segunda-feira, 30 de novembro de 2015

POESIA POPULAR...



Pinto de Monteiro
Ainda te vejo cego
sem ter no bolso um vintém
Pedindo esmola num beco
Aonde não passa ninguém
Se passar é outro cego
Pedido esmola também.
* * *
José Alves Pequeno
Eu sou de família triste
que na tristeza nasceu
a minha mãe viveu triste
meu pai de triste morreu
e de toda a raça triste
quem é mais triste sou eu.
* * *
Suriel Moisés Ribeiro

O meu verso é água pura
Correndo pelo lagedo
É semente de arvoredo
Brotando na terra dura
É fruta doce madura
No pomar da poesia
É o sopro da ventania
Varrendo a terra escarpada
É noite toda estrelada
E o sol no raiar do dia.
* * *
Poeta Anízio

Cordel, poeta e viola
São três que não se separa
Quando um geme o outro fala
Rimam dentro da bitola
Sai de dentro da cachola
Dum jeito que ninguém faz
Só o poeta é capaz
De tamanha inteligência
Nem pedindo por clemência
Sem ser poeta não faz.
* * *
João Arcanjo de Souza
A gente vem para o mundo
Por pouco tempo emprestado
Se na entrada do céu
For preciso ser coado
Vai ter gente que só passa
Se o pano tiver furado
* * *
João Paraibano

Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
.
Terreno ruim não dá fruto,
Por mais que a gente cultive,
No seu céu eu nunca fui,
Sua estrela eu nunca tive,
Que o espinho não se hospeda,
Na mansão que a rosa vive.
.
Coruja dá gargalhada
Na casa que não tem dono
A borboleta azulada
Da cor de um papel carbono
Faz ventilador das asas
Pra rosa pegar no sono.
* * *
Bartolomeu Pinto Teixeira
A nossa casa é de taipa
tres pedra é nosso fogão,
nossa cama é um trapiche
forrado com barbatão,
feito dum couro de boi
que morreu de sequidão.
* * *
Job Patriota

Na Via-Láctea, o carreiro
chamado de São Tiago
mostrando em seu campo vago
sombras do chão brasileiro.
No Polo Sul, o Cruzeiro
como um mosteiro isolado
que tendo sido tocado
pela mão da Providência
dá uma certa aparência
de um maquinismo parado
* * *
João Batista de Siqueira (Cancão)

O sol, em nesgas vermelhas
Vai atravessando o mangue
Aquelas rubras centelhas
Parecem feitas de sangue
E o celeste vulcão
Numa santa erupção
Na montanha ainda arde
Seus derradeiros lampejos
São eles restos dos beijos
Enfraquecidos da tarde
* * *
Geraldo Amâncio

Foi o número um, foi invencível
parecendo com ele não há nada
sua xerox não pode ser tirada
não existe poeta do seu nível
construir sua cópia é impossível
do seu clone não há cogitação
se for pelo Autor da criação
outro Antônio Gonçalves não se cria
Patativa foi tudo que a poesia
precisou pra chegar à perfeição.
* * *
Uma poesia de Pedro Ernesto Filho

CONVERSA COM MOUCO
Bom dia Siô Cazuza,
vamo conversá um pouco,
eu trouxe pra lhe vendê
sete jerimum caboco.
Tudo qui eu lhe dizia
seu Cazuza não ouvia
e somente repetia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Aproveite, seu Cazuza,
qui meu tempo é muito pouco,
vendo também melancia,
tomate, batata e coco.
Seu Cazuza nada ouvia,
como quem se aborrecia,
dava um tossido e dizia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Peguei o saco de fruta
e encostei no pé de um toco,
e disse por dez real
eu não vou lhe vortá troco,
não se assombre da quantia,
seu Cazuza nada ouvia,
novamente repetia
-Fale arto qui eu sou mouco…
As fruta foi produzida
na roça de Zé Tinoco,
eu troquei numa cangaia,
num facão e num piçoco;
e lhe vendê eu queria,
Cazuza não me ouvia
e a merma coisa dizia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Falei sero, seu Cazuza
de raiva tô quage louco,
de tanto falá gritano
da garganta já tô rouco,
Cazuza não me ouvia,
um cigarro ele acendia
e novamente repetia
-Fale arto qui sou mouco…
Eu lhe disse, seu Cazuza,
vou findá lhe dano um soco,
eu sei qui a sua idade
devo respeitá um pouco,
Cazuza não me ouvia
se levantava e saía
e outa vez me dizia
-Fale arto qui eu sou mouco…
Parece qui esse véio
tá pensano qui eu sou louco,
pra me vingá dessa raiva
de tudo eu dizia um pouco,
Cazuza apena sorria,
pruquê ele não ouvia
os nome qui eu dizia:
-Eita desgraçado mouco…

