sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A LITERATURA DE DRA. VIOLANTE PIMENTEL...


O DEFEITO
José Bento era um fazendeiro muito rico, de uma cidade do interior. Era grosseiro com as pessoas pobres, e com elas evitava aproximação. Temia que lhe pedissem ajuda ou dinheiro emprestado. Dava adeus com a mão fechada, de tão mesquinho que era. Não tinha pena de ninguém e era considerado um homem perverso. Entretanto, era muito querido pelas pessoas ricas da cidade, a quem sabia agradar com presentes caros e produtos da sua fazenda.
Apesar de muito austero e mesquinho, o fazendeiro não gostava de mentiras ou falcatruas. Ajudava sempre aos políticos nas respectivas campanhas eleitorais, e por isso era muito respeitado.cavalo_de_raça
Certo dia, José Bento foi procurado por um forasteiro, que lhe queria vender um cavalo de boa raça, por um preço razoável. Dizia que morava no Estado da Paraíba, e que estava precisando de dinheiro para pagar o tratamento da esposa, que se encontrava gravemente enferma.
O fazendeiro examinou o cavalo, gostou, e indagou ao forasteiro se o animal era sadio e vacinado. O homem respondeu que sim, e o negócio foi realizado. O fazendeiro pagou a importância pedida, e o forasteiro seguiu para o centro da cidade.
Algumas horas depois, o capataz da fazenda descobriu que o cavalo tinha um olho cego. Aí o bicho pegou…
O fazendeiro mandou localizar o forasteiro, com um recado para que ele voltasse à sua fazenda imediatamente. O capataz cumpriu a ordem, e trouxe o vendedor do cavalo até o dono da fazenda, que o recebeu com quatro pedras na mão. Com o olhar cheio de ódio, o rico fazendeiro dirigiu-se ao forasteiro, agarrando-o pelo colarinho da camisa. Chamou-o de ladrão, pois lhe vendera um cavalo cego de um olho, escondendo dele esse grave defeito. Disse-lhe que queria o dinheiro de volta, imediatamente, pois o negócio estava desfeito. Fez ameaças de mandar prendê-lo, caso ele não quisesse desfazer a venda.
O vendedor, que tinha esse cavalo como animal de estimação, empalideceu, ouvindo as palavras do fazendeiro, e, com a voz trêmula, tentou se defender, gaguejando algumas palavras:
- Meu patrão, eu lhe garanti que o cavalo não tinha qualquer defeito, e não tem mesmo não. O cavalo é sadio e ligeiro. É um animal bonito e forte. O que ele tem não é defeito. Ele é normal. Ser cego de um olho, não é ter defeito. Isso é uma infelicidade, que pode atingir qualquer pessoa, quanto mais um animal!…
O fazendeiro procurou controlar sua ira, no momento em que lhe veio à mente a imagem do seu pai, que cegara muito tempo antes de morrer. E o coração do austero fazendeiro fraquejou… Sua ira desapareceu, e ele permaneceu pensativo por alguns instantes.
Nessas alturas, o forasteiro já se preparava para devolver o dinheiro e levar o cavalo de volta.
Para sua surpresa, quase sem acreditar, ouviu o fazendeiro falar pausadamente, e com os olhos cheios de lágrimas:
- Você disse que quer vender o cavalo, para pagar o tratamento de sua esposa, que se encontra gravemente doente… Está bem… vou ficar com o cavalo. Vá em paz, amigo!

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