sexta-feira, 8 de abril de 2016

CORDEL...

Zé Cardoso glosando o mote:
Essa roupa de couro empoeirada
É a prova que vim lá do sertão.
A lembrança do campo, ainda carrego,
Porque foi minha única faculdade.
No momento que eu entro na cidade,
Eu me sinto perdido e não lhes nego:
Eu sei dar nó de porco, dou nó cego,
Mas um nó de gravata, eu não dou não.
Mas, caindo uma corda em minha mão,
Num segundo tá feita uma laçada.
Essa roupa de couro empoeirada
É a prova que vim lá do sertão.
* * *
Andrade Lima glosando o mote
Duas doses de saudade
Deixam a gente embriagado.
Não tem conhaque que faça
Meu peito se embriagar
Mas, já vi gente tombar
Sem beber essa desgraça.
Pois pior do que cachaça
Encontrei bem do meu lado
Senti meu peito apertado
E pra falar a verdade:
Duas doses de saudade
Deixam a gente embriagado.
A saudade é muito forte
Pode crer meu camarada.
Que quem sente essa danada
Parece que vê a morte.
Embarquei nesse transporte
E foi triste o resultado.
Não morri, mas fui trancado
E a Deus pedi piedade.
Duas doses de saudade
Deixam a gente embriagado.
* * *
Dedé Monteiro glosando o mote:
A vida só tem sentido
Enquanto houver ilusão.
Entrei na maré do vício
Sem conhecer suas águas,
Tentando afogar as mágoas
Do meu cruel sacrifício.
Quis me arrepender no início,
Mas faltou disposição…
Fiquei procurando, em vão,
O que nem tinha perdido…
A vida só tem sentido
Enquanto houver ilusão.
* * *
Rafael Neto glosando o mote:
Me afoguei na maré da sedução
Quando o barco do amor perdeu o rumo.
Já cruzei muitos mares caudalosos,
Porém nesse eu quase perco a vida.
Nesse barco a passagem é só de ida
Nos prazeres dos mares ondulosos,
Meus desejos carnais são poderosos
Pra tirar minha vida do seu prumo,
E pra viver ou morrer eu mesmo assumo,
Que o culpado de tudo é a paixão
Me afoguei na maré da sedução
Quando o barco do amor perdeu o rumo.
* * *
Salomão Rovedo glosando o mote:
Pobre cu que não tem sorte
Solta um peido a merda vem.
Um ataque agudo e forte
Bem pior que dor-de-parto
Rasga violento e farto
Pobre cu que não tem sorte.
Mais forte que a dor-da-morte
E dor-de-viado também
Castiga sempre alguém
Como fosse dor-de-corno
A tripa faz um contorno
Solta um peido a merda vem.
* * *
Dimas Bibiu glosando o mote:
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Preso a forte nervosismo
Sinto duras agressões
Me tangendo aos empurrões
Para os confins do abismo
Por falha no organismo
Meu coração já trepida
Minha mente poluída
Passa um filme de terror
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Para os trabalhos normais
Me considero indefeso
Ontem suspendi um peso
Que hoje não posso mais
Já demonstrando os sinais
Duma coluna pendida
Que só será corrigida
Se a idade também for
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Eu nunca consegui ter
Um palacete encantado
Mas mesmo sacrificado
Sempre gostei de viver
Só não acertei fazer
Uma tinta garantida
Que sempre, ao ser removida
Desse o brilho anterior
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Como a velhice é malvada
Perto do fim da viagem
Me atrapalhando a miragem
Nos grutilhões da jornada
Já vou minguando a passada
Igual a onça ferida
Que aceita ser socorrida
Pelo monstro caçador
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Raramente vou à missa
Quando volto, é sem coragem
Que mesmo curta a viagem
Gera cansaço e preguiça
A dentadura postiça
Me deixa a fala espremida
Até a própria comida
Desequilibra o sabor
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Meus tempos de mocidade
Deus não consente voltar
Eu não consigo passar
Sem ser vítima da saudade
Com o pincel da idade
Minha pele foi tingida
A feição diminuída
Como o verão faz na flor
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.
Nos tempos da meninice
Comecei pagando um ágio
Não me livrei dum naufrágio
No temporal da velhice
Tudo que o mundo me disse
Teve a verdade medida
O sol da minha partida
Já vai perto de se pôr
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida.

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