quinta-feira, 30 de outubro de 2014

MEMÓRIAS DE UM MÉDICO DE PROVÍNCIA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

* * *
MEMÓRIAS DE UM CARA DE NOVA CRUZ: 

SUCO, PONCHE E REFRESCO
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               Me criei tomando ponche…vim saber o 

que era suco, depois de grande…

além do

ponche, ainda na minha infância, o 

sucesso era o Q Suco…ou como vibramos 

com a chegada do Q Suco de Uva, de 

morango, de groselha…

             Quando 

adoecíamos, dispúnhamos de guaraná 

champagne Antártica, com arroz branco 

e ovo frito…biscoito Maria…lambedor de 

angico com cumarú… 

               
              No peito, uma 

massagem com Vick vaporub, ou 

transpulmim…oh! que alívio…pra quem 

tinha bronquite asmática…


O Ponche, era ,geralmente de 

maracujá…transparente, translúcido…

diariamente,ia uma poncheira para o 

nosso comércio, as 15h, 

religiosamente,para matar a sede do 

nosso pai…


               Nesta época, em Nova Cruz, cortava o 

cabelo com João Bil…que barbeiro 

simpático…era gordo, sorridente,tinha 

um cheiro de velho limpo, e exibia no 

riso, um dente canino inferior, de ouro…

provavelmente colocado por Dr. 

Gilberto 

Tinôco…

que era o dentista da cidade…




individuo envelhecia, morria, a terra 

comia, mais o dente de ouro permanecia 

intacto…

              Não existia 

fotopolimerização,nem resinas, mas as 

coisas dos dentes duravam, a vida toda…

         Paulo Bezerra morreu esmurrando a 

dentadura, para mostrar como 

Dr.Gilberto trabalhava bem…

              Que 

obturações bem feitas…definitivas…


               Ria muito com as conversas da 

barbearia 

de João Bill…que parava de cortar o 

meu 

cabelo, para mandar uma coisa para 

Eulália, sua esposa…ele vivia para ela…

mandava um coentro, uns 

tomates,carnes frescas, mas sempre 

mandava alguém entregar uma coisa 

para 

Eulália, na rua treze de maio…

               era um 

homem que se referia a mulher, 

estampando no rosto, o amor e a 

admiração….Coisa rara…

              Eulália era a 

princesa de João Bill…

          Para Eulália, joão Bill tinha os 

olhos  azúis...Ela era um raio de luz na 

sua porta...


               Naquela época, se vinha pra Natal por 

Tangará…era uma viagem de mais de 

seis 

horas…

              se o motorista do ônibus fosse 



João França,aumentava bem duas horas 

de viagem…dirigia devagar….

              


              Certa vez, 

custou tanto a chegar na rodoviária da 

ribeira, que quando estacionou,um 

gaiato perguntou se ele tinha vindo de 

ré…o motorista ficou irado…puto…quis 

se 

agarrar com o moleque.


               Certa vez, João Bill veio para Natal, 

após 

a feira,de ônibus, e em pé, segurando 

no 

guarda malas…

               o ônibus entupido de 

gente, um calor infernal….ao parar em 

Tangará, o velho barbeiro se dirigiu ao 

dono do bar,e pediu um refresco…estava 

morrendo de sede e calor…trouxeram-

lhe um litro de ponche….ele 

compulsivamente tomou dois 

copos,tomou outro, e bebeu o litro 

todo, 

               a sede era tão grande e ,sob a observação do 

barman, o dono, pediu novamente mais 

refresco,veio o segundo litro, que 

também foi tomando…nisso,o motorista 

do ônibus apita,lembrando o 

prosseguimento da viagem…o dono do 

bar esperava secar o segundo litro,após 



confirmação de que o refresco era 

gostoso… 

          O dono do bar ficou orgulhoso pela 

aceitação do freguês ao seu 

ponche...com um certo prazer, pela 

aceitação demonstrada pelo freguês…

               

              João Bill pagou, e correu para o 

ônibus, 

de motor já ligado,mas, voltou 

correndo, 

e perguntou ao dono do bar:

               De que era 

este refresco que eu tomei? Pois se eu 

adoecer, eu pelo menos sei o que me 

ofendeu…

          João Bill apenas quis matar a sede...


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