terça-feira, 12 de novembro de 2013

AUMENTANDO A CULTURA GERAL...

POEMAS DO MESMO MOMENTO

Quando, aos 13 anos, iniciou sua excepcional trajetória literária, Victor Hugo, a exemplo dos seus compatriotas, era herdeiro da débâcle napoleônica. O momento crepuscular do exército imperial francês em Waterloo parece ter infiltrado mancha indelével no espírito do grande poeta,
 de tal maneira que, ao longo de sua vida os ecos da batalha acabaram repercutindo em muitos escritos, de forma enfática no conhecido Os Miseráveis e no longo poema L’ expiation, cuja segunda parte é inteiramente dedicada ao fato.Provavelmente sua capacidade de criação cresceu quando invadido pela saudade da pátria durante exílio na ilha de Jersey, cercada por ventos gelados e brumas vindos do Mar do Norte através do Canal da Mancha. Sem dúvida que a atmosfera respirada nessa espécie de insônia que durou 20 anos, contribuiu para fazê-lo poeta da república, honrado ao ser acompanhado por um milhão de pessoas ao Panthéon, sua última morada.
A estrutura do poema de Hugo, que desde 1827 rompera com regras e modelos clássicos, publicando seu célebre manifesto como prefácio da peça teatral Cromwell, tem o ritmo dos decassílabos tradicionais.
“ Waterloo ! Waterloo ! Waterloo ! morne plaine ! “, e os versos estão permeados pelo exacerbado nacionalismo do autor, arrastando-nos ao interior de um cenário épico, onde a Europa, de um lado, e a França, de outro, decidem seus destinos. A visão sombria do local, a luta cada vez mais sangrenta misturada à tarde que mergulha no horizonte, a chuva ensopando o solo, dificultando o deslocamento das peças de artilharia e a presença dos atores principais do drama desfilando pelo palco do teatro de operações.
O epílogo da estrofe é ao mesmo tempo emocionante e melancólica.
“Napoleão assiste o colapso de sua velha guarda, como se homens, tambores, cavalos, bandeiras, fossem um rio desviado para fora do seu curso, numa provação que confunde no regresso todos os seus remorsos”. Ergue as mãos para o alto murmurando, “meus soldados mortos, meu império frágil como vidro”.
“Est-ce le châtiment cette fois, Dieu sévère ?
Alors parmi le cris, les rumeurs, le canon,
Il entendit la voix que lui répondait: Non ¡ “Além dos minutos heróicos do eclipse de Waterloo que fascinaram escritores e pintores, o próprio Napoleão Bonaparte e suas campanhas pelos campos de batalha da Europa parecem ter significado um leitmotiv para a arte do século XIX. Na música, por exemplo, a edição original da sinfonia nº 3 de Beethoven (Eróica ) destaca o oferecimento “composta para celebrar a memória de um grande homem”. Também Tchaikovsky na Abertura Solene 1812 registra o desastre das forças francesas nas estepes russas.
O apogeu e o ocaso napoleônicos não escaparam às observações do talentoso e irrequieto George Gordon Byron. Ao atingir a maioridade e assumir sua cadeira na Câmara dos Lordes, Byron deixou a Inglaterra empreendendo uma grande viagem na companhia de Hobhouse, seu companheiro no Trinity College, Cambridge. .Seu poema mais conhecido, Peregrinações do jovem Haroldo, iniciado na Grécia descreve, ao longo de quatro cantos e 186 estrofes, viagens e reflexões de um jovem que desiludido com a vida de prazeres e frivolidades busca distrações mais interessantes muito além das fronteiras do seu país.
O minuto mundial de Waterloo vai surpreendê-lo em Bruxelas. A genialidade de Byron explode nas estrofes 21 e 22 do Canto III do Haroldo, quando pela leitura somos transportados para o interior do ambiente que reinava na capital belga. Por um instante parecemos carregados pelo tempo passado e repentinamente estamos “ouvindo a música da festa no meio da noite”. De alguma forma participamos da indiferença dos convivas, belas mulheres rodopiando ofegantes pelos salões nos braços de galantes cavalheiros, olhares enamorados, promessas de amor fixadas nos olhares dos amantes, até quando somos sacudidos por algo ensurdecedor que faz tremer a terra sob os pés, repicar os sinos e devolver a realidade.
“Não ouviram? Não é um vento forte, nem o barulho das rodas de uma carruagem na calçada”.
“Eis que já ressoa o aviso lúgubre, repetindo-se como se trazido por nuvens, cada vez mais próximo, mais claro e mortal”.
“Às armas! Que é o canhão a rugir o tiro inicial”.

A exemplo de Victor Hugo, Byron construiu seu poema em decassílabos -“There was a sound of revelry by night” - , diferentemente dos seus contemporâneos Wordsworth, Keats e Coleridge que na produção de algumas de suas composições mais renomadas fizeram opção pelo verso branco, onde as frases longas ganham ritmo pelas pausas espontâneas, revestindo de beleza o pensamento lírico. 


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