domingo, 29 de novembro de 2015

 Carlos Drummond de Andrade
drummond1
Tiremos o peso da semana com a poesia incorruptível de Carlos Drummond de Andrade. O poeta mineiro produziu poemas eróticos no livro O Amor Natural, editado pela Record, em 1992, com ilustrações de Milton Dacosta.
Aí vai trecho de A Bunda, Que Engraçada:
“A bunda, que engraçada,
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
Pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais ? Talvez os seios.
Ora, murmura a bunda, esses garotos
Ainda lhes falta muito o que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
Em rotundo meneio. Anda por si
Na cadência mimosa, no milagre
De ser duas em uma, plenamente”.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A ÚLTIMA CANÇÃO...

Últimas palavras de Steve Jobs:
“Eu alcancei o pináculo do sucesso no mundo dos negócios.
Nos olhos dos outros, minha vida é uma personificação do sucesso.
Porém, além do trabalho, tenho pouca alegria. No final, a riqueza é apenas um fato da vida que eu estou acostumado.
Neste momento, deitado na cama, doente e lembrando toda a minha vida, eu percebo que todos os reconhecimentos e a riqueza que tive muito orgulho em ter empalideceu e tornou-se insignificantes diante da morte iminente.
Na escuridão, eu olho para as luzes verdes da vida apoiando máquinas e ouço os sons de zumbidos mecânicos. Posso sentir o sopro de Deus da morte se aproximando...
Agora eu sei, quando nós acumulamos riqueza suficiente para nossa vida, devemos buscar outras questões que não estão relacionados com a riqueza...
Deve ser algo que é mais importante:
Talvez relacionamentos, talvez a arte, talvez um sonho de juventude...
Prosseguir sem parar em busca de riqueza apenas transformará uma pessoa em um ser torcido igual a mim.
Deus nos deu os sentidos para sentirmos o amor nos corações de todos, não as ilusões provocadas pela riqueza.
A riqueza que eu ganhei na minha vida, não posso trazer comigo.
O que posso levar são só as recordações precipitadas pelo amor.
Essas são as verdadeiras riquezas que irão segui-lo, acompanhá-lo, dando-lhe força e luz para continuar.
O amor pode viajar mil milhas. A vida não tem limites. Vá para onde você quer ir. Chegue a altura que você deseja alcançar. Tudo está no seu coração e em suas mãos.
Qual é a cama mais cara do mundo? -"A cama de um doente"...
Você pode empregar alguém para dirigir o carro para você, fazer dinheiro para você, mas você não pode ter alguém para suportar a doença para você.
Coisas materiais perdidas podem ser encontradas. Mas há uma coisa que nunca pode ser encontrada quando é perdida – " A Vida".
Quando uma pessoa vai para a sala de cirurgia, ela percebe que existe um livro que ele ainda tem que terminar de ler -"O Livro da Vida Saudável".
Qualquer que seja o estágio da vida estamos no agora. Com o tempo, vamos enfrentar o dia em que a cortina cai.
Tesouros de amor para sua família, amor para seu esposo, para seus amigos...
Tratem-se bem. Respeite e ame os outros.”

REVELAÇÕES DA ALMA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.



FOTOGRAFIAS REVELADAS NA ALMA ...

ADORMEÇO COM A MUSICA QUE A MINHA ALMA EXECUTA, NIGUEM ESCUTA , MAS MEU CACHORRO FAREJA E ADORMECE...

VIVO ENTERNECIDO COM AS COISAS SIMPLES...

