sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A LITERATURA DE VIOLANTE PIMENTEL...

O SOLITÁRIO
Ele era um homem esquisito. Alto, magro, corado e grisalho, morava sozinho numa casa de uma porta e uma janela, numa rua próxima à Igreja de Santo Antônio, em Natal (RN). Os vizinhos tentavam lhe ser simpáticos, mas de nada adiantava. O homem era fechado mesmo. Sempre circunspecto, mal cumprimentava as pessoas. Morador relativamente novo naquela rua, a única coisa que se sabia a seu respeito é que ele havia participado da segunda guerra mundial e, talvez em decorrência desse fato, era um homem muito nervoso.
Ele nunca recebia visitas. Mas um dia pela manhã, a vizinha, Dona Perpétua, uma solteirona fofoqueira, que sabia da vida de todo o mundo, ouviu sua voz eufórica, chamando alguém de meu amor, minha linda e minha querida. A mulher logo tirou suas deduções de que o vizinho não era tão sozinho como deixava transparecer. Havia alguém em sua companhia, pelo menos naquele instante. Essa visita passou a se repetir com uma certa frequência. Dona Perpétua, por mais que observasse, ainda não havia conseguido ver a cara dessa pessoa, com certeza do sexo feminino, na hora da chegada e da saída da casa do vizinho.
Num certo dia pela manhã, ao voltar da Missa da Igreja de Santo Antônio, Dona Perpétua voltou a ouvir a voz melosa do homem, pronunciando as mesmas palavras de amor, e demonstrando, nitidamente, que estava na companhia de alguma namorada. Mais do que nunca, sua curiosidade aumentou, e ela não se conteve. Queria descobrir, a todo custo, quem seria a felizarda que havia conquistado o coração desse homem tão misterioso. Mais que depressa, Dona Perpétua colocou uma escada apoiada no muro do quintal, subiu e tentou matar a sua curiosidade.
A surpresa foi impactante!
A mulher quase despencou de cima da escada, ao ver a cena de amor do vizinho, nu, sentado numa cadeira, com uma galinha no colo…
Dona Perpétua, que comungava todos os dias, ficou em estado de choque. De repente veio à sua memória o depósito de lixo posto na calçada pelo esquisito vizinho, que uma vez por outra era acrescido de uma galinha morta. A criação de galinhas que esse homem mantinha no seu quintal servia para preencher a sua solidão. Ele preferia os animais…

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