O INFERNINHO E O GERVÁSIO Por: STANILAW PONTE PRETA Do livro “As Cem Melhores Crônicas Brasileiras”, organizado por Joaquim Ferreira dos Santos, Editora Objetiva (www.objetiva.com.br), conto aqui à minha maneira o que nos é relatado pelo excelente STANISLAW PONTE PRETA, do dia em que o Gervásio se viu em maus lençóis, que assim foi... ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Quando muito um cineminha, e ela já se dava por contente. Era uma mulher dessas ditas “amélias”, e o casamento dela com o Gervásio já ia para os 25 anos. Sair com o marido, portanto, já se tornara coisa rara. Por isso o espanto quando ele a convidou para um jantar de gala, alto padrão mesmo, e ainda em local que ela escolhesse! Aí ele explicou que era porque faziam 25 anos de casados. Ela assentiu; colocou sua melhor roupa. E pra coroar, ele tomou até um táxi. O lado estranho da coisa começou então... Se por timidez ou por não conhecer --- vá lá saber! --- ela não escolhia nenhum lugar em que pudessem jantar. Decorrido bem algum tempo, ao passarem em frente a um inferninho, desses que nem o diabo entra pra não se sentir inferior, ela foi taxativa: ---Vamos jantar aqui! O Gervásio tremelicou; disse que ali não era lugar digno dela, uma dama, e que... ---Sempre tive curiosidade de saber como funciona um negócio desses por dentro. E, além disso, você disse que eu poderia escolher... O Gervásio coçou a cabeça. Foi a partir de então que o inferno começou pra ele, e justo no “inferninho”... Foi que, logo na entrada daquela boate reles, o Porteiro já lhe deu uma “boa noite”, com cara de intimidades... Lá dentro foi o Maitre que perguntou: ---A mesa de sempre, doutor? O Gervásio olhava então a esposa, com rabo de olho, para ver até que ponto ela estava injuriada, percebido alguma coisa... Aí, já sentados, veio o garçom: ---O uísque de sempre, doutor? Então ela intercedeu pela primeira vez: ---O Gervásio não vai beber; vamos jantar. Eis que o garçom, como se para entortar o Gervásio de vez, disse: ---Então vai aquele franguinho desossado de sempre, né doutor? Jantaram, ambos decerto que em silêncio. Eis que logo após o jantar, veio o Pianista... ---O doutor não quer dançar com a dama aquele samba reboladinho, de sempre? Se rebolando intimamente, ele próprio se sentindo um desossado, decidiu o Gervásio pedir a conta e sair de fininho. Ao sair, de novo aquela “Boa noite” do Porteiro, seguido de um sorriso maroto!... E ainda lhe abriu a porta do táxi! O Gervásio, aflito, torcia para que tudo acabasse logo. Mas ao entrar no táxi, o motorista quis saber: ---Pro motel da Barra, doutor? Aí ela não aguentou mais... ---Seu moleque, vagabundo! Então é por isso que dizia que tinha que ficar fazendo horas extras? Responde, palhaço! Então o motorista do táxi, com uma gentileza para lá de suspeita, parou e, encostando imediatamente o carro, se prontificou: ---Se o doutor quiser, eu mesmo dou umas bolachas nessa vagabunda, e aí ela cala a boca logo!... ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sérgio Porto, (Rio de Janeiro - RJ - 1923 – 1.968), Jornalista, Escritor, Radialista (Comentarista Esportivo), em muitos de seus textos usou o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. Sempre fez muito sucesso em tudo que se propôs a fazer, especialmente como Cronista. |
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
SÉRGIO PÔRTO...UMA CRÕNICA.
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