sábado, 16 de março de 2013

POESIA POPULAR...


Geraldo Amâncio
Niemayer não é Deus,
Mas seu trabalho é fecundo;
Eu admiro o primeiro
E tenho fé no segundo;
Um construtor de Brasília,
Outro construtor do mundo.
* * *
Ivanildo Vilanova
Eu já fui igualmente um samurai,
porém vi se quebrar minha coluna,
que a volta no jogo da fortuna,
pois a gente não sabe aonde cai,
eu fui filho, fui noivo, hoje sou pai,
já fui neto, e já hoje sou avô,
e o relógio do tempo não quebrou,
porém deu um defeito no seu pino.
Eu já tive nas mãos o meu destino,
mas agora eu não sei pra onde vou.
* * *
João Paraibano
Quando o dia começa a clarear
Um cigano se benze e deixa o rancho
A rolinha se coça num garrancho
Convidando um parceiro pra voar
Um bezerro cansado de mamar
Deita o queixo por cima de uma mão
A toalha do vento enxuga o chão
Vagalume desliga a bateria
Das carícias da noite nasce o dia
Aquecendo os mocambos do sertão.
* * *
Dedé Monteiro
Pra Cancão, esse gênio inigualável,
Era crime agredir a paz de um ninho.
Num jardim ou na orla do caminho,
Uma flor pequenina era intocável.
Do luar a pureza indecifrável
Salpicava seus versos de beleza,
E o gorjeio infeliz de uma ave presa
Provocava-lhe a dor mais verdadeira.
Foi Cancão, João Batista de Siqueira,
Defensor imortal da natureza.
* * *
Antonio Pereira
Saudade é como ferida
Na perna de uma pessoa,
A gente cuida bem dela
Quando pensa que tá boa,
Um garrancho bate em cima
Descasca ela e magoa.
* * *
Manoel Filó
A poesia só presta
Se o assunto é quente ou morno
Um verso bom, de improviso
Feito na boca do forno
Mostra o mesmo polimento
Que a corda dá num torno.
Dimas Batista
A praia é uma virgem deitada na areia
De olhos abertos , contemplando a lua
Enquanto nas águas a barca flutua
Lá no firmamento Diana passeia
O sol com ciúme a praia incendeia
Com raiva da lua que não quis casar
A lua queixosa começa a chorar
Na cama  do céu , coitada desmaia
Derramando prantos de prata na praia
Que coisa bonita na beira do mar.
* * *
Sebastião Marinho
Repentista  respeitado
Narra, canta e profetiza
Gera mito, cria lei
Forma lenda e faz pesquisa
Cantador faz tudo isso
Inda canta e improvisa.
Repentista em beira-mar
Canta oceanos e ilhas
Cordelista narra em verso
O tratado de Tordesilhas
Em décimas e decassílabos
Sete linhas e sextilhas.

* * *
Luciano Maia
Cantor das coivaras queimando o horizonte,
das brancas raízes expostas à lua,
da pedra alvejada, da laje tão nua
guardando o silêncio da noite no monte.
Cantor do lamento da água da fonte
que desce ao açude e lá fica a teimar
com o sol e com o vento, até se finar
no último adejo da asa sedenta,
que busca salvar-se da morte e inventa
cantigas de adeuses na beira do mar.
Zé Cardoso
Eu canto de noite a dia
Com acerto ou desacerto,
O verso nunca sai frouxo
E nem precisa de aperto
Pra cantar o universo,
Que a máquina de fazer verso
Nunca pediu um conserto.
* * *
Um poema de Edmilson Garcia
O QUE É QUE TEM NO SERTÃO?
No sertão tem rapadura
Tem peixe seco na feira
Tem cana boa da pura
Tem broa e tem pão carteira
Tem facão e tem trinchete
Tem banco e tem tamborete
Machado foice e peixeira
Chicote de couro cru
Tarrafa anzol landuá
Quixó pra pegar tiú
Fôjo pra pegar preá
Tem alguidá tem tigela
Tem chaleira e tem panela
De barro pra cozinhar
No mato tem aroeira
Mufumbo , anjico e jucá
Oiticica e pitombeira
Juazeiro e trapiá
Cumarú e imburana
Tem pequí tem gitirana
Pereiro e jequitibá
No serrote tem mocó
Na roça tem macaxeira
Na lagoa tem socó
Tem lambu na capoeira
No açude tem traíra
Na serra tem jandaíra
No ôco da catingueira
Tem mandacaru cardeiro
Tem malva e manjirioba
Tem velame e marmeleiro
Jatobá e guabiroba
Tem cipó e tem imbira
Tem pau-ferro e macambira
Baraúna e maniçoba
Tem guará tem guaxinin
Carcará e gavião
Tem gambá e tem sonhím
Tem tejo e camaleão
Ticaca, peba e tatú
Tem cobra surucucu
Gato vermelho e cancão
Na feira tem tapioca
Tem quebra queixo e beiju
Tem bolo de mandioca
Tem manga jaca e caju
Tem fava e tem bode assado
Tem buchada e tem picado
Tem caranguejo e pitu
Tem cabresto pra jumento
Tem rabicho e rabichola
Tem santinho e terço bento
Tem arapuca e gaiola
Botão, carretel de linha
Tem pão de milho e farinha
E cego pedindo esmola
Toda casa e tem toucinho
Pra temperar o feijão
Tem pilão e tem moinho
No terreiro tem capão
Tem silos cheios de milho
Tem mais de quatorze filhos
Cada casal do sertão
Tem vaquejada e seresta
São João pra se festejar
Toda semana tem festa
Forró pra o povo dançar
Violeiros repentistas
Os melhores cordelistas
Que só Deus soube criar
Tem o espinho que fura
E tem a flor do amor
Tem reza forte que cura
Pra quem não vai ao doutor
Tem religiosidade
Tem gente boa “à vontade”
Povo de muito valor
Falo, e posso garantir
Com muita convicção
O mundo há de convir
Lhes dou essa afirmação
Digo com toda a verdade
Não falei nem a metade
Do que tem lá no sertão.

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