quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

SOBRE A CAMA...


O MAIS ANTIGO EQUIPAMENTO TERAPÊUTICO


GERALDO GENEROSO.

Não só o mais antigo, tanto quanto atual e indispensável. E ao longo do tempo sofreu mínimas modificações ou adaptações, desafiando os ímpetos da tecnologia alucinante deste século. Trata-se de um acessório doméstico que acompanha a raça humana de longa data. Por seu histórico, bem que merece um monumento gigantesco, talhado em ouro maciço. Refiro-me à cama, ao leito – ou sensualizando um pouco mais o termo, a alcova. O seu uso se traduz no primeiro expediente para qualquer doença ou indisposição. Os centros de saúde bem que deveriam oferecer camas e mais camas a serviço dos doentes que esperam nas filas de atendimento. Ademais, quantas e quantas pessoas se restabelecem ao simples ato de deitar-se sobre um colchão sobre a mesma? Doutores e pós-doutores esfalfam-se em seus laboratórios no intuito de fazer milagres científicos a cada momento, destarte engrossando a lista dos medicamentos – genéricos e específicos – e eis lá a cama. No quarto da casa, nos acampamentos de peões, nos presídios e hospitais, como recurso insubstituível a cada um dos usuários. Antes, quando parteiras assistiam a domicílio, poder-se-ia dizer que a maioria dos seres humanos nasciam e morriam na cama. A alcova dos nubentes se firma a sua finalidade maior, na tentativa de perpetuidade da espécie. Ah! Que pena não haver no calendário o DIA DA CAMA! Congressistas, não percam tempo e oportunidade ! Exaltem o que é de mérito para homologar de público o valor dessa peça de samaritana dedicação aos seres humanos de todos os quadrantes. Os motéis já fizeram sua parte, guarnecendo seus aposentos com as famosas camas redondas, sem arestas, de feição mais feminil em seu design. Hospitais – no pouco que evoluíram nessa matéria – guarnecem os leitos reguláveis, com colchões d água para maior eficácia na cura e manutenção do paciente em decúbito dorsal.Todavia, algo tão perfeito, como todas as coisas simples, não evolui de forma esnobada ou modista. É um móvel democrático onde todos se igualam na horizontal. Como me recordo, e com saudades, do meu ruidoso colchão de palha, lá na Fazenda Santa Rosa. Palhas que vestiram espigas – complemento alimentar da tropa de meu avô, do nosso bode de estimação, do galo cantor das madrugadas, das galinhas em cacarejo anunciando postura de ovos, ou ralhando com o redor em defesa dos pintainhos! Sim, vamos valorizá-la sem a parcialidade própria dos que a vêem como cúmplice de preguiçosos e valia ociosa de vagabundos.

Sem o sono, em verdade, a vida seria dupla. Mas, se por um lado essa duplicidade nos garantisse mais tempo de existência ativa, onde a cama inexistisse, por certo nossas dores seriam também duplicadas por sobre este Vale de Lágrimas.

Que a cama seja respeitada em seu ofício múltiplo, no descanso ao sadio e no repouso ao doente, ou palco dos amantes. Continue ela na ajuda à recuperação dos bilhões de humanos da face da Terra, tão carentes de tantas coisas. Que não falte em cada lar o leito sagrado, território indevassável do sono e dos sonhos, na saúde e na doença.

Nenhum comentário:

Postar um comentário