a ilha um secretário da embaixada, o visconde Charles de Marcellus, um experimentado antiquário, para assegurar a posse da preciosidade para a França. Marcellus chegou no porto de Milo no exato momento em que a estátua estava sendo embarcada em um navio com destino a Constantinopla para ser entregue ao turco. Após delicadas negociações, foi comprada em nome do Marquês de Rivière.
A Vênus foi então embarcada no navio francês e seguiu para Constantinopla, onde foi entregue para Rivière e mantida oculta dos oficiais turcos. Rivière, coincidentemente, fora chamado para um novo cargo em Paris, levando-a consigo. Chegando em Marselha em 1 de dezembro de 1820, entregou a carga para o enviado dos Museus Reais, que a despachou para Paris junto com outros fragmentos. Em 1821 Rivière finalmente a ofereceu ao rei Luís XVIII, que então a doou para o Museu do Louvre.
Depois de sua aquisição pela França, a estátua foi imediatamente exposta no Louvre, oficialmente, como uma obra-prima da prestigiosa geração clássica, e um motivo de orgulho nacionalista. Mas logo se criou uma polêmica, pois, segundo alguns eruditos, havia evidências para se acreditar que, de fato, fora produzida no período helenístico, na época desprezado como uma fase decadente na tradição artística grega.
Vários eruditos se debruçaram sobre o problema de sua identidade, mas influências do contexto político da época tiveram peso nessa questão. A França fora obrigada a devolver várias relíquias da Antiguidade que Napoleão confiscara em suas campanhas de conquista pela Europa, e por isso a aquisição da Vênus imediatamente concentrou todas as atenções oficiais.
De início, a ideia do conservador-chefe do museu do Louvre, Bernard Lange, era restaurar a obra integralmente, recriando todas as partes que faltavam, prática comum na época. Mas como a posição dos braços não podia ser determinada com segurança, resolveu-se fazer um restauro apenas ligeiro na ponta do nariz, no lábio inferior, no dedão do pé direito e em algumas dobras do manto, acrescentando-se também o pé esquerdo e uma base retangular para sustentá-lo.
A Vênus de Milo é o retrato da perfeição feminina, simbolizando sensualidade e amor. O ar impassível de seu semblante e a harmonia dos traços da sua face são comuns ao século V a.C., do chamado Alto Classicismo, enquanto que o estilo do penteado e o delicado modelado do corpo apontam para o século IV a.C., do Baixo Classicismo. A sua postura geral, com um movimento espiralado, os seios pequenos e o padrão das dobras do seu manto, por outro lado, concordam com as inovações formais introduzidas pelos escultores helenistas.
O Louvre declara que os polêmicos braços originais da Vênus de Milo jamais foram encontrados, mas os demais fragmentos não restaurados estão preservados no mesmo museu. A estátua está em exposição permanente numa sala especial, da Ala Sully do Museu do Louvre, onde é visitada por multidões. Poucas vezes a Vênus de Milo saiu de sua casa. Em 1862 foi levada para Londres para ser exposta com destaque no Palácio de Cristal, com grande sucesso de público.
Durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), temendo saques e vandalismos, o Curador das Esculturas do Louvre, Félix Ravaisson, escondeu-a em uma delegacia de polícia, junto com documentos, atrás de uma parede, que foi selada e disfarçada como alvenaria antiga. Depois da guerra, a Vênus foi removida de seu esconderijo, mas constatou-se que a juntura das duas partes do torso havia sido danificada, com o importante efeito de alterar a postura da figura. Somente em 1883 sua posição original foi recomposta, aproveitando-se para remover parte dos restauros de Bernard Lange.
Durante as duas guerras mundiais, a estátua foi removida do museu e escondida, por razões de segurança. Em 1964, o governo francês a enviou para o Japão, por ocasião dos Jogos Olímpicos, como "Embaixadora da Grécia", parte de um projeto de divulgação cultural que, segundo Herman Lebovics, tinha conotação política. No transporte, a estátua novamente sofreu danos em seus encaixes, sendo restaurada, no Japão, por especialistas do Louvre, e desde então não foi mais removida do museu.
Ela apresenta em sua superfície inúmeras mutilações que, aparentemente, foram provocadas por golpes violentos, e os estudiosos supõem que, após o surgimento do cristianismo, ela deve ter sido objeto da fúria de uma multidão que tentou destruir o ídolo pagão.
Segundo o Oxford Companion to the Body, a Vênus de Milo é, possivelmente, a estátua mais celebrada na história do nu artístico. O Concise Oxford Dictionary of Art and Artists a ela se refere como a mais conhecida de todas as estátuas antigas, e Gregory Curtis, escrevendo para o Smithsonian Magazine, a descreveu como a segunda mais famosa obra de arte de todo o mundo, ficando atrás somente da Mona Lisa.

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