ARAPUCA DE RAPARIGA
HAMILTON LIMA BARROS.
Os cabarés de antigamente eram embalados pela maviosa sonoridade dos boleros, pelo passionalismo dos tangos e o quente erotismo da rumba caribenha. Os dias se transformavam em noites, estas em madrugadas.
Quase todos os homens de bem (endinheirados) freqüentavam os cabarés. Era interessante observar aqueles circunspectos cavalheiros: médicos, engenheiros, advogados, autoridades em geral desfilando garbosamente nos salões de dança, conduzindo em espalhafatosos trejeitos damas e heroínas que não passavam de moças da roça ou meninas da cidade “que tinham se perdido”. A lei era dura: transou, não casou, vai para o cabaré. Podia ser até filha de rico.
Taumaturgo chegara da capital para assumir importante cargo na administração pública, mas logo caiu na gandaia e só queria viver no Cabaré.
Sua presença na “Zona” era uma festa. Com dinheiro no bolso, era “disputado” pelo raparigal. A vida que sonhara: mulher, música e cachaça.
Um dia, perguntaram a ele qual seria o seu principal desejo. Ele não teve dúvidas:
- Eu queria que desse uma chuva de rapariga: para eu destelhar a casa e tapar os esgotos.
Quase não comparecia ao trabalho, de modo que o seu comportamento logo foi denunciado. O Inspetor encarregado do caso, constatando a sua ausência da repartição, dirigiu-se à sua residência.
Dona Adelaide indagou ao inspetor se ele tinha pressa em encontrar o Taumar:
- Eu preciso falar com ele, com toda urgência.
- Então Doutor, só tem um jeito. O senhor vai à praça central da cidade, arma uma arapuca, bota duas raparigas dentro, e eu lhe garanto: em dois minutos ele aparece.
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