PRECISO DAS PESSOAS QUE UM DIA SE SENTARAM NA MINHA SALA E HOJE EU AS REVELO NAS SALAS DE DENTRO DE MIM...

SOU LITERALMENTE UMA COLCHA DE RETALHOS DE PESSOAS...

UMAS ME DEIXARAM O MEDO ...OUTRAS ME ACENDERAM OS SENTIMENTOS, OUTRAS SE PERPETUARAM NAS CANCOE, OUTRAS AINDA SE ENCONTRAM NOS MOVEIS ANTIGOS DA SALA OU SE ESCONDERAM DENTRO DAS PORCELANAS, OUTRAS ME ENXERTARAM NA ALMA OS GESTOS NOBRES E A CONVICÇÃO DE SER APENAS UM PASSAGEIRO DESTE TREM...

OLHO ME NO ESPELHO E ME VEJO UMA COLCHA...E DISTINGO TODOS OS RETALHOS... CONHEÇO AS PARTES E O TODO...

OLHO NO CANTO DA SALA E VEJO A FRASE: RECEITA PARA SE FAZER POETA...

E ESTAS SINFONIAS QUE TOCAM DENTRO DE MIM TAMBÉM SÃO RETALHOS DE SONS.. O SOM DOS CHOROS SINCOPADOS QUE ECOAVAM DA SALA DE TIA NAZINHA, PARA O OITAO DA IGREJA DE NOVA CRUZ... OS SOLOS DO VIOLÃO DE SEU JOQUINHA, QUE JÁ TOCAVA VIOLAO SETE CORDAS, LA CUMPARSITA E LENCINHO BRANCO, DOIS TANGOS QUE MAMÃE TOCAVA COMPULSIVAMENTE NO ACORDEON OU SOFEJAVA NA BOCA , JÁ EXAUSTA SEM EU ADORMECER...

TEM O SOLO DO TROMBONE DE TENENTE FREITAS, O PISTON DE WILSON DE MANDURICO, E A PRÓPRIA VOZ ESCRACHADA DE MANDURICO... UMA VOZ DE SONS MÉDIOS...

TRAGO NA MESMA SINFONIA, OS ACORDES DESAFINADOS DO PIANO DE IRMÃ LUIZA, QUE INVENTOU DEUS NA MINHA VIDA...A SUA MELODIA ERA DESAFINADA MAS O SEU GRITO AINDA ECOA E ME LIBERTA...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A GRANDEZA DOS PEQUENOS GESTOS...



ATITUDES E GESTOS QUE EMOCIONAM E FAZEM TODA A DIFERENÇA...




1. Um garoto de 4 anos tinha um vizinho idoso ao lado, cuja esposa havia falecido recentemente.

Ao vê-lo chorar, o menino foi para o quintal dele, e simplesmente sentou-se em seu colo.

Quando a mãe perguntou a ele o que havia dito ao velhinho, ele respondeu:

- Nada. Só o ajudei a chorar.



2. Os alunos da professora de primeira série Debbie Moon estavam examinando uma foto de família.

Uma das crianças da foto tinha os cabelos de cor bem diferente dos demais. Alguém logo sugeriu que essa criança tivesse sido adotada.

Logo uma menina falou:

- Sei tudo sobre adoção, porque eu fui adotada.

Logo outro aluno perguntou-lhe:

- O que significa "ser adotado"?

- Significa - disse a menina - que você cresceu no coração de sua mãe, e não na barriga!




3. Sempre que estou decepcionado com meu lugar na vida, eu paro e penso no pequeno Jamie Scott.

Jamie estava disputando um papel na peça da escola. Sua mãe me disse que tinha procurado preparar seu coração, mas ela temia que ele não fosse escolhido.

No dia em que os papéis foram escolhidos, eu fui com ela para buscá-lo na escola. Jamie correu para a mãe, com os olhos brilhando de orgulho e emoção:

- Adivinha o quê, mãe!

E disse aquelas palavras que continuariam a ser uma lição para mim:

- Eu fui escolhido para bater palmas e espalhar a alegria!




4. Conta uma testemunha ocular de Nova York :

Num frio dia de dezembro, alguns anos atrás, um rapazinho de cerca de 10 anos, descalço, estava em pé em frente a uma loja de sapatos, olhando a vitrina e tremendo de frio.

