sexta-feira, 15 de junho de 2012

COISA PARECIDA COM O BRASIL...



Cartas de Paris: Eu mereço: a meritocracia francesa

Em minhas conversas recentes com colegas e amigos franceses, uma palavra tem aparecido de maneira repetida: meritocracia.
Ainda que o vocábulo seja feio e tenha sido usado de maneira negativa na literatura, aqui na França a meritocracia é vista como algo positivo.
No sistema “meritocrático” é a aptidão da pessoa que define se ela vai atingir uma certa posição ou conseguir certo cargo. Parece bastante justo.
O primeiro-ministro francês Jean Marc Ayrault, nomeado pelo presidente François Hollande, seria um bom exemplo do “vencer pelos próprios méritos”, para os franceses.
Ele nasceu em uma família humilde, cresceu em um dos bairros mais pobres de Nantes, no noroeste da França, mas conseguiu, graças a suas boas notas, entrar na universidade e passar em um concurso para professor.
Posteriormente entrou na vida política, foi prefeito de Nantes e recentemente nomeado primeiro-ministro.
Ou seja, Ayrault teve que subir vários degraus, se esforçar e provar que era competente para chegar onde chegou.
Em minha opinião o problema é que este sistema é baseado na ideologia de que as pessoas podem sempre conseguir vencer por seus próprios méritos e a verdade não é bem essa. Segundo este modelo, todos os seres humanos são iguais.
Isso torna a sociedade extremamente competitiva, já que é necessário ser sempre o melhor para vencer. Isso é perceptível por aqui através das péssimas relações entre os alunos nas universidades e entre colegas de trabalho.
Além disso, na França existem pessoas que simplesmente não podem ou não conseguem atingir as metas porque são excluídas. Os filhos de imigrantes, por exemplo, não entram no sistema porque a própria sociedade os rejeita. Eles podem ter excelentes notas, mas um sobrenome árabe no currículo é uma barreira para encontrar um emprego.
Por outro lado, é bom saber que se você for bom será recompensado independentemente de sua classe social. É verdade que por aqui é raro ver uma pessoa conseguir um emprego porque o pai é presidente da empresa ou um cargo em um ministério porque o pai é ministro.
Uma coisa é certa, o sistema é questionável, mas os franceses, de maneira geral, estão satisfeitos com a meritocracia. Considerando que este é um povo por natureza insatisfeito, acho que isso é um bom sinal.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

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