sábado, 25 de janeiro de 2014

A LITERATURA DE VIOLANTE PIMENTEL...

O ELOGIO
Há anos atrás, Zé Bananeira era um ótimo sapateiro de Nova Cruz. Entretanto, tinha o vício da bebida, e isso atrapalhava a sua credibilidade.
Certo dia, Dr. Gilmar, antigo dentista da cidade, pediu-lhe para consertar um par de sapatos, cujos solados estavam estragados. O sapateiro lhe pediu uma parte do dinheiro, dizendo que iria comprar a sola. Prometeu que uma semana depois os sapatos estariam prontos, com solados novos. Beberrão de carteirinha, o sapateiro gastou o dinheiro todo com cachaça, e não fez o serviço. SAPATEIRO V
No dia marcado, o dentista foi buscar os sapatos no quartinho onde o sapateiro morava e trabalhava, mas estava fechado. No dia seguinte foi novamente à sua procura, mas não o encontrou. O homem, então, percebeu que o sapateiro estava se escondendo dele. Certamente, não tinha feito o conserto dos seus sapatos. Contrariado, o dentista indagou aos vizinhos se tinham visto o sapateiro nos últimos dias, e soube que ele andava bebendo muito, só chegando em casa à noite.
Dr. Gilmar, então, planejou procurá-lo na hora em que chegasse em casa. Permaneceu nas imediações da residência do sapateiro, até que o viu se aproximar, visivelmente embriagado, sem conseguir andar em linha reta. A rua havia se tornado estreita demais para ele. Ao ver o dentista, Zé Bananeira tomou um susto, ficou parado, mas logo se refez. Antes que Dr. Gilmar dissesse qualquer coisa, ele mesmo se justificou:
- Doutô, eu garanto que amanhã eu vou fazer o seu serviço!.. Não tive tempo de fazer, mas vou fazer, doutô!
O dentista retrucou:
-Faça mesmo! Você recebeu a metade do dinheiro!
E o sapateiro falou novamente:
- Olhe, “doutô! Nesta cidade não tem ninguém mais importante do que o senhor! Nem o “doutô” Gadelha vale tanto! Nem o prefeito vale tanto! Nem o juiz vale tanto! Nem o promotor vale tanto! Nem o padre vale tanto! Tudo isso é fichinha, perto do senhor!!!
O dentista, irritado com tanta demagogia, disse:
- Só falta agora você dizer que eu sou mais importante do que Deus! Será que eu sou?
E o sapateiro, gaguejando, respondeu:
- Agora danou-se, “doutô”… Aí eu jogo num empate!!!

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