MUDAR...POR LUIZ OTÁVIO CAVALCANTI.
Não me canso de admirar o dia nascer. Toda vez que chego, cedinho, à janela de meu observatório marítimo. Matinais que se reinauguram continuamente. Trazendo mudanças que são rosas (às vezes com espinhos) da vida. Mudar é preciso.
Esse mote me alcançou, nesta praia de julho, ao ler Carlos Drummond de Andrade, n’O observador no escritório. Diz ele:
“As coisas não nos pertencem. Pertencem a um papel, que as domina, esfarela, recria sob outras formas. Nada é mais ilusório do que a propriedade, pela qual ocorrem tantas brigas e se travam tantas guerras. Agora o problema é: mudar. Hábitos e cenários recomeçando aos sessenta anos. Tem sentido ? Que é que tem sentido, afinal ?”.
Talvez a resposta ao poeta esteja na quentura de sol anunciador. Nada contém mais esperança do que o parto da manhã. Ela será épica na história coletiva. Será promessa nos fazeres de cada um. O que faz sentido, Carlos, é mudar. Nos deveres que nos são impostos. E nas escolhas que assumimos.
Sou um outono cercado de mulheres: minha mãe, minha mulher, minha filha, minha neta, minha irmã. Elas formam um jardim no qual colho certezas. Com minha mãe, no altar de seus 95 anos, serena nos seus afetos (Hoje, sua visita, filho, foi o que mais gostei). Com minha neta, no brilho de olhos de amêndoa (Vô, levanta pra ver peixonauta).
Fiz da mudança uma permanência, rodízio permanente de trabalho. Lidei com orçamento público, com lei fiscal, com planejamento urbano, com tecnologia, com edição de jornal, com gestão acadêmica, com produção editorial. Por isso, repito: obrigado, Pernambuco. Sou devedor a minha terra de experiências várias que muito me ensinaram. E me mudaram.
Sigo João Cabral de Melo Neto, que disse: “Se Pernambuco brigar com o Brasil, fico com Pernambuco. Se Pernambuco brigar com o Recife, fico com o Recife. E se o Recife brigar com a Madalena, fico com a Madalena”. Substituo a Madalena por Boa Viagem.
Montaigne escreveu que “qualquer que seja a duração de vossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu.” Drummond era cético tanto quanto Cabral o foi. E ambos, no seu ceticismo, viveram e foram completos no conceito Montaigniano.
As manhãs servem a isso. Para mostrar que, mesmo para os céticos, prevalece a mudança. E a completeza. Bom dia, vós que sois completos.
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