Leandro Gomes de Barros
Meus versos inda são do tempo
Que as coisas eram de graça:
Pano medido por vara,
Terra medida por braça,
E um cabelo da barba
Era uma letra na praça.
Que as coisas eram de graça:
Pano medido por vara,
Terra medida por braça,
E um cabelo da barba
Era uma letra na praça.
*
Suspira Brasil! suspira!
Tens razão de suspirar,
Já vi-te rir no prazer,
Hoje te vejo chorar,
Qual uma barca sem norte,
Vendo os vai-vem da sorte
Esperando naufragar.
Tens razão de suspirar,
Já vi-te rir no prazer,
Hoje te vejo chorar,
Qual uma barca sem norte,
Vendo os vai-vem da sorte
Esperando naufragar.
*
Quando o velho Santo Jó
Viu-se doente e leproso
No Recife Alfeu Raposo
Mandou-lhe uma fricção,
A mulher dele mandou
Pedir ao Dr. Tomé
Na farmácia São José
O Elixir da Salvação.
Viu-se doente e leproso
No Recife Alfeu Raposo
Mandou-lhe uma fricção,
A mulher dele mandou
Pedir ao Dr. Tomé
Na farmácia São José
O Elixir da Salvação.
São Pedro era pescador
Antes de seguir Jesus
Quando o Dr. Santa Cruz
Tomou conta de Monteiro
Nero Imperador Romano
Mandou um seu paladino
Chamar António Silvino
Para ser seu cangaceiro.
Antes de seguir Jesus
Quando o Dr. Santa Cruz
Tomou conta de Monteiro
Nero Imperador Romano
Mandou um seu paladino
Chamar António Silvino
Para ser seu cangaceiro.
* * *
Jânio Leite
Fui gerado e criado lá na roça
Convivi toda infância com meus pais
Não cursei faculdades federais
Minha lição foi puxar burro em carroça
Com a mão calejada e a pele grossa
De um trabalho tão árduo e tão pesado
Na enxada, na foice e no machado
Meu alimento foi feijão e rapadura
Calo seco é anel de formatura
Pra quem fez faculdade no roçado.
Convivi toda infância com meus pais
Não cursei faculdades federais
Minha lição foi puxar burro em carroça
Com a mão calejada e a pele grossa
De um trabalho tão árduo e tão pesado
Na enxada, na foice e no machado
Meu alimento foi feijão e rapadura
Calo seco é anel de formatura
Pra quem fez faculdade no roçado.
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Natália Monteiro
Eu nasci num recanto diferente
Onde a paz triunfante é quem comanda
Mas se a chuva não vem ela desanda
Da maneira que está ultimamente
Mas meu sangue é de um povo persistente
E ao invés de ficar desesperada
Digo a Deus : Meu Senhor muito obrigada
Tenho orgulho daqui deste meu chão
Eu nasci nas caatingas do sertão
Uma terra por deus abençoada.
Onde a paz triunfante é quem comanda
Mas se a chuva não vem ela desanda
Da maneira que está ultimamente
Mas meu sangue é de um povo persistente
E ao invés de ficar desesperada
Digo a Deus : Meu Senhor muito obrigada
Tenho orgulho daqui deste meu chão
Eu nasci nas caatingas do sertão
Uma terra por deus abençoada.
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João Paraibano
Quando o dia começa a clarear
Um cigano se benze e deixa o rancho
A rolinha se coça num garrancho
Convidando um parceiro pra voar
Um bezerro cansado de mamar
Deita o queixo por cima de uma mão
A toalha do vento enxuga o chão
Vagalume desliga a bateria
Das carícias da noite nasce o dia
Aquecendo os mocambos do sertão.
Um cigano se benze e deixa o rancho
A rolinha se coça num garrancho
Convidando um parceiro pra voar
Um bezerro cansado de mamar
Deita o queixo por cima de uma mão
A toalha do vento enxuga o chão
Vagalume desliga a bateria
Das carícias da noite nasce o dia
Aquecendo os mocambos do sertão.
* * *
Cego Aderaldo
(No decorrer de uma visita ao Rio de Janeiro)
(No decorrer de uma visita ao Rio de Janeiro)
O clima do meu sertão
É mais quente e mais sadio,
Não é um clima abafado
Como este clima do Rio.
O sapo do Ceará,
Vindo aqui morre de frio.
É mais quente e mais sadio,
Não é um clima abafado
Como este clima do Rio.
O sapo do Ceará,
Vindo aqui morre de frio.
* *
João Firmino
(Quando do falecimento do Cego Aderaldo)
(Quando do falecimento do Cego Aderaldo)
Foi a forte aroeira que ruiu
Ao contato do gume do machado.
Foi o ferro melhor já fabricado
Que o mercado do mundo jamais viu;
Foi o trem, sem destino, que partiu,
E ao longo da estrada deu o prego;
Como Homero, também, ele era cego
A quem todo o seu povo admirava…
Para ser o próprio Homero só faltava
Ao invés de cearense ser um grego!
Ao contato do gume do machado.
Foi o ferro melhor já fabricado
Que o mercado do mundo jamais viu;
Foi o trem, sem destino, que partiu,
E ao longo da estrada deu o prego;
Como Homero, também, ele era cego
A quem todo o seu povo admirava…
Para ser o próprio Homero só faltava
Ao invés de cearense ser um grego!
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José Lucas de Barros
(Em homenagem ao poeta repentista Diniz Vitorino Ferreira)
(Em homenagem ao poeta repentista Diniz Vitorino Ferreira)
Nunca vi, em cantiga improvisada,
um poeta maior do que Diniz,
e acredito que Deus mandou chamá-lo
por achar que este mísero país
nunca soube entender o seu valor
nem tampouco ajudá-lo a ser feliz!
um poeta maior do que Diniz,
e acredito que Deus mandou chamá-lo
por achar que este mísero país
nunca soube entender o seu valor
nem tampouco ajudá-lo a ser feliz!
Sem Diniz, a viola nordestina
vai chorar, sem consolo, noite e dia;
o poeta dos versos mais perfeitos
se despede de nossa cantoria,
mas no coro dos anjos, lá no céu,
entra mais um maestro da poesia.
vai chorar, sem consolo, noite e dia;
o poeta dos versos mais perfeitos
se despede de nossa cantoria,
mas no coro dos anjos, lá no céu,
entra mais um maestro da poesia.
* * *
Lino Pedra Azul
Meu povo, quando eu morrer
Coloquem no meu caixão
Meu uniforme de couro
Meu guarda-peito e gibão
Com um bonito retrato
Do meu cavalo Alazão.
Coloquem no meu caixão
Meu uniforme de couro
Meu guarda-peito e gibão
Com um bonito retrato
Do meu cavalo Alazão.
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Manoel Bentevi
Na vida ninguém confia
Em nada sem ter certeza
São obras da natureza
Tudo que a terra cria:
Gente, ave, bicharia,
Tudo começou assim.
O homem é quem é ruim
Nada bom ele planeja
Por muito forte que seja
A morte pega e dá fim.
Em nada sem ter certeza
São obras da natureza
Tudo que a terra cria:
Gente, ave, bicharia,
Tudo começou assim.
O homem é quem é ruim
Nada bom ele planeja
Por muito forte que seja
A morte pega e dá fim.
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Moacir Laurentino
Acho bonito o inverno
Quando o rio está de nado
Que o sapo faz oi aqui
Outro oi do outro lado
Parece dois cantadores
Cantando mourão voltado
Quando o rio está de nado
Que o sapo faz oi aqui
Outro oi do outro lado
Parece dois cantadores
Cantando mourão voltado
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