“É difícil aceitar como progressista a atitude dos que agrediram Yoani Sanchez em sua chegada ao Brasil. E logo em minhas duas terras, Bahia e Pernambuco (ganhei cidadania da Assembleia Legislativa Pernambucana, a Casa de Joaquim Nabuco). Se um indivíduo eleva voz dissidente num país que mantém presos políticos por décadas, deveria receber o apoio dos que lutam pela justiça. Quando Marighella ficou sabendo o que se passava na União Soviética sob Stalin (pelas revelações que Nikita Kruschev, num esboço de perestroica-glasnost, incentivou), ficou semanas a fio em pranto. Para ser sincero, não me surpreenderam as revelações kruschevianas: meu pai, apesar de ser simpatizante de esquerda, sempre comentava que a Rússia stalinista podia esconder opressões brutais. Mas o pasmo entre comunistas foi grande. O chororô de Marighella pareceu desproporcional a alguns de seus companheiros, mas diz algo de profundamente bom sobre ele.
Não desconheço a possibilidade de interpretar os fatos políticos a partir de uma perspectiva que submeta o sentido moral do caso Yoani à crítica do desequilíbrio mundial. A força americana pode ser sentida a ponto de neguinho pôr sua capacidade de solidariedade abaixo de uma visão geral da luta. Aí Fidel pode ser visto como o herói que enfrenta o Dragão da Maldade, qualquer relativização desse enfrentamento sendo suspeito. Por que Obama não acaba com o bloqueio a Cuba? Yoani pode aparecer nesse quadro como uma colaboracionista. Mas como, se ela própria declara repúdio ao embargo?
Tive a honra de ser atacado juntamente com Yoani por Fidel em pessoa. Fidel escreveu o prefácio a um livro sobre Evo Morales (que nome! Sempre paro quando ouço ou leio o nome de Eva no masculino) e, nesse prefácio, me desancou por eu ter dito em entrevista que minha canção “Base de Guantánamo” não significava apoio à política de Estado cubana. Ali, o herói caribenho me equiparava à blogueira de milhões. Éramos, os dois, agentes do imperialismo americano. Inocentes úteis da potência capitalista. Gosto dos textos de Yoani. Fui a Havana em 1999 e sinto a presença da vida cubana neles. Eu teria mais confiança em nossos esquerdistas se eles a tratassem com respeito.”
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