quarta-feira, 6 de junho de 2012

A POESIA POPULAR...


Severino Ferreira da Silva trabalhando o tema:
“E o que é que me falta fazer mais?”
Visitei lá na Grécia certa hora
Li os lindos trabalhos de Pitágoras
Bati papo também com Anaxágoras
E trouxe a chave da caixa de Pandora
Passei perto da Deusa que é Aurora
Dei a ela seis raios boreais
Assisti no palácio as vestais
E de um sopro que eu dei um certo dia
Apaguei o farol de Alexandria
E o que é que me falta fazer mais?
Escrevi com Camões em Portugal
Inspirei a Cervantes na Espanha
Junto a Goehte fiquei na Alemanha
E nos Açores dei nome a principal
Aos poemas de Antero de Quental
Eu andei com aedos e andrais
Já passei nos castelos dos feudais
E coloquei uma vez um trem no trilho
Fiz Olívia Palito ter um filho
E o que é que me falta fazer mais?
 * * *
Zé Cardoso glosando o mote:
Faça tudo que eu fiz se quiser ser
Cantador respeitado e campeão
Para ser o poeta que estou sendo
Foram léguas e léguas de estrada
Minha luta já é marca registrada
Tudo quanto plantei estou colhendo
Nem que a mídia não esteja me querendo
Me trocando por ET ou por Lobão
Eu esqueço que tem televisão
E venho até o teatro lhe dizer
Faça tudo que eu fiz se quiser ser
Cantador respeitado e campeão.
* * *
Edvaldo Zuzu glosando o mote:
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de–série ou genial
Repentista só canta a mais de mil
se acaso eu der-lhe permissão
Se tiver nessa arte condição
não precisa de vírgula nem de til
For igual a Camões para o Brasil
percorrendo o caminho principal
Ser igual a Joãozinho no carnaval
a Licurgo nas leis e no respeito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de–série ou genial…
Cantador como eu ninguém num fez
Deus deixou pra mandar muito depois
e se o cabra for médio eu dou em três
E se for bem pequeno eu dou em seis
que a minha riqueza é bem total
Cantador como eu não nasce igual
que ou nasce mais baixo ou mais estreito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de-série ou genial…
Repentista só tem minha cachola
se acaso agradar aos fregueses
Se Jesus ajudar quarenta vezes
for igual a Inácio de Loiola
Quando ele pegar numa viola
a tarracha aprumada e o dorsal
Afinar suas cordas de metal
fazer muito sonora no seu peito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de–série ou genial…
Essa minha cantiga é bem segura
pra cantar despeitado ninguém ganha
Cantador pra cantar só me acompanha
se tiver com Jesus na cobertura
Que eu nasci maioral nessa cultura
essa minha existência é bem total
Eu já dei uma pisa em Juvenal
que ele foi se tratar não teve efeito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de-série ou genial…
Repentista que existe no país
canta maior do que Zuzu
For igual a um Pinto ou um Xudu
ou então um poeta o Zé Luiz
Ou assim Laurentino ou o Diniz
Sebastião outro vate sem igual
For igual a um Jó ou Lourival
fora esses poetas eu não respeito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de-série ou genial…
Na viola eu nasci pra ser sozinho
no repente não tenho medo de nada
Cantador não atravessa minha estrada
e genial não tem nada em meu caminho
Uma vez dei em  Ontonho Silvino
que ele foi residir lá em Natal
Foi vender a cachaça e a mineral
macarrão com batata e com confeito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de-série ou genial…
Só preciso de um simples idioma
pra cantar agradando ao meu freguês
Eu açoito colega todo mês
quantas surras já dei não tem mais soma
Quem nas aulas da vida tem diploma
não precisa de código penal
E quem é papa-angu de carnaval
pois comigo o buraco é mais estreito
Repentista só canta do meu jeito
se for fora-de-série ou genial…
Toda vida cantando eu sou assim
canto vendo trabalho subo e desço
Que eu sou Jararaca no começo/
inda sou Cascavel do meio pro fim
Só se faz cantador igual a mim
se papai separasse do casal
Se a cama ajeitasse no local
e mamãe se deitar sem ter respeito
Repentista só canta do meu jeito/
se for fora-de-série ou genial.
* * *
EU CANTADOR – Diniz Vitorino Ferreira
Eu sou o pássaro cantor,
a patativa de gola,
o colibri sem gaiola,
que, além da humanidade,
faz da garganta um piano,
para, nas verdes ramagens,
compor em versos selvagens,
as valsas da liberdade.
A cigarra da floresta
sempre foi minha irmã gêmea…
ela, a selvagem boêmia;
eu, o boêmio cantor.
Ela, cantando nos bosques,
eu, nos sertões ressequidos,
transformo feios gemidos
em liras puras de amor.
Sou um ídolo imortal.
Sou caboclo das mãos grossas.
Transformo humildes palhoças
em bonitos pavilhões.
Meu pinho, quando soluça,
deixa as mulatas tostadas,
estáticas, fulminadas
por circuitos de emoções.
É lindo cantar tranqüilo,
da maneira como canto,
sem incomodar-me tanto,
com fortunas obtusas,
e fazer d’alma um refúgio
para as ninfas virtuosas,
do peito um berço de rosas
para o repouso das musas.
* * *
Zé Cardoso e Louro Branco improvisando com o mote:
Vi de tudo no mundo e não achei
Cantador pra cantar na minha frente
Zé Cardoso
Louro Branco, na minha trajetória
Neste mundo eu vi tudo que queria
No avanço da tecnologia
Vi o homem coberto de vitória
O Brasil assinando moratória
E vi governo vendendo continente
Vi Tancredo ganhar pra presidente
E deixar tudo nas mãos de Zé Sarney
Vi de tudo no mundo e não achei
Cantador pra cantar na minha frente
Louro Branco
Eu vi Lula ganhando essa parada
E Zé Serra tombando pra cair
Vi Tancredo ganhar sem assumir
E vi Collor assumir sem fazer nada
Vi uma mulher toda enrolada
Sem poder disputar com o presidente
Perguntei: “quem é ela, finalmente?”
Me disseram: “É a filha de Sarney”
Vi de tudo na vida e não achei
Cantador pra cantar na minha frente

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