segunda-feira, 30 de novembro de 2015

POESIA POPULAR...



Pinto de Monteiro
Ainda te vejo cego
sem ter no bolso um vintém
Pedindo esmola num beco
Aonde não passa ninguém
Se passar é outro cego
Pedido esmola também.
* * *
José Alves Pequeno
Eu sou de família triste
que na tristeza nasceu
a minha mãe viveu triste
meu pai de triste morreu
e de toda a raça triste
quem é mais triste sou eu.
* * *
Suriel Moisés Ribeiro

O meu verso é água pura
Correndo pelo lagedo
É semente de arvoredo
Brotando na terra dura
É fruta doce madura
No pomar da poesia
É o sopro da ventania
Varrendo a terra escarpada
É noite toda estrelada
E o sol no raiar do dia.
* * *
Poeta Anízio

Cordel, poeta e viola
São três que não se separa
Quando um geme o outro fala
Rimam dentro da bitola
Sai de dentro da cachola
Dum jeito que ninguém faz
Só o poeta é capaz
De tamanha inteligência
Nem pedindo por clemência
Sem ser poeta não faz.
* * *
João Arcanjo de Souza
A gente vem para o mundo
Por pouco tempo emprestado
Se na entrada do céu
For preciso ser coado
Vai ter gente que só passa
Se o pano tiver furado
* * *
João Paraibano

Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
.
Terreno ruim não dá fruto,
Por mais que a gente cultive,
No seu céu eu nunca fui,
Sua estrela eu nunca tive,
Que o espinho não se hospeda,
Na mansão que a rosa vive.
.
Coruja dá gargalhada
Na casa que não tem dono
A borboleta azulada
Da cor de um papel carbono
Faz ventilador das asas
Pra rosa pegar no sono.
* * *
Bartolomeu Pinto Teixeira
A nossa casa é de taipa
tres pedra é nosso fogão,
nossa cama é um trapiche
forrado com barbatão,
feito dum couro de boi
que morreu de sequidão.
* * *
Job Patriota

Na Via-Láctea, o carreiro
chamado de São Tiago
mostrando em seu campo vago
sombras do chão brasileiro.
No Polo Sul, o Cruzeiro
como um mosteiro isolado
que tendo sido tocado
pela mão da Providência
dá uma certa aparência
de um maquinismo parado
* * *
João Batista de Siqueira (Cancão)

O sol, em nesgas vermelhas
Vai atravessando o mangue
Aquelas rubras centelhas
Parecem feitas de sangue
E o celeste vulcão
Numa santa erupção
Na montanha ainda arde
Seus derradeiros lampejos
São eles restos dos beijos
Enfraquecidos da tarde
* * *
Geraldo Amâncio

Foi o número um, foi invencível
parecendo com ele não há nada
sua xerox não pode ser tirada
não existe poeta do seu nível
construir sua cópia é impossível
do seu clone não há cogitação
se for pelo Autor da criação
outro Antônio Gonçalves não se cria
Patativa foi tudo que a poesia
precisou pra chegar à perfeição.
* * *
Uma poesia de Pedro Ernesto Filho

CONVERSA COM MOUCO
Bom dia Siô Cazuza,
vamo conversá um pouco,
eu trouxe pra lhe vendê
sete jerimum caboco.
Tudo qui eu lhe dizia
seu Cazuza não ouvia
e somente repetia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Aproveite, seu Cazuza,
qui meu tempo é muito pouco,
vendo também melancia,
tomate, batata e coco.
Seu Cazuza nada ouvia,
como quem se aborrecia,
dava um tossido e dizia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Peguei o saco de fruta
e encostei no pé de um toco,
e disse por dez real
eu não vou lhe vortá troco,
não se assombre da quantia,
seu Cazuza nada ouvia,
novamente repetia
-Fale arto qui eu sou mouco…
As fruta foi produzida
na roça de Zé Tinoco,
eu troquei numa cangaia,
num facão e num piçoco;
e lhe vendê eu queria,
Cazuza não me ouvia
e a merma coisa dizia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Falei sero, seu Cazuza
de raiva tô quage louco,
de tanto falá gritano
da garganta já tô rouco,
Cazuza não me ouvia,
um cigarro ele acendia
e novamente repetia
-Fale arto qui sou mouco…
Eu lhe disse, seu Cazuza,
vou findá lhe dano um soco,
eu sei qui a sua idade
devo respeitá um pouco,
Cazuza não me ouvia
se levantava e saía
e outa vez me dizia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Parece qui esse véio
tá pensano qui eu sou louco,
pra me vingá dessa raiva
de tudo eu dizia um pouco,
Cazuza apena sorria,
pruquê ele não ouvia
os nome qui eu dizia:
-Eita desgraçado mouco…

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