quarta-feira, 20 de julho de 2016

A IMPORTANCIA DO BRAÇO AMIGO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.


          Me criei escutando a minha mãe declamar poesias...mamãe rendia homenagem ao talento, as letras, aos sentimentos...
          declamava nas festas oficiais da minha cidade, vivia de pesquisar as coisas da alma...
          pesquisava o que era invisível aos olhos...
          era fã de Guerra Junqueiro, o poeta português,vibrava com as cronicas de Artur da Távora...

               meu pai, o protótipo do comerciante,se orgulhava da cultura da mulher que possuía,mas se dedicava ao trabalho e a juntar dinheiro...para meu pai, a lei da dona baratinha:muito dinheiro na caixinha...esta diferença de mentalidade, me lembrava o estilo barroco...
          e eu fui criado entre o celestial e o profano...
          entre o céu e a terra...
          entre as coisas dos homens e os dons de Deus.
               A minha mãe tinha as mãos abertas, o meu pai tinha as mãos fechadas...minha mãe via sem precisar enxergar, meu pai era um São Tomé,acreditava no que pegasse...mamãe tinha um marido rico, meu pai não....convivi com ANTÍTESES...o meu pai dava para a feira,mamãe dava para a santinha...
               O PONTO COMUM MAIS IMPORTANTE QUE UNIA OS DOIS, ERA A FÉ E O RESPEITO PELAS COISAS DE DEUS... A MAIOR DIFERENCIAÇÃO ESPIRITUAL DO MEU PAI, EU CONSTATAVA NO DOMINGO:ABRIA O COMÉRCIO DE MANHÃ,MAS NA HORA DA MISSA,VESTIA UM PALETÓ E IA SE ENCONTRAR COM DEUS...OS DOIS IAM A MISSA, MAS A ASSISTIAM EM LUGARES DIFERENTES...meu pai no banco dos homens,e mamãe com as beatas...ao término da missa, meu pai se postava na porta da igreja, com os braços feito um engate, para mamãe colocar o braço...era um encaixe automático...e saiam de braços dados na rua grande...este passeio era o ponto alto da vida da cidade...o encaixe era tão mecânico que certa vez,mamãe automaticamente segurou num braço, e depois de caminhar alguns segundos, se deu conta que estava de braços com outro homem, um amigo, e papai de longe, rindo...
               Já idosa, viúva, as vezes surpreendia a minha mãe depressiva,sentindo falta de Chico Bezerra...eu a interrogava: mas a senhora ainda sente falta de homem, com oitenta anos...ela dizia:EU SINTO FALTA DO BRAÇO DE CHICO, DO BRAÇO DO HOMEM...um dia você vai entender isso...uma mulher precisa de um braço amigo , sobretudo com o passar do tempo...é isto que faz falta...
               Hoje,constato nos apartamentos, nas casas,nas festas, a falta que faz um braço amigo...nenhum filho, substitui para a mãe, o braço antigo,que se acoplou física e psicologicamente, durante uma existência...

               VINICIUS DE MORAES, mesmo com a sua irreverência de poeta e boémio dizia: É IMPORTANTE SE VIVER SEMPRE JUNTOS...MESMO UM AMOR QUE NÃO COMPENSA, É MELHOR QUE A SOLIDÃO...
               CONHEÇO HOMENS E MULHERES QUE ESTÃO MORRENDO DE SOLIDÃO...ENFRENTAM AS NOITES, NUMA VERDADEIRA CAÇADA,onde voltam tristes e de mãos vazias, ou no mínimo, COM PAIXÕES SEM AMANHÃ,COMO DIRIA BANDEIRA...
               TODO MUNDO PRECISA DE UM AMOR...é melhor se sofrer juntos do que ser feliz sozinho...
e nas emergências espirituais, o pragmatismo,como diz a canção:

          UM AMOR QUE PELO MENOS DURE ENQUANTO É CARNAVAL...NÃO FAÇA BEM, MAS QUE TAMBÉM NÃO FAÇA MAL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário