segunda-feira, 11 de março de 2013

CORDEL...

Cego Aderaldo cantando com Domingos Fonseca
 
Cego Aderaldo
 
Ó doce luz dos meus olhos
Coração e a lembrança
Tudo quanto eu percuro
Eu vejo perseverança
Meu peito vive cansado
Porém não sente mudança
 
Domingos Fonseca
 
Eu desde muito criança
Que procurei me manter
Vivendo da cantoria
Para vestir e comer
Já que ser grande poeta
Lutei, mas não pude ser
 
Cego Aderaldo
 
Jesus a mim quis fazê
Neste caso que se deu:
Eu perdê a minha vista
Meus olhos escureceu
Mas estou cantando as virtudes
Que a natureza me deu
 
Domingos Fonseca
 
Jesus me favoreceu
Com a pequena viola
Me deu a inteligência
Que ao verso desenrola
Eu acho que ele deu-me
Uma preciosa esmola

 
Cego Aderaldo
 
Deus a mim, me deu a bola
Para levar a cantoria
Tirou a luz dos meus olhos
Eu não vejo a luz do dia
Porém eu levo a palavra
Transcrita em poesia
 
Domingos Fonseca
 
Jesus prometeu-me um dia
E eu fiquei disto ciente
Eu havia de ser pobre
De viver sempre doente
Porém me deu por consolo
A cantoria repente
 
Cego Aderaldo
 
Eu não vivo indiferente
Aqui no Rio de Janeiro
Vivo muito consolado
Meu canto são verdadeiro
Embora que nesta terra
Não tenho ganhado dinheiro
 
Domingos Fonseca
 
Eu sei que o Rio de Janeiro
É uma cidade interessante
Mas eu sempre me recordo
Do velho sertão distante
Tanto que da minha terra
Não esqueço um só instante
 
Cego Aderaldo
 
Levo a minha vida avante
Na terra misteriosa
Nesta cidade tão linda
De pessoas tão garbosa
Lugar aonde se vive
A terra cheia de rosa
 
Domingos Fonseca
 
De fato é muito formosa
Não há quem diga que não
Parece com um pedacinho do céu
Estendido no chão
Mas não se acaba a vontade
De eu voltar pra o meu sertão
 
Cego Aderaldo
 
Eu sinto no coração
Aqui uma grande alegria
Porém eu não vejo o mundo
Perdi toda a simpatia
Ah, se eu pudesse ver
A estátua de Caxia
 
Domingos Fonseca
 
Teve grande garantia
Aquele homem aliás
Em reverência ao seu nome
Todo mundo ainda faz
O nome dele na história
Não se apaga nunca mais

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