sábado, 30 de junho de 2012

SOBRE CANUDOS...


Um folheto de Leonel Alves de Aguiar
GUERRA DE CANUDOS
Até parece uma lenda
A história que eu vou contar
Que faz gente arrepiar
Pois um caixeiro de venda
Do estado da Bahia
Defensor da monarquia
Entrou em forte contenda
Pra defender o povão
E confrontar a república
Que não tinha gestão pública
Pra conduzir a nação
Muito menos um projeto
Transformado em objeto
Pra acudir o Sertão
Pois a coisa ficou séria
Quando o povo nordestino,
Homem, mulher e menino,
Que vivia na miséria
Só contava com a sorte
Para livrar-se da morte
Como se fosse pilhéria
E o governo da Bahia
Fraco e incompetente
Parecia que não via
O grito de dor e lamento
À procura de alimento
Que aumentava noite e dia
Sem água nem pra beber
Sem roça pra trabalhar
Sem semente pra plantar
Sem comida pra comer
Pois a chuva não chegou
E o açude já secou
E o gado já vai morrer
Mas, rebelde com a Igreja,
que estava indiferente
e ao lado do presidente,
Com o olhar que lacrimeja,
Vem Antonio Conselheiro
Autêntico brasileiro
Discursando com firmeza
Em favor dos oprimidos
A mensagem de esperança
De prazer e de bonança
Que agradava aos ouvidos
Deixando-os delirantes
E, agora, comandante,
Passa a ser muito querido.
Mas, quem é esse, afinal,
Um político famoso
Ou um general poderoso
Ou um príncipe real
Pra enfrentar o Poder
E lutar pra vencer
Presidente Marechal?
Um beato, tão somente,
De coração abnegado
Dos oprimidos, amado,
Devoto e muito crente
Na formação de um esquema
Pra resolver o problema
Do Nordeste indigente
Porém de povo simpático
Honesto e trabalhador
Que vivia grande labor
Com um Governo apático
Só voltado para os nobres
Em detrimento dos pobres
Desse país democrático
É Antonio Maciel
Conselheiro, seu apelido
Como era conhecido
Que exerceu grande papel
Como professor e mestre
No serrado e no agreste
Pra quem se tira o chapéu.
Trabalhava com critério
Dedicação e firmeza
Na construção de igreja
Levando a fé a sério
Prometendo grandes curas
Sofrendo uma vida dura
Pra construir cemitério
Pra sepultar indigente
Às vezes, até sem nome
Que morria de fome
Sem amigo sem parente
Enterrado sem caixão
À semelhança de grão
Sem despedida decente.
Dotado de confiança,
Seguia seu ministério
Carregado de mistério
À espera de bonança
Com sentimento de dor
Confiando no Senhor
Sua última esperança
De olhar para aquele povo
Nordestino bom e forte
Acreditando na sorte
De aparecer um renovo
Pra salvar aquela gente
Trabalhadora e decente,
Eliminando o estorvo
Que viesse impedir
De continuar a lida
Só preservando a vida
Em direção ao porvir
Anunciando com fé
Mesmo andando a pé
O direito de ir e vir.
Os coronéis das fazendas
Passaram por amargura
Com danos na agricultura
Que fizeram uma fenda
Com o êxodo rural
E o fanatismo total
Prejudicando suas vendas
Mas, a Igreja entrou na luta
Com a maldita hipocrisia
Acusando-o de heresia
Com mensagem muito astuta
Sem medir a consequência
Daquela interferência
Todavia, ninguém lhe escuta.
Mas Igreja e coronéis
Os eternos mandatários
E da lei signatários
Inverteram seus papéis
E partiram para a agressão
Em nome da religião
Pra conquistar fiéis
Rechaçado pela Igreja
Que o combate e o condena
Excomungando-o sem pena
Adquiriu, com certeza,
Grande popularidade
No campo e na cidade
Mais dignidade e nobreza.
E vivia caminhando
Seguido de romarias
Por aquelas sesmarias
E o povo foi se ajuntando
E fanático, entretanto,
Denominaram-no santo
Venerando-o, portanto.
Recebendo a notícia
Do envio de militares
Que viriam aos milhares
Com a devida perícia,
Adquiriu armamento
E montou acampamento
Pra esperar a milícia.
Foi desse jeito, contudo,
Que houve o enfrentamento
Fato que muito lamento
Na região de Canudos
E pareciam leões
Ou fortes furações
Querendo destruir tudo
O grupo foi operante
Matando muitos à bala
Enterrando-os na vala
Mas, a partir daquele instante,
Vem chegando em boa hora
Pra fazer parte da história
A poderosa volante
De heroicos cangaceiros
De excelente pontaria
Que lutavam noite e dia
Se preciso, mês inteiro,
Pra ajudar na matança
Com muita garra e vingança
O exército brasileiro
Parecido carrapato
Que em sua diligência
E cruel intransigência
Queria a morte do beato
Que causava desespero
Pela força e esmero
Entrincheirado no mato.
A primeira expedição
Comandada por Ferreira
Um tenente de carreira
Foi tremenda negação
Tendo sido executada
Por aquela jagunçada
À bala, faca e facão.
Major Febrônio de Brito
Na segunda investida
Que não foi bem sucedida
Saiu correndo aos gritos
Na debandada geral
Por aquele matagal
Como ligeiro cabrito.
Mil e trezentos soldados
Comandados por Moreira
Sumiram na capoeira
Depois de escorraçados
Pelo povo de Canudos
Tão indignado, contudo,
Foi vencedor da terceira.
O quarto destacamento
De Artur, um general,
João Barbosa e Amaral
De modo tão violento
Promove grande matança
Mulher, homem e criança
Não tiveram livramento.
O líder perde sua vida
Na data de vinte e dois
Mas, em vinte e quatro, pois,
Canudos é destruída
Naquele mês de setembro
Ficando só quatro membros
Lutando, mas sem saída.
Cercados pela missão
No dia cinco, portanto,
E encurralados no canto
Cansados e sem ação
Os quatro remanescentes
Três homens e adolescente
Receberam a execução.
Termina-se ali a guerra
Que abalou o Nordeste
Em confronto inconteste
Onde o fuzil é quem berra
Com dura devastação
Em defesa da Nação
Mas, sem solução prá terra.
Mas, essa guerra de outrora
Que provocou sofrimento
E muito constrangimento
Registrada na história
Consta na literatura
E vai gerando cultura
Por esse país a fora.
Foi registrada, porém,
Pelo Euclides da Cunha
A principal testemunha
Pois estava ali também.
Exercendo o jornalismo
Sem nenhum fanatismo
Que escreveu como ninguém
E preferiu escrever,
Mesmo embaixo da censura,
Toda aquela tortura
No desejo de rever
A versão oficial
Dada pelo general
Para os fatos esconder.

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