Manuel Bandeira
Alumbramento
“Eu vi os céus ! Eu vi os céus !
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus !
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus !
Nem uma nuvem de amargura
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela … e sinto-a pura.
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela … e sinto-a pura.
Eu vi nevar ! Eu vi nevar !
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar !
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar !
Eu vi o mar ! Lírios de espuma
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma …
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma …
Eu via a estrela do pastor …
Vi a licorne alvinitente !
Vi … vi o rastro do Senhor !
Vi a licorne alvinitente !
Vi … vi o rastro do Senhor !
E vi a Via Láctea ardente …
Vi comunhões … capelas … véus …
Súbito … alucinadamente …
Vi comunhões … capelas … véus …
Súbito … alucinadamente …
Vi carros triunfais … troféus …
Pérolas grandes como a lua …
Eu vi os céus ! eu vi os céus !
Pérolas grandes como a lua …
Eu vi os céus ! eu vi os céus !
– Eu vi-a nua … toda nua !”.
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