Uma senhora se aproximou do rapaz e disse:

- Você está com pensamento tão profundo, olhando essa vitrina!

- Eu estava pedindo a Deus para me dar um par de sapatos - respondeu o garoto...

A senhora tomou-o pela mão, entrou na loja e pediu ao atendente para dar meia duzia de pares de meias para o menino. Ela também perguntou se poderia conseguir-lhe uma bacia com água e uma toalha. O balconista rapidamente atendeu-a e ela levou o garoto para a parte detrás da loja e, tirando as luvas, se ajoelhou e lavou seus pés pequenos e secou-os com a toalha.

Nesse meio tempo, o empregado havia trazido as meias. Calçando-as nos pés do garoto, ela também comprou-lhe um par de sapatos.

Ela amarrou os outros pares de meias e entregou-lhe. Deu um tapinha carinhoso em sua cabeça e disse:

- Sem dúvida, vai ser mais confortável agora.

Como ela logo se virou para ir, o garoto segurou-lhe a mão, olhou seu rosto diretamente, com lágrimas nos olhos e perguntou:

- Você é a mulher de Deus?

A vida é curta, quebre regras, perdoe rapidamente, beije lentamente, ame de verdade, ria descontrolavelmente, e nunca pare de sorrir, por mais estranho que seja o motivo. E lembre-se que não há prazer sem riscos. A vida pode não ser a festa que esperávamos, mas uma vez que fomos convidados, comemoremos!!! Desfrute...

ESCUTANDO A MINISTRA CARMEM LÚCIA...


A POESIA DE AUGUSTO DOS ANJOS...


VERSOS ÍNTIMOS – Augusto dos Anjos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Sómente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

terça-feira, 24 de novembro de 2015

CECÍLIA MEIRELES....

POR ARISTEU BEZERRA...
FRASES POÉTICAS DE CECÍLA MEIRELES
“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.”
“Provação. Agora eu entendo o que é provação. Provação significa que a vida está me provando. Mas provação significa também que estou provando. E provar pode se transformar numa sede cada vez mais insaciável.”
“Não seja o de hoje. Não suspires por ontens… Não queiras ser o de amanhã. Faze-te sem limites no tempo.”
“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
“Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.”
“Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante pra vida inteira.”
“Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento de transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.”
“Se você errou, peça desculpas… É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
“O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha. Somente a árvore fica imóvel entre borboletas e pássaros.”
“Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender.”
“Se as respostas foram dadas e você não faz parte da solução, então é porque o problema é você!”
“É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.”
“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.”
“A vida só é possível reinventada.”
“Não queiras ter pátria, não dividas a terra, não arranques pedaços ao mar. Nasce bem alto, que todas as coisas serão tuas…”
“É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.”
“De tanto olhar para longe, não vejo o que passa perto, meu peito é puro deserto. Subo monte, desço monte. Eu ando sozinha ao longo da noite. Mas a estrela é minha.”
“Acima de nós, em redor de nós as palavras voam e às vezes pousam.”
“Alguns dos melhores momentos da vida a gente experimenta de olhos fechados, tudo o que acontece dá para imaginar… Tudo o que se imagina, pode acontecer.”
“Os livros que têm resistido ao tempo são os que possuem uma essência de verdade, capaz de satisfazer a inquietação humana por mais que os séculos passem.”
“É preciso amar as pessoas e usar as coisas e não, amar as coisas e usar as pessoas.”
cecilia-meireles
Cecília Meireles (1901-1964) é considerada uma das poetas mais importantes da literatura brasileira. A carioca atuou como jornalista e professora, profissão pela qual tinha muito carinho. Além da carreira literária, o papel na educação também é lembrado. Cecília Meireles fundou a primeira biblioteca infantil do país e trabalhou na Rádio Ministério da Educação quando já estava aposentada.
“Romanceiro da Inconfidência”, “Viagem” e “Ou isto ou aquilo” são algumas obras que marcam a carreira da escritora, pela segunda, inclusive, Cecília ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. O Prêmio Machado de Assis foi concedido pelo conjunto da obra.

