segunda-feira, 6 de outubro de 2014

MISS SIMPATIA...




RAIVA
por Aristeu Bezerra.

Todas as culturas conhecem a irritação, a raiva e a ira. O valor ou explicação que têm é algo que depende do contexto cultural. A chamada patologia humoral – “doutrina dos humores” -, por exemplo, predominante desde a antiga a Antiguidade até a Idade Média, partia do princípio de que um desequilíbrio entre os “humores corporais” conduzia aos quatro principais temperamentos humanos. O excesso de bile determinaria violentas e calamitosas explosões temperamentais e de raiva, isto é, o tipo colérico. Ainda, hoje, diante de uma irritação ficamos “verdes – cor da bile – de raiva”.

A raiva é uma emoção mais densa do que a irritação. Ela desencadeia uma reação imediata, e a energia represada descarrega-se no chamado acesso de raiva. Quando a raiva e a irritação se voltam para determinado alvo por um período de tempo maior, falamos em ódio. Por fim, a ira vincula irritação à confrontação e à justificação intelectuais, fazendo, então, da “raiva dos injustiçados” a “ira dos justos”.

Para lidar de forma apropriada com a raiva devemos tomar consciência de nossa irritação, com todos os seus indicadores físicos e emocionais. O próximo passo é dar expressão consciente ao sentimento: as palavras nos permitem manifestar a irritação sem ter de recorrer à violência física. Não podemos esquecer de que palavras e gestos podem ferir muito, em particular quando manifestam irritação velada. Neste sentido, seria saudável aprender a exercitar desde criança como evitar e diminuir a irritação também da mesma forma como aprendemos a nos comunicar e cultivar relacionamentos.

Na cultura popular, temos uma sextilha antológica do repentista Pinto do Monteiro que dá a dimensão exata do que esse sentimento negativo lhe provocava:
“No dia que eu tenho raiva
O vento sente um cansaço
O dia perde a beleza
A lua perde o espaço
O sol transforma-se em gelo
Cai de pedaço em pedaço.”

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