Paixão por Michelangelo
Michelangelo Buonarroti nasceu em 6 de março de 1475 em Caprese,
localidade próxima à cidade toscana de Arezzo, Itália e faleceu em Roma no dia
18 de fevereiro de 1564, aos 89 anos.
Foi um gigante. Pensador, deixou obra literária, em prosa e verso,
considerada notável. Arquiteto, foi o criador da cúpula da Basílica de São
Pedro. Do mármore tirou alma, espírito. Com tinta e pincel mostrou o momento em
que Deus, estendendo a mão, cria Adão.
É lugar comum chamá-lo de gênio. Prefiro dizer que ele foi tocado
pelo divino ao nascer: é a única explicação. Amou a beleza e dela se serviu para
mostrar sua fé em Deus.
Todos conhecemos a Pietà de Michelangelo, não é? Mas há detalhes
que sempre impressionam. Ele a esculpiu quando estava com 22 para 23 anos!
Fez a Virgem muito jovem para ser mãe do Cristo, porque quis dar
forma ao célebre verso de Dante Alighieri: “Virgem Mãe, filha do teu
filho”. Reparem na mão esquerda de Maria. Dessa maneira singela,
Michelangelo esculpiu toda uma mensagem.
Cristo, sem nenhuma das marcas da Paixão em seu corpo, tem o rosto sereno. A intenção de Michelangelo não foi representar a morte dolorosa e violenta, mas o reencontro tranquilo do Filho com o Pai ao retornar à Vida Eterna.
Das poucas obras assinadas por ele, consta que ao ouvir uns
lombardos na igreja dizendo que aquela estátua era de um escultor de Milão, ele
voltou à noite e cinzelou na base: "Ângelus Bonarotus Florentinus Faciebat".
Podia dar o ponto final aqui e já teria demonstrado quem foi
Michelangelo.
Mas este espaço que me foi generosamente cedido durante tanto tempo
merece mais. E continuo, mesmo correndo o risco de me repetir. Mas sei que vocês
me compreenderão: afinal, paixão é paixão.
O David: em 1504, depois de três anos de trabalho, Michelangelo
entrega à Florença a estátua de David. Não é um simples pastor de ovelhas, como
na Bíblia, é um guerreiro momentos antes de atacar, corajoso e forte, certo de
que combatia o bom combate. Dá para sentir sua determinação e concentração.
Reparem no olhar de David. Em sua expressão. Em sua mão segurando a pedra. Lembremo-nos que isso é uma estátua esculpida em mármore, por um homem e não por um deus. Ou estarei enganada e esse rosto foi esculpido por Deus?
A vida de Michelangelo e seu relacionamento com os papas foi sempre
um tormento. O artista, segundo ele mesmo, não teve um dia que pudesse chamar de
seu, até morrer. Trabalhou como um condenado e sofreu com a arrogância dos
poderosos. Vivia assoberbado por ordens e contraordens de papas e cardeais.
Sofreu muito. Mas também fez sofrer: era talento puro, mas não era santo...
Comove saber que foi assim, mas ao mesmo tempo... vejam a figura de
Moisés no mausoléu do papa Júlio II. Imaginem o mundo sem ela...
Condutor e líder de um povo, Michelangelo o imaginou sentado,
pensativo, angustiado, preocupado, o olhar distante. Às vezes dá impressão de
desânimo frente ao povo que talvez não mereça as Tábuas que carrega em seu
braço; às vezes sentimos sua fúria contida, não só em seu olhar como na posição
de um pé, como se estivesse pronto a se erguer e gritar.
Somos nós que o olhamos de modo diverso a cada vez ou Michelangelo
deu mesmo vida ao patriarca? A ponto de correr a lenda do Parla! - o
escultor, impressionado com o que fez, dá com o cinzel num joelho da estátua e
lhe manda que fale. Si non è vero, e non è vero, è bene trovato.
Capella Sistina, Vaticano, Roma
Pietà, Basílica de São Pedro, Vaticano, Roma
David, Galleria dell'Accademia, Florença
Moisés, Igreja de San Pietro in Vincoli, Roma
Pietà, Basílica de São Pedro, Vaticano, Roma
David, Galleria dell'Accademia, Florença
Moisés, Igreja de San Pietro in Vincoli, Roma
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