O DELICADO...

Conhecido no Brasil como o homem mais brabo do mundo, o cearense Seu Lunga está eternizado no imaginário das pessoas com suas respostas diretas de quem perguntava “bobagens”, como ele costumava definir.
Comerciante de Juazeiro do Norte, onde tinha uma loja de artigos usados, a história da vida de Seu Lunga se confunde com sua fama de mal humorado. Para uns era “bruto”, para outros um “bronco”. Ele dizia sempre que não era “ignorante”, mas o “povo que perguntava besteira”.
Imortal cearense, suas histórias (verdadeiras ou não) permanecem vivas após 87 anos de vida e mais um ano de saudade, completado neste dia 22 de novembro. Para celebrar Seu Lunga, o Tribuna do Ceará lista 11 das respostas mais brutas do homem tido como o mais enjoado que já existiu.
1. O funcionário do banco veio avisar:
– Seu Lunga, a promissória venceu.
– Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória..

2. Seu Lunga passa na rua com uma vara de pescar. É quando um vizinho pergunta:
– Vai pescar?
– Não, a vara é para eu palitar meus dentes!
3. Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:
– Tá doente, Seu Lunga?
– Quer dizer que seu fosse saindo do cemitério, eu tava morto?
4. Seu Lunga está no banheiro, quando alguém bate na porta e pergunta:
– Tem gente?
– Não! É a merda que está falando!
5. O amigo de Seu Lunga o cumprimenta:
– Olá, Seu Lunga! Tá sumido! Por onde tem andado?
– Pelo chão, não aprendi a voar ainda…
6. O telefone toca e Seu Lunga atende:
– Alô!
– Bom dia! Mas quem está falando?
– Você!
7. Seu Lunga entra em uma loja e pergunta ao balconista:
– Tem veneno pra rato?
– Tem! Vai levar?
– Não, vou trazer os ratos pra comer aqui!
8. Seu Lunga viaja de ônibus e a poltrona ao seu lado está vazia.
Numa parada do percurso uma senhora entra e ao chegar perto de seu Lunga pergunta:
– Senhor! Nessa cadeira tem alguém sentado?
Seu Lunga olha para o lado e resmunga:
– Se tiver, eu to cego!
9. Seu Lunga no elevador (no subsolo).
Alguém pergunta: Sobe?
Seu Lunga responde: Não, esse elevador anda de lado mesmo.
10. Seu Lunga está parado no ponto de ônibus e chega um conhecido e pergunta:
– Você vai pegar o ônibus?
– Não, eu moro aqui neste ponto de ônibus!
11. Com sede, Seu Lunga pede à sua esposa um pouco de água.
Ela pergunta: “No copo?”
E ele responde: “Não. Bota no chão e vem empurrando com o rodo”.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

SOBRE O FILÓSOFO DIÓGENES...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


               Diógenes era um filósofo... talvez o mais inteligente...
               atingira na vida grande grau de satisfação e contentamento...morava dentro de um barril...
               além da inteligencia e do prazer em viver, não possuía mais nada.
               Certa vez um rei se deparou com um problema muito grande, de difícil solução... foi solicitada a opinião de Diógenes...o mesmo se debruçou sobre a questão e enviou ao rei a solução, que foi acolhida na íntegra... foi um sucesso.
               o rei, bastante maravilhado, quis conhecer e agradecer a quem tinha lhe ajudado, e foi procurar o filósofo;encontrou-o, dormindo no seu barril, em plena manhã, com o sol já alto.se aproximou e deu-lhe os agradecimentos, dizendo:estou muito satisfeito, e você pode me pedir o que quiser na vida, que tenho o prazer de lhe proporcionar... 
               o filósofo foi acordando, abrindo os olhos e dizendo:quero que o senhor saia da frente do barril, pois sua presença está impedindo, que a luz do sol me aqueça.
               Ainda nas suas andanças, Diógenes viu um camponês, debruçado sobre um lago, bebendo água com o côncavo das mãos... esta cena lhe levou á reflexão... quando chegou ao barril, pegou o seu caneco rústico de pau e couro e jogou fora, dizendo afirmativamente:
               a gente se prende a muita coisa material sem futuro e desnecessária.

