quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O QUE APRENDÍ NO LIXO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

O que aprendi no lixo



Um fim de tarde igual a outros que 

diariamente acontecem em natal;...



estou na avenida Afonso pena... em 

frente ao edifício esmeralda, dentro de 

um fusca... espero a mulher e as 

crianças para enfrentar a noite,alguns homens vestidos de palitó, ou de 

camisas esporte, já retornam do 

trabalho. 



e entram na garagem sobre pilotis do 



edifício. na entrada do qual estou 

estacionado.





A TARDE vai findando com aquele clima 

de tristeza, própria desta hora, e o ar de 

angustia que faz parte do começo da 

noite na capital...



ATRAZ DO MEUS ÓCULOS, vejo uma 


caixa de ferro sobre a calcada, com a 

inscrição:urbana, e de lado, um homem 



uma mulher.. os três em cima da 

calcada 

do prédio, que abriga uma classe media 

alta..que no final joga as coisa usadas e 

imprestaveis, no lixo.


A mulher e alta, despenteada, mal 

vestida, facies ligeiramente debiloide, 

porem nos seus olhos existe um certo ar 

de ganancia, e a tensão de quem esta 

prestes a ganhar um prémio.

o homem vestido de mescla,atitude 



psíquica pelagroide, com o ar de quem 

estava começando o dia de trabalho...

A tarde vai ficando mais escura e o 

homem pula dentro da caixa de lixo e a 

mulher se mantem na postura de quem 

vai receber algo, de quem esta 

esperando 

pelo companheiro...

neste instante me dou conta da cena 

que 

se passara no palco da vida, no bairro do 

Tirol...

agora, no meu fusca, se encontra eu e a 

dor e a ansiedade para ver o desenrrolar 

do espetaculo, ao ar livre, cujos actores 

não sabem que o estão sendo, não 

ensaiaram.

o enredo da peca foi determinado pela 

própria vida, pelas leis mães da 

vida:vestir, calcar, comer..

o homem se abaixa e ao se levantar, 

entrega a mulher umas latas de óleo de 

soja, secas, umas seis...a companheira 

recebe e exibe um ar que diz:serve...já e 

alguma coisa...

novamente o homem se abaixa e, ao 

levantar traz na mao uma sapatilhas 

vermelhas...

este objeto despertou na cara pálida da 

mulher, um ar de mais interesse... ela 


imediatamente as calcou...e deu ao 

corpo 

uma rodada narcisista, semelhante ao 

que faz as mocas ricas, provando 

vestidos em botiques de luxo.

A esta altura eu já queria que a minha 

família não chegasse logo, para não 

distrair a introspeccao, que o espetaculo 

estava me proporcionando

o homem se abaixa pela terceira vez...eu 

diria: foi a terceira queda do cristo 

natalense, no calvário do Tirol, na frente 

de poncio Pilatos, que estava a observar 

de dentro do carro...

o homem submerge com uma moldura 

antiga, sem a gravura do quadro, e 


entrega a mulher..


meus amigos, a face humilde e anemica 

da jovem senhora esbocou um ar de 

profunda ternura e contentamento; no 

seu olhar eu vi a alegria pura e simples, 

no seu estado de gema...

a mulher acolhendo a prenda, olhou o 

amante e falou: foi muito bom você ter 

encontrado esta moldura, vamos leva la 

para casa, pois la em casa, o RETRATO 

DA GENTE esta muito 

embolado...

NESTE momento eu tive 

vontade de chorar... vi cair a mascara 

que esconde o meu egoísmo e a minha 

ganancia,,, a eterna competição, o 

eterno 

desejo de querer mais, o ter mais...

me lembrei de Vinicius de morais, pelo 

motivo social e poético: eu vi um círio 

queimando numa catedral em ruínas... 

uma mulher onde faltava tudo, se 

preocupando em emoldurar o retrato do 

casal, para colocar na sua sala...

agora, as crianças já chegaram e eu já 

vou...cada vez mais,volta mais gente do 

trabalho, entram nas suas garagens e 

sobem   para os seus apartamentos, 

MUITOS DOS QUAIS NÃO POSSUEM 

UM RETRATO EMOLDURAD do casal , 

na sala de visita.


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