NO ESTADO DE POESIA....





Geraldo Amâncio e Severino Feitosa cantando o mote:
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Geraldo Amâncio
Eu sei que você reclama,
que é um repentista antigo,
porém pra cantar comigo,
acho pouco a sua fama,
é muito bom pra o programa,
pra todo mundo acordar,
pra falar, pra conversar,
mas é fraco pra o repente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Severino Feitosa
Geraldo  você recita
para a platéia achar graça,
em todo canto que passa,
tem a cantiga bonita,
mas aqui onde visita,
é meu reino, é meu lugar,
você tem que respeitar,
para ser independente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar. 
Geraldo Amâncio
No gramado eu sou atleta,
hoje aqui em João Pessoa,
não faço cantiga à toa,
a minha idéia é completa,
eu prefiro outro poeta,
com quem possa me ocupar,
é perdido eu trabalhar
com certo tipo de gente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Severino Feitosa
Seus erros ninguém perdoa,
porque você é pequeno,
sua dose de veneno
está pronta em João Pessoa,
lhe afogo na lagoa,
lhe jogo dentro do mar,
e você morre sem voltar
pra o Ceará novamente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Geraldo Amâncio
Muita coisa eu estou vendo
e a platéia está notando,
é Severino apanhando,
pensando que está batendo,
é um coitado sofrendo,
eu sem querer judiar,
quem se acostuma apanhar,
morre na peia e não sente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Severino Feitosa
Lhe falta a inspiração
para seguir os meus passos,
estou vendo os seus fracassos,
se afracou nesse rojão,
se eu lhe der um empurrão,
a cabeça vai rodar,
esse nariz vai parar
da caixa prego pra frente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Geraldo Amâncio
Não tem vez esse rapaz,
quando está no meu caminho,
ele é bem devagarinho,
já não sabe o que é que faz,
cinqüenta léguas pra trás,
doido pra me acompanhar,
se acaso você cansar,
procure um toco e se sente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Severino Feitosa
Sei nadar em qualquer rio,
me criei nessa escola,
no braço dessa viola,
não aprendo cantar frio,
me pediram o desafio,
e eu quero lhe açoitar,
já ouvi alguém gritar,
Feitosa  a cantiga esquente !
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Geraldo Amâncio
Nossa cantiga é assim,
faz tempo que eu lhe conheço,
eu sou manso no começo,
que é para bater no fim,
você diz que dá em mim,
eu começo a duvidar,
sabe o povo do lugar,
tanto apanha como mente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Severino Feitosa
Conheço o interior,
que o colega foi nascido,
se mete a ser atrevido,
não passa de agitador,
é pequeno cantador,
a sua fama é vulgar
quem de você apanhar,
não sabe o que é repente.
Comigo o rojão é quente,
canta quem souber cantar.
Geraldo Amâncio
Eu uso a matéria prima,
que nunca saiu à toa,
agrada a qualquer pessoa,
que de mim se aproxima,
sou a cascavel da rima,
quem vier me acompanhar,
vou morder seu calcanhar
e arranchar em seu batente.
Comigo o rojão é quente,

canta quem souber cantar.

sábado, 21 de novembro de 2015

SOBRE A CIRURGIA QUE EU FIZ...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

               ESTOU no 21* dia post operatório...fiz a Cirurgia de redução do estômago...ou a GASTROPLASTIA, ou a CIRURGIA BARIÁTRICA...cansei de ser gordo...

               Ninguém faz OMELETE SEM  QUEBRAR OS OVOS...é um post operatório difícil...pesado...doloroso...com muitas gases...lento e progressivo...

               Fui operado por três ex alunos, que me TRATARAM COMO SE EU FOSSE UM REI...
               Dr. Carlos Alexandre Fonseca, o cirurgião, seu assistente Dr. João batista e Dr Alessandro Bessa, o Anestesista...uma excelente equipe...gente muito fina...Contei ,na entubação com o auxílio luxuoso de outro ex aluno, o cirurgião torácico: HILAS DA COSTA, pois fui entubado por BRONCOSCOPIA.
               É uma cirurgia grande,mutilante, que altera a sua anatomia, mas a solução mais óbvia para o OBESO...

               Pensei numa imagem para dizer aos meus leitores, como é o póst operatório: é você colocar uma pedra de  uma tonelada em cima de uma formiga, e mandar ela procurar o seu destino...reencontrar o caminho do formigueiro...
          Estou feliz...aos poucos encontrando o caminho do formigueiro e reafirmo que:

          mesmo aos pedaços, eu  me encontro inteiro para recomeçar...

          Beijos...
por enquanto repito o marreco:tou fraco.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO...

João Cabral de Melo Neto
Joao-Cabral
Fechemos a semana com a palavra mineral, agreste, mas profundamente essencial, de João Cabral. Trecho deJoaquim Cardozo na Europa, incluído em Poemas Pernambucanos, editado pela Nova Fronteira, com apoio do Sindicato do Açúcar, em 1988:
“Ele foi um dos recifenses
De menos ondes e onde mais,
Que em lisboas, madrids, paris,
Andou no Recife, seu cais.
Como elas todas já sabia
Não foi turista ou visitante;
Não caminhou guias, programas:
Viveu-as de dentro, habitante”.

FLORBELA ESPANCA...

HINO DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO...



               ESTE HINO É UMA PÉROLA DA LITERATURA POTIGUAR...
DE AUTORIA DE DONA NANOCA CÂMARA, QUE ALÉM DE TODAS AS SUAS VIRTUDES(UMA PESSOA DE DEUS), ERA A MÃE DO MULTI SECRETÁRIO DE ESTADO ASSIS CÂMARA, O PROCURADOR DE ESTADO...
          CONHECI-A PESSOALMENTE, FUI NA SUA CASA ALGUMAS VEZES, ERA AMIGA MAIOR DE MINHA TIA EULINA BEZERRA.
          FELIZ DE QUEM COMPÕE PARA NOSSA SENHORA

          BERNARDO CELESTINO PIMENTEL

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CARLOS PENA FILHO...





Testamento do Homem Sensato:
“Quando eu morrer, não faças disparates
Nem fiques a pensar: “Ele era assim …”.
Mas senta-te num banco de jardim,
Calmamente comendo chocolates.
Aceita o que te deixo, o quase nada
Destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que vivi,
Para ser em lembranças prolongada.
Porém, se, um dia, só, na tarde em queda,
Surgir uma lembrança desgarrada,
Ave que nasce e em voo se arremeda,
Deixa-a pousar em teu silêncio, leve
Como se apenas fosse imaginada,
Como uma luz, mais que distante, breve.”

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

POESIA




ETERNIDADE – Maria Braga Horta



Faço versos assim como amor faz ciúme,
a árvore faz sombra e dá frutos e flor,
como a flor desabrocha irradiando perfume,
como a nuvem dá chuva e o sol produz calor.
Faço versos porque só meu verso resume
os meus sonhos de glória e os meus sonhos de amor
e neles me reflito e em seu frágil volume
condenso as vibrações do meu mundo interior.
Para quê, afinal? Nem eu nem tu sabemos…
Mas, talvez pressentindo outra vida futura
na resposta que deu Jesus a Nicodemos,
espero (aqui na terra, ou no céu, onde for…)
nascer de novo e ter a suprema ventura
de fazer novamente os meus versos de amor.
Lajinha, 7-2-1956

terça-feira, 17 de novembro de 2015

SIAMESES...



Siameses
João Bosco
  

(ele)
Amiga inseparável,
rancores siameses
nos unem pelo olhar.
Infelizes pra sempre
Em comunhão de males
obrigação de amar.
E amas em mim a cruel indiferença.
Aspiro em ti a maldade e a doença.
Vives grudada em mim,
gerando a pedra
em teu ventre de ostra
e eu conservo o fulgor do nosso ódio
estreitando a velha concha...
Amiga inseparável,
tu és meu acaso
e por acaso eu sou tua sina,
somos sorte e azar,
tu és minha relíquia,
seu sou tua ruína.
(ela)
Vivo grudada em ti,
gerando a pedra
em meu ventre de ostra.
Conservas o fulgor do nosso ódio
estreitando a velha concha...
Amigo inseparável,
eu sou teu acaso
e por acaso tu és minha sina,
somos sorte e azar,
eu sou tua relíquia,
tu és minha ruína.

Composição: João Bosco & Aldir Blanc 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

VATES DO POVO...

louro
Lourival Batista (1915-1992), mais conhecido como Louro do Pajeú, foi o homenageado na Fenearte deste ano. A edição de 2015 da maior feira de artesanato da América Latina aconteceu no período de 2 a 12 de julho, no Centro de Convenções de Pernambuco. A Fenearte também homenageou o grande artesão pernambucano Mestre Nuca de Tracunhaém.
O tributo a Lourival Batista pode ser considerado extensivo a todos os poetas do nordeste, pois este repentista é um dos representantes máximos do maravilhoso mundo da poesia popular e do repente. Para a homenagem, a feira teve um museu no mezanino com exposição de obras do mestre Nuca e registros de poemas do Rei dos Trocadilhos.
O legado da poesia desse gênio do repente é grande em quantidade e qualidade, entretanto fizemos uma amostragem das pérolas poéticas do talentoso Lourival Batista Patriota:
“Eu comecei com um cego
Minha carreira de artista
Cesário José de Pontes
Que foi um grande repentista
Depois que ele morreu
Fiquei guiando os de vista.”
“O homem na mocidade
Com duas pernas se arruma,
Mas depois que fica velho
Com tudo se desapruma!
De duas passa pra três
E as três não valem uma.”
“Meus filhos são passarinhos
Que vivem dos meus gorjeios;
Eu, para encher os seus papos,
Caço grãos em chãos alheios
E só boto um grão no meu
Quando vejo os deles cheios…”
“O poeta é um canário,
O verso, o seu milho alpiste,
A lira é água potável
Matando a sede que existe,
Porém, faltando um dos dois,
A ave definha, triste.”
“Não vejo quem compreenda
Natureza de viola;
Com o sol não se dá bem
Com chuva se descontrola
Se vem o sol, ela racha
Se vem a chuva descola.”
“Pra cantar um desafio
A ninguém peço socorro…
Vai chegando ORLANDO TEJO,
Que é da altura d’um morro,
TEJO que anda esta hora
Não tem medo de cachorro.”
“Vou deixar a cantoria,
Estou vendo o sol se pôr,
Só nunca pude ver posto
Foi o sol da minha dor
Que, sendo forte, reflete
Na alma do cantador.”

domingo, 15 de novembro de 2015

Langston Hughes
lh
Fechemos a semana com a têmpera altiva do poeta da América branca e negra, azul e vermelha, Langston Hughes. Em trecho do poema O Negro:
“Eu sou um negro:
Escuro como a noite é escura,
Escuro como o ventre de minha África.
Eu fui um escravo:
César mandou-me limpar a soleira de suas portas,
Lustrei as botas de Washington.
Eu fui um operário:
Sob minhas mãos as Pirâmides cresceram,
Eu fiz a argamassa para o edifício Woolworth.
Eu fui um cantor:
Por todos os caminhos da África até a Geórgia
Trouxe minhas canções tristes
E criei o ragtime”.

sábado, 14 de novembro de 2015

A RUA DOS CATAVENTOS – IV – Mário Quintana
Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto à janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.
Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola. . .
Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.
Ele trabalha silenciosamente. . .
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente. . .

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A CARTA DO DEFUNTO...

QUEIXA DE DEFUNTO


Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida na Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tornar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la:


“Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi escrever isso que se chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustras e eu não.


Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem em cousa alguma de reivindicações e revoltas; mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia.


Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte um sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensamento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais.


Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos "bíblias", nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns.


Vivia uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronuncaidas com toda eloquência em galego ou vasconço.


Segui-as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. É bom, meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa.


Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda.


Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contrubuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tenho sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanhamento tiveram que atravessar em toda a extensão a Rua José Bonifácio, em Todos os Santos.


Esta rua foi calçada há perto de cinquenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e larguras, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto.


Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranhaduras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo:


— Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem-comportado - como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto?


Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno.


Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc.”


Posso garantir a fidelidade da cópia a aguardar com paciência as providências da municipalidade.


LIMA